19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Golpe na credibilidade

Publicado em 26/08/2014 12:00 -

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A democracia no Brasil, se comparada a alguns de nossos vizinhos, é sadia. Temos um executivo federal muito poderoso – que administra um orçamento de R$ 2,3 trilhões e cria medidas provisórias com valor de Lei – mas que é refreado por um legislativo composto por 513 deputados e 81 senadores.

Tudo funcionaria bem, não fosse o fato de, em vez de um mandato, o Congresso receber carta branca de seus eleitores. Sim, deixamos nossos representantes fazerem o que quiserem com seus cargos. Passado um mês da eleição de 2010, por exemplo, um em cada cinco eleitores havia se esquecido em que parlamentar tinha votado, segundo pesquisa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O Estudo Eleitoral Brasileiro, feito pela Unicamp, mostrou que 70% dos eleitores esqueceram em 2010 em que deputado votaram quatro anos antes. Não é que o brasileiro não sinta que seus representantes o representem. Ele sequer sabe quem é o seu representante. E, sem isso, o congressista não tem controle. Faz o que quer.

Vamos às urnas a cada dois anos, mas no resto do tempo não participamos das escolhas feitas no bairro, na igreja, no trabalho e nos outros espaços que fazem parte da nossa vida.

Vamos às urnas a cada dois anos, mas no resto do tempo não participamos das escolhas feitas no bairro, na igreja, no trabalho e nos outros espaços que fazem parte da nossa vida. A política virou um departamento à parte, dissociado da sociedade, e o povo a vê como uma instância que não lhe diz respeito.

Em 2010, 91,3% do financiamento foi feito por empresas. Mas por que o setor privado doa tanto dinheiro para um político se reeleger? Desejo de fortalecer as instituições democráticas? Não exatamente. As empresas que mais doam são também as com maiores interesses no governo.

Dos R$ 4,2 bilhões totais, R$ 400 milhões vieram de 14 construtoras – sim, aquelas que mais tarde terão contratos para realizar obras públicas. Outros R$ 155 milhões vieram de dez bancos privados, que dependem da política econômica do governo. Ao que tudo indica, as empresas não doam – elas investem.

Qual o impacto disso tudo na política? O primeiro é um golpe na credibilidade.


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