Palavra do Editor
Publicado em 27/06/2014 12:00 -
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Meu cachorro é uma lindeza. Calminho que só. No entanto ele tem um problema grave, não pode ver ninguém passando rente à grade que isola meu pequeno reino da selva das ruas que enlouquece. Se alguém passar com o ombro próximo a grade arrisca tomar uma dentada. Nino (meu cão) pula, rosna, arremete contra a grade e, pior, tenta mordiscar os transeuntes enfiando o focinho no vão das barras de ferro que me protegem.
Civilizado que sou imediatamente procurei no Google uma empresa que pudesse providenciar a instalação de uma tela na grade, protegendo os incautos da fúria do feroz Nino. Rapidamente o oráculo virtual me apresentou algumas opções. Optei pela que me pareceu mais “profissional”.
Pensei: “Vou acertar de cara”. Ledo engano. Do outro lado da linha, um atendente sonolento me fez repetir três ou quatro vezes minha necessidade. “Nós vendemos a tela sim, mas não instalamos”, disse. “Ok, mas vocês indicam um profissional que instale?”, perguntei. “Não, não temos ninguém para indicar. O senhor pode amarrar a tela na grade…”.
A empresa é “especializada” na venda de telas e não pode indicar ninguém que as instale? Será que ouvi direito? Eu posso amarrar a tela na grade?
Cada qual em sua devida proporção, os setores de nossa economia ainda não avançam em ritmo oriental por simples incompetência.
Resolvi ligar para outra empresa. Sitezinho bacana, cheio de efeitos digitais. Repito a mesma ladainha e ouço a atendente dizer que não, eles não podem mandar ninguém à minha residência para fazer um orçamento. Devo ir até a loja e escolher o tipo de tela que desejo. Ora bolas, mas quero que a empresa me dê algumas sugestões vendo o tipo de grade de minha casa, medindo o espaço, sugerindo soluções. “Não temos ninguém para atendimento externo, senhor…”. Tá, obrigado.
Já cabisbaixo, me sentindo um chato de galochas, fiz uma terceira tentativa. A empresa ficou de mandar uma pessoa. Marcamos para o dia seguinte, no período da manhã. Que horas? “Período da manhã, senhor…”.
Certo. Organizei meu dia para trabalhar em casa e aguardei. O período da manhã passou e nada. Liguei. “Houve um problema, nosso funcionário não pode ir”. Não poderiam ter ligado para avisar? Silêncio do outro lado da linha. Certo… Podemos marcar outro dia, sugeri.
Dois dias depois, “no período” da tarde, recebo a visita de um profissional que tira as medidas e diz que vai me ligar para passar o orçamento sugerindo dois ou três tipos de tela. Já se passaram sete dias, me esqueceram.
Somos uma grande nação. Em meio ao caos econômico que assola todo o mundo, o Brasil navega em relativa calmaria. Nossa economia cresce a passo de cágado, mas cresce. Estamos evoluindo aos pouquinhos. Apesar disso, somos um bando de amadores. Cada qual em sua devida proporção, os setores de nossa economia ainda não avançam em ritmo oriental por simples incompetência.
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