19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

O silêncio de Cunha

Publicado em 02/10/2015 12:00 -

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Um dia após virem à tona informações de quatro contas bancárias em seu nome na Suíça, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), continua negando o fato. Ele rebate atacando o governo e o PT, e garantindo que as denúncias divulgadas a seu respeito nos últimos dias são "seletivas".

Faz como em março, quando esteve espontaneamente na CPI da Petrobras e negou ter contas em outros países. "Não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu imposto de renda", disse na época.

Tergiversa ao dizer que "desconhece o teor dos fatos veiculados e não tecerá comentários sem ter acesso ao conteúdo real do que vem sendo divulgado". A mesma estratégia usada desde que a Procuradoria Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que acatasse denúncia contra o peemedebista por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em agosto.

É como se o alto do Olimpo onde as cabeças coroadas que regem o país se refastelam os isentasse de dar satisfações àqueles vermes que os observam atônitos, nós, o povo.

Nada mais justo que o direito à ampla defesa. No entanto, o presidente da Câmara abusa da lógica. Ora, uma das contas informadas pelo governo suíço às autoridades brasileiras tem como beneficiários o próprio Cunha e sua esposa, a jornalista Claudia Cordeio Cruz. Com as informações recebidas, a PGR pode investigar e processar Cunha por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Não se trata de boatos ou picuinhas.

Cunha cala diante da pergunta mais simples: afinal, tem ou não contas na Suíça?

É como se o alto do Olimpo onde as cabeças coroadas que regem o país se refastelam os isentasse de dar satisfações àqueles vermes que os observam atônitos, nós, o povo.

Portanto, Cunha se cala. E gargalha de todos nós gozando do mesmo prestígio que sempre teve com seus colegas parlamentares.

O silêncio de Eduardo Cunha, os tapinhas nas costas que recebe no Congresso, o apoio de seus pares representa a síntese do que se transformou a política brasileira: uma cloaca fétida.


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