19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

O Brasil não perdeu

Publicado em 11/07/2014 12:00 -

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A derrota da seleção brasileira nas semifinais da Copa do Mundo pelo elástico placar de 7 x 1 contra a Alemanha foi traumática. Nosso futebol terá que se recompor após esta tragédia e encontrar novos rumos que recuperem a mística que a camisa amarela sempre impôs a seus adversários. Apesar do choque, no entanto, há em certos nichos da sociedade brasileira uma sensação de histeria coletiva, como se a derrotada fosse a nação brasileira e não a seleção brasileira de futebol.

O depoimento do zagueiro David Luiz, logo após a partida no Mineirão aponta este equívoco que alguns alimentam ao elencarem o esporte como panaceia para os problemas do país. “Eu só queria poder dar alegria ao povo, à minha gente que sofre tanto. Infelizmente não conseguimos. Desculpa a todo mundo, desculpa a todos os brasileiros. Só queria ver meu povo sorrindo”, disse o jogador.

De fato, o que muda em nossas vidas após uma vitória ou uma derrota da seleção brasileira de futebol? Absolutamente nada.

É óbvio que a catarse proporcionada pela vitória em um esporte que é adorado pela grande maioria da população brasileira insuflaria, ainda que momentaneamente, autoestima e confiança a muitos. No entanto, não é papel do futebol ou de qualquer esporte resolver os problemas do país. Não é papel do futebol ou de qualquer esporte compensar os nossos problemas econômicos, políticos e sociais.

De fato, o que muda em nossas vidas após uma vitória ou uma derrota da seleção brasileira de futebol? Absolutamente nada. Nossos salários continuam os mesmos, nossos problemas também, continuaremos empregados nos mesmos empregos, acordando no mesmo horário, sonhando os mesmos objetivos, matando um leão todos os dias.

Atribuir ao esporte a função de redentor dos males sociais, de catalizador dos sonhos da nação serve apenas aos interesses dos mal intencionados.

O esporte deve ser encarado pelo que ele de fato oferece: entretenimento. É claro que ele emocionará, proporcionará aquele sentimento de unidade, nos fará chorar e sorrir. Que bom que é assim. No entanto, alçá-lo ao ápice do patriotismo ou à própria razão de ser é nivelar por baixo a amplitude da vida política e social de uma nação e de cada cidadão.


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