19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Médicos de araque

Publicado em 29/01/2015 12:00 -

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Dia destes, conversando com um amigo médico que relembrava seus dias de estudante e residente, ouvi algumas histórias arrepiantes. Uma tratava de um colega de classe que, até o último ano do curso de Medicina não sabia ao certo a diferença entre a saúde humana e a mecânica de automóveis. “Mais tarde, já fazendo residência, flagrei este cara inúmeras vezes receitando remédios que nada tinham a ver com os problemas dos pacientes”, confessou meu amigo médico achando graça da minha cara de espanto.

Não é à toa que mais da metade (55%) dos recém-formados em medicina no Estado de São Paulo reprovaram na terceira edição do exame que se tornou obrigatório para quem deseja atuar na área em território paulista.

Dos 2.891 recém-formados que participaram do "provão" do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) neste ano, só 45% acertaram mais de 60% do conteúdo da prova – critério mínimo definido pelo Conselho para atestar que o médico sabe ao menos a que veio. Entre as escolas médicas públicas, o índice de reprovação foi de 33%. Entre as particulares, a taxa foi quase o dobro, de 65,1%.

Diante de tal descalabro, devo confessar que tenho medo, muito medo de ir ao médico hoje em dia.

A prova foi composta por 120 questões de múltipla escolha, com cinco alternativas de respostas, e abrangeu as principais áreas da medicina, como clínica médica, pediatria, ginecologia e cirurgia médica.

As médias mais baixas foram obtidas em clínica médica (52%), o que demonstra que os futuros médicos continuam saindo das faculdades sem conhecimento suficiente para a solução de problemas frequentes no cotidiano, como atendimento inicial de vítima de acidente de carro ou de tiro, pneumonia, pancreatite ou pedra na vesícula.

Se em um grande centro como São Paulo o nível é este, imagine o que acontece nos grotões.

Diante de tal descalabro, devo confessar que tenho medo, muito medo de ir ao médico hoje em dia.


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