19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Novamente, a barbárie

Publicado em 13/11/2015 12:00 -

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O mundo despertou menor neste sábado, 14 de novembro. O terrorismo voltou a mostrar sua face em Paris deixando a sensação de que somos impotentes diante da barbárie, da loucura humana. As quase duas centenas de mortos desta sexta-feira 13 voltam a revelar toda a nossa insanidade, nossa incapacidade de ser humanos.

Em números, os mortos foram poucos se comparados aos tantos massacrados diariamente nos eternos conflitos que se espalham pelo Oriente Médio, resultado de disputas de hegemonia política e econômica promovidas pelas grandes potencias último século afora, mas também pelo fundamentalismo religioso. E, neste caso, não apenas o fundamentalismo islâmico, mas também o judaico, que aposta na obliteração de todo um povo, e cristão, que faz vistas grossas para isso esperando a confirmação de profecias mortas.

Apesar de poucos, quando comparados com as vítimas de outros crimes diariamente esquecidos pelo Ocidente, os mortos de Paris são uma multidão. Eles somos nós. Eles são a civilização ocidental em seu dilema mais profundo (a descoberta de novos modos de convivência que permitam a diversidade dos povos e a independência das nações), em seu desafio mais urgente (estabelecer defesas contra a barbárie do terror sem políticas de exclusão com base em raça, religião, etc).

Apesar de poucos, quando comparados com as vítimas de outros crimes diariamente esquecidos pelo Ocidente, os mortos de Paris são uma multidão. Eles somos nós. Eles são a civilização ocidental em seu dilema mais profundo.

É hora do mundo islâmico se posicionar duramente contra o fundamentalismo, sob pena de ser colocado no mesmo saco de gatos desta turba de fanáticos. Mas, é preciso também que todos apontem o dedo acusatório contra as potências ocidentais, para que estas assumam sua parcela de culpa, revejam sua aliança com a Arábia Saudita, patrocinadora wahabista dos muitos grupos que têm espalhado o terror pelo mundo, como o próprio Estado Islâmico (EI) – responsável pelos atentados de Paris.

O que está na origem do surgimento do Estado Islâmico não é – especificamente – a religião muçulmana, mas questões políticas relacionadas ao histórico ocidental colonialista, ao apoio dos EUA a regimes autocráticos no Oriente Médio. O EI tem origem na Al-Qaeda do Iraque (AQI). O grupo ficou enfraquecido e sem recursos depois que os Estados Unidos derrubaram o ditador Saddam Hussein e declararam seu partido ilegal em 2003, marginalizando os sunitas como um todo. Em 2011, a AQI recebeu apoio financeiro para entrar na guerra civil síria ao lado dos rebeldes – apoiados pelo Ocidente. No mesmo ano, os EUA retiraram suas tropas do Iraque, abrindo espaço para a criação grupo, que adotou o nome Estado Islâmico do Iraque e Levante em 2013.

Enquanto o poder do Petróleo falar mais alto que a razão, grupos extremistas continuarão seduzindo jovens para transformá-los em peças descartáveis de uma guerra que vai muito além da questão religiosa, cujos pilares estão solidamente fincados em bases econômicas sobre as quais estão construídos os alicerces do Ocidente.


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