19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Morte anunciada

Publicado em 14/03/2014 12:00 -

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Quando assumiu a prefeitura de Campo Grande (MS), quebrando uma hegemonia política que o PMDB mantinha há décadas na capital do Mato Grosso do Sul, o advogado e radialista Alcides Bernal (PP) tinha tudo para realizar um grande mandato. A população estava exaurida, cansada dos mesmos mandatários e clamava por novos ares. Dos 561.630 eleitores do município, Bernal conquistou 270.927. Uma vitória maiúscula.

Apoiado pelo PT e pelo PSDB – partidos que tomaram sua defesa no segundo turno das eleições – bastava a Bernal sentar com seus aliados e construir uma administração que acomodasse sua gula, mas que permitisse ao PP e ao próprio prefeito ter as rédeas da administração. Não seria uma tarefa fácil, mas não era impossível, de jeito algum.

Bastava ao prefeito cercar-se de uma equipe competente, compromissada na construção de um mandato, arregaçar as mangas e olhar o futuro. O que ocorreu, no entanto, foi o contrário. Embasbacado com o poder e com a façanha de ter destronado os peemedebistas, Bernal demorou a descer do palanque. Ao invés de governar, continuou em campanha, alimentando a oposição e esquecendo-se de administrar a cidade.

Embasbacado com o poder e com a façanha de ter destronado os peemedebistas, Bernal demorou a descer do palanque.

Pecou ao não construir um governo de transição. Pecou ao desdenhar dos vereadores. Pecou ao demorar a montar seu secretariado. Pecou no relacionamento com a imprensa, ao importar um secretário de comunicação que tratava jornalistas e veículos como pedintes e não como parceiros no desenvolvimento da cidade.

O golpe fatal foi a falta de comida e material de higiene nas creches. Afoito, cometeu o deslize de um contrato emergencial cujo vencedor foi uma empresa criada às pressas. Alijada da administração a Câmara Municipal não perdoou. O resultado: sua cassação, no último dia 12.

Culpar a mídia ou as “forças ocultas” da política como responsáveis pela cassação do ex-prefeito Alcides Bernal é um equívoco, reflexo da indigência política e do complexo de “coitadismo” que assola o país.

Culpar a mídia ou as forças ocultas da política como responsáveis pela cassação do ex-prefeito Alcides Bernal é um equívoco.

É claro que há uma mídia comprada, assim como há cidadãos comprados. A mídia não é uma instituição apartada da sociedade. Se há setores corruptos nela é porque há grandes parcelas de corrupção na própria sociedade.

Da mesma forma é óbvio que há grandes grupos políticos que se organizam para fazer valer seus interesses. Isso, no entanto, faz parte do jogo político inerente à democracia representativa. Ela, a democracia representativa, não é perfeita, mas suas regras estão postas e quem se dispõe a nela navegar deve estar ciente de seus percalços.

Bernal não caiu pela ação da mídia ou de grupos políticos, mas por não ter tido a mínima habilidade política de reunir a sua volta os muitos aliados e simpatizantes que o elegeram.


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