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Operação da PF busca identificar mais financiadores de atos golpistas em MS, GO e SC
Publicado em 20/06/2024 9:24 - Bruno Paes Manso (Jornal da USP), Pedro Peduzzi (Agência Brasil), Semana On, Ricardo Noblat (Metrópoles) – Edição Semana On
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Cena 1: alunos apanham da Polícia Militar durante sessão em que os deputados paulistas aprovaram o projeto de lei que permite a criação da escola cívico-militar em São Paulo. Em tempos normais, seriam imagens escandalosas, mas apenas os integrantes das bolhas progressistas parecem chocados. Muitos apoiam um projeto pedagógico militarizado, como se o aprendizado dependesse de disciplina e de obediência.
Cena 2: o governo de São Paulo sabota o bem-sucedido programa de câmeras em uniformes das PMs, que vinham reduzindo a letalidade da corporação. A decisão ocorre depois de duas operações policiais matarem 74 pessoas na Baixada Santista. A iniciativa do governo parece passar um recado claro: a violência fardada não deve ser contestada nem controlada por ser capaz de eliminar ou amedrontar os bandidos e assim produzir ordem e sujeição.
Não adianta acusar a imoralidade ou a disfuncionalidade do método, que na história recente vem contribuindo para fortalecer as facções e as milícias. Trinta e dois anos atrás, o massacre do Carandiru, o mais letal da história paulista, deixou 111 mortos. Em vez de intimidar o crime, a chacina estimulou reação e revolta. Foi a semente do Primeiro Comando da Capital (PCC), a facção criminal mais poderosa de São Paulo, criada no ano seguinte, com um discurso de união dos presos como resposta à covardia do Estado. No Rio, a letalidade da polícia, que sempre andou junto com a corrupção, originou as milícias.
Cena 3: lideranças da política, da economia e da sociedade civil passam a apontar o nome de Tarcísio de Freitas como representante da direita para disputar a eleição presidencial de 2026. Editorais de jornais tradicionais elogiam seus planos vazios de ajustes de gastos, como se uma alegada racionalidade econômica pudesse se sobrepor à barbárie das crenças políticas do governador forjadas no bolsonarismo. Nesse período, o governador publicou um decreto liberando as entidades religiosas da cobrança de ICMS sobre bens importados, desde que destinados à “finalidade essencial” das igrejas.
Armas, dinheiro, religião e poder. O projeto de futuro da extrema direita para o Brasil segue popular, mesmo sem a presença histriônica de Jair Bolsonaro. Com Tarcísio de Freitas, a lógica por trás desses planos fica mais clara, em resposta a um novo ciclo político autoritário que atinge não apenas o Brasil, mas diversos países do mundo.
Nesse cenário, o otimismo em torno do papel do Estado como condutor do desenvolvimento saiu do imaginário político. Alcançou seu auge no Pós-guerra, perdeu força nos anos 1980 e se fragilizou com a derrocada dos regimes socialistas. No Brasil, o papel do Estado na garantia dos direitos sociais e civis, em uma sociedade de mercado, seguiu como referência importante nas décadas de 1990 e 2000, tendo como inspiração as sociais-democracias europeias.
Essa crença forjou as diretrizes ideológicas dos partidos progressistas da Nova República. PT e PSDB se formaram depois da ditadura, a partir de nomes vindos dos movimentos sociais, sindicatos e universidades. Seus líderes apostavam que a retomada da democracia poderia criar mecanismos para que os pobres votassem em políticos que representassem seus interesses de classe, criando, quem sabe, uma sociedade menos desigual e mais justa. O liberalismo e a direita ficaram sem discurso, diante do tamanho do passivo social. Restava aos seus representantes se aliar ao governo da vez.
A defesa da violência policial, contudo, se fazia presente na desfaçatez e omissão dos governantes diante dos abusos das polícias. Era defendida de forma explícita apenas por políticos nanicos, como Bolsonaro, que tinham votos, mas não eram levados a sério e não disputavam cargos majoritários.
Esse otimismo com o papel do Estado e da política se esvaiu ao longo dos anos. O Estado não conseguiu produzir a justiça social almejada. Nas cidades, o valor da vida se revelou proporcional a quanto se ganha. Sem dinheiro, não era difícil perceber, não havia segurança, moradia, saúde, educação, higiene, e muito menos respeito. O mercado e a capacidade de ganhar dinheiro se consolidaram como a única solução viável para enfrentar a miséria. A luta se tornou mais individual do que coletiva.
Esse ceticismo abriu espaço para o fortalecimento da extrema direita, que cresceu depois da crise política e econômica acirrada pela Lava Jato. As redes sociais criaram as condições para a formação da tempestade perfeita. Suas bolhas algorítmicas popularizaram os discursos de ódio em defesa da guerra contra os inimigos da nação, fundamentais para a eleição de Bolsonaro. O desastre do bolsonarismo na pandemia e o desmonte das políticas públicas no Governo Federal não foram suficientes para reduzir os ânimos de seus apoiadores. Bolsonaro, contudo, é carta fora do baralho nas eleições de 2026.
Com Tarcísio de Freitas incensado, os contornos do projeto de futuro deste grupo ficaram mais evidentes. Riqueza e progresso devem ser garantidos pelo mercado. O Estado tem dois papéis principais. Primeiro, não atrapalhar a sanha empreendedora dos que estão focados na busca pelo lucro. De preferência, dar um empurrãozinho aos empresários aliados. Podem ser garimpeiros, grileiros, armamentistas, incorporadores da orla nas praias, os donos dos planos de saúde, líderes das igrejas, jogadores das bets, investidores do mercado financeiro, organizadores de pirâmides, entregadores de aplicativo. Em segundo lugar, cabe ao Estado armar suas polícias ou incentivar a formação de milícias para travar uma guerra em defesa da propriedade privada.
A religião tem um peso estratégico na legitimação dessa ideologia ultraliberal entre as massas, porque sacraliza a prosperidade e demoniza a luta social e o controle do mercado. O simbolismo sagrado ajuda a transformar a guerra dos neoliberais numa luta do bem contra o mal, uma suposta defesa da tradição da cultura judaico-cristã ocidental contra os comunistas e esquerdistas ateus.
Além disso, a religião ajuda a criar entre as massas a confiança na própria capacidade de ganhar dinheiro. Pobres e ricos dispostos a empreender, crentes na força do mercado, acabam se juntando do mesmo lado da guerra, que passa a transcender as diferenças entre as classes.
O problema é que esse sistema não se sustenta. Com o avanço das novas tecnologias e a crise da sociedade do emprego, o mercado vem se tornando mais restritivo. A riqueza se concentra nas mãos de poucos, criando uma pressão cada vez maior sobre as massas que ficam de fora. O protagonismo crescente dos militares é um dos sintomas desse quadro. Eles serão cada vez mais necessários para proteger os ricos em suas ilhas de prosperidade.
A popularidade dos homens fardados nas escolas também dialoga com esse fatalismo ultraliberal. Resta aos educadores formarem cidadãos disciplinados, obedientes, que aceitem fazer parte do jogo e ganhar o suficiente para respirar. Melhor esquecer o pensamento crítico, que repense a forma de viver no mundo, que domestique o mercado, que busque maneiras de distribuir a riqueza altamente concentrada entre poucos.
Diante desse Estado policial fragilizado, sem projeto de futuro, em que poder passa a ser sinônimo de dinheiro e fuzis, os grupos armados ganham cada vez mais protagonismo político. Nas principais cidades brasileiras, tiranias que controlam o cotidiano e impõem suas regras em benefício de seus negócios já fazem parte da realidade. Alguns grupos são financiados pelo bilionário mercado de drogas, altamente lucrativo por ser ilegal, com imensa capacidade de corromper agentes públicos. Já as milícias estão dentro do sistema, dada sua estreita ligação com a política.
Pode parecer novidade, mas é algo antigo e presente na história brasileira. Durante 350 anos de colonialismo, a manutenção e a reprodução da sociedade escravista misturavam dinheiro, violência armada e fé para defender os interesses de uma minoria contra a maioria da população. Os séculos passam, mas a lógica continua a mesma. Um poder que tenta se impor pela força, sem legitimidade para criar um mundo viável para a maioria dos brasileiros. O projeto de futuro da extrema direita se inspira nos piores traços de nosso passado.
Coração de Tarcísio de Freitas bate cada vez mais forte por Bolsonaro
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, estendeu a mão ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para salvá-lo da encrenca em que se meteu no caso do uso pelos policiais de câmeras acopladas à farda que filmam em tempo real todas as suas ações.
Ao contrário de outros estados, em São Paulo o policial militar poderá ligar e desligar a câmera quando quiser. A decisão de Tarcísio pegou muito mal junto à opinião pública. Está provado que o uso contínuo da câmera reduz o número de mortos inocentes e protege os bons policiais contra falsas acusações.
Barroso determinou que o governo de São Paulo siga as diretrizes do governo Lula para o uso das câmeras. O Ministério da Justiça deixou a cargo dos governos estaduais a definição do modelo de gravação a adotar, mas listou 16 situações em que o policial será obrigado a acionar a câmera para registrar a sua atuação.
Uma das situações, e certamente a mais abrangente: “No patrulhamento preventivo e ostensivo ou na execução de diligências de rotina em que ocorreram ou possam ocorrer prisões, atos de violência, lesões corporais ou morte”. Para os bolsonaristas, bandido bom é bandido morto e a palavra do policial merece fé.
Tarcísio elegeu-se governador de São Paulo como candidato de Bolsonaro, mas fazendo questão de não parecer tão bolsonarista assim. Uma vez empossado, tirou a máscara. No último sábado (8/6), em evento no Guarujá, perguntado se é bolsonarista, Tarcísio respondeu sem hesitar: “Eu sou bolsonarista, vou continuar sendo bolsonarista. Isso significa que eu sou conservador, sou liberal e acredito em um Brasil que vai ter economia de mercado”.
Sobre declarações e ações golpistas de Bolsonaro e dos seus aliados, disse: “Não vejo porque a gente está na atenção da Polícia Federal, porque essa corrente está na atenção da Polícia Federal”.
Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com a Unicef mostrou que os batalhões que incorporaram câmeras corporais tiveram redução de 76,2% na letalidade provocada por policiais militares em serviço entre 2019 e 2022, enquanto nos demais batalhões a queda foi de 33,3%.
Nos Estados Unidos, 79% dos policiais municipais atuam em departamentos de polícia que fazem uso das câmeras corporais, segundo estudo do Police Executive Research Forum. As câmeras se disseminaram também na Europa e com os mesmos resultados: a queda do número de mortes provocada por policiais em serviço.
Antigamente, diante de uma decisão de tribunal superior que a contrariava, a maioria das autoridades públicas saía com esta: “Decisão da Justiça não se discute, cumpre-se.” É o que poderia fazer Tarcísio, apertando a mão estendida por Barroso. Fará? A ver.
Operação da PF busca identificar mais financiadores de atos golpistas em MS, GO e SC
A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta quinta-feira (20), nova etapa da Operação Lesa Pátria, com o objetivo de identificar pessoas que “financiaram e fomentaram” os atos golpistas de 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes em Brasília foram invadidas e depredadas.
De acordo com a PF, a nova fase da operação cumpre 15 mandados de busca e apreensão e 12 de busca pessoal em Goiás (4), Mato Grosso do Sul (4) e Santa Catarina (19).
Os alvos são empresários de SC que atuaram tanto no financiamento dos atos em Brasília quanto no bloqueio de estradas.
Foi determinada a indisponibilidade de bens, ativos e valores dos investigados, uma vez que as estimativas dos danos causados ao patrimônio público podem chegar a R$ 40 milhões.
“Os fatos investigados constituem, em tese, crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido”, informou a PF.
STF recebe lista de foragidos do 8/1 encaminhada por governo Milei
A chanceler da Argentina, Diana Mondino, encaminhou ao governo brasileiro uma lista com fugitivos investigados ou condenados pelos ataques de 8 de Janeiro.
A lista contém mais de 60 pessoas, segundo o UOL apurou. Estima-se que a quantidade de foragidos seja maior porque muitos entraram ilegalmente no país vizinho. Cerca de dez pessoas já teriam deixado a Argentina. Segundo fontes ouvidas pelo jornal argentino Clarín, a lista teria 86 nomes.
A relação foi entregue na terça (18) ao governo brasileiro e chegou ontem (19) ao gabinete o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, relator dos processos criminais.
O governo Lula já manifestou que vai entrar com pedidos de extradição para repatriar os foragidos envolvidos nos ataques golpistas.
Na semana passada, o STF enviou um ofício ao governo Javier Milei com uma lista de 143 condenados e investigados do 8 de Janeiro que quebraram a tornozeleira e fugiram. A Justiça queria saber quais deles realmente estavam na Argentina.
A informação prestada pelo governo Milei é uma resposta a esse questionamento. A lista não se baseia nas pessoas que pediram refúgio à Conare (Comissão Nacional para os Refugiados).
A Polícia Federal estima que 180 investigados —parte deles já condenada— fugiram para países como Argentina, Uruguai e Paraguai ou mesmo para o interior do Brasil. As fugas foram facilitadas por falhas no sistema de Justiça brasileiro e no controle de fronteiras, como mostrou o UOL.
O UOL apurou que, dentre os militantes investigados que fugiram para a Argentina, haveria ao menos 78 com pedidos de refúgio na Conare (Comissão Nacional para os Refugiados) do governo argentino. O jornal Clarín fala em cerca de cem pedidos. A Conare não informa estatísticas, alegando proteção de dados dos solicitante de refúgio.
Após reportagem do UOL sobre a fuga de militantes bolsonaristas envolvidos nos atos do 8 de Janeiro, o ministro Alexandre de Moraes expediu mais de 200 ordens de prisões até o dia 6 deste mês, quando a Polícia Federal realizou uma operação.
Gostaria de saber os nomes e de quais cidades do MS são os golpistas do 8/1.. Se agradece.