19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Nem água, nem luz

Publicado em 22/01/2015 12:00 -

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“Araruama, cidade que seduz. De dia falta água e de noite falta luz.” Quem diria que a marchinha que nas décadas de 70 e 80 fazia graça com a conhecida cidade da Região dos Lagos, no Estado do Rio – que na época sofria com o abastecimento de água e luz devido ao aumento do fluxo de turistas no verão – pudesse ser aplicada hoje para quase todo o país.

Nesta semana que se vai as notícias foram preocupantes. O nível do Cantareira, principal sistema de abastecimento da região metropolitana de São Paulo, baixou novamente e opera com 5,5% de sua capacidade. O nível do reservatório de Paraibuna, o principal do sistema que abastece o Estado do Rio, atingiu o volume morto na última quarta-feira (21). O governo de Minas Gerais decidiu lançar um plano de redução de consumo de água em Belo Horizonte e região metropolitana após um diagnóstico apontar risco de racionamento em julho se nada for feito no curto prazo.

Em meio a uma das mais graves crises de abastecimento no Brasil, um relatório do governo federal mostra que 37% da água tratada para consumo é perdida antes de chegar às torneiras da população. Essa água potável é desperdiçada principalmente devido às falhas das tubulações. Além disso, também há perdas com fraudes e ligações clandestinas no caminho. O volume de água perdida somente na Grande São Paulo é semelhante à produção atual do sistema Cantareira, que abastece 6,5 milhões de pessoas.

Não adianta rezar. Crise hídrica e energética passa por investimentos do governo e conscientização da população.

Se a situação hídrica é grave, a energética não é nada boa. Na última terça (20), um dia depois do apagão que atingiu 11 Estados e o Distrito Federal, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) autorizou a “importação” de energia argentina. Foi a primeira vez que o governo Dilma Rousseff usou o acordo firmado em 2006 com o país vizinho, projetado para funcionar em situações de emergência. As últimas importações ocorreram em novembro e dezembro de 2010.

Até pouco tempo não parecia provável que o país voltasse a viver uma crise energética depois do trauma do racionamento de 2001, no governo FHC. Hoje o pensamento é outro. O consumo de energia bate recordes e a falta de planejamento e de investimentos do governo deságua na atual crise. Como se não bastasse, a escassez de chuvas também ameaça a operação das hidrelétricas.

Na última terça-feira (20), em coletiva à imprensa, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, sugeriu que a população começasse a rezar por ajuda divina. Instantes depois as luzes do auditório se apagaram deixando no escuro o ministro e os repórteres que o questionavam sobre o apagão.

Macabro.


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