Palavra do Editor
Publicado em 06/08/2014 12:00 -
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O voto que cometemos a cada eleição não é um indicador confiável da participação efetiva na política, mas, isso sim, apenas o exercício de um dever, posto que é obrigatório. A maior parte da população brasileira não incorpora a política institucionalizada. Para ela, política é “coisa de político” e, a ela, cabe apenas o ato de votar.
A consequência é o crescente descrédito em relação à política e aos políticos. No fim das contas, o que o eleitor espera é apenas que os políticos não atrapalhem sua vida. A política passa desapercebida de sua rotina, quase como parte do mundo da ficção, uma telenovela em que há capítulos mais emocionantes e outros mais xoxos. No fundo, ele não se sente pertencente aquele mundo. Os políticos estão em outro nível de existência.
Classificado como alienado, analfabeto político, este eleitor se encaixa perfeitamente nas fatias do conservadorismo, são a delícia dos políticos profissionais, tão dependentes do voto desqualificado.
O objetivo principal de um partido político é chegar ao poder, o que acaba significando a conquista do governo e de espaços dentro da máquina pública. É exatamente aí que a mula empaca.
Mas espere aí… Há uma diferença entre ser apolítico e anti-político (contra os políticos e a política partidária). Não participar da política institucional não significa não fazer política: a negação é também uma ação política.
É fato que o ser humano age por interesse. Somos cãezinhos a espera de uma recompensa. É exatamente a expectativa deste afago que gira as engrenagens da política partidária. Até mesmo aqueles militantes idealistas esperam alcançar algo, seja apenas o simples reconhecimento de que são timoneiros de uma nova ordem ou vantagens pecuniárias ainda que ralas.
De origem latina, a palavra interesse significa “estar entre”, “no meio”, “participar”. Nada mais inerente a um partido político, organizações cuja essência é exatamente a construção de mecanismos que viabilizem a conquista de interesses, e de um lugar entre os que têm acesso a determinados bens simbólicos e materiais inacessíveis à maioria dos representados e governados.
O objetivo principal de um partido político é chegar ao poder, o que acaba significando a conquista do governo e de espaços dentro da máquina pública. É exatamente aí que a mula empaca. Neste momento ocorre uma inversão na qual são as instituições do Estado que acabam por conquistar os partidos. Projetos e propostas caem por terra e o objetivo primal se reduz simplesmente à garantia dos cargos conquistados e, em consequência, na construção de uma estrutura que transfira estes espaços a membros do mesmo grupo nos governos seguintes.
É exatamente por isso que todos os partidos soam iguais. Os discursos pré-eleitorais e as ações pós-eleições não são diferentes para PT, PMDB, PSDB, PP ou seja lá que sigla for. A única forma de quebrar este paradigma obsceno é entender que política não se limita a partido. Ela se faz diariamente, em cada decisão que tomamos.
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