Palavra do Editor
Publicado em 24/09/2014 12:00 -
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"Não volto mais para a sala de aula. Antes que a situação piore e a minha saúde fique mais abalada eu prefiro abandonar a profissão”. O depoimento é de uma professora de 39 anos, agredida a socos e pontapés por um aluno de 13 anos dentro da Escola Estadual Zulmira Campos, em Santos (SP).
Em Franco da Rocha (SP), uma professora quase ficou cega depois de ser agredida por um aluno. A confusão começou durante um apagão na escola. Os alunos cortaram a energia elétrica para fazer arrastões nas salas de aula. Maria de Fátima Costa dos Santos foi agredida por um aluno que arremessou uma lixeira no rosto dela. “Dá medo”, afirma.
Estes são apenas dois dos inúmeros de casos de agressões contra professores que ocorrem dentro das salas de aula de escolhas pública e, também, particulares do país. Casos como esses causam espanto e comoção social, estampam por algum tempo as manchetes policiais, mas logo caem no esquecimento. Outros, sequer chegam a conhecimento público: são abafados para preservar a boa imagem institucional das escolas e das secretarias de educação.
Apesar de não haver estatísticas nacionais sobre a violência contra professores nas escolas, alguns sindicatos estaduais já fizeram levantamentos que ajudam a conhecer melhor a situação.
Não são necessárias pesquisas para atestar que a falta de limites e de autoridade na relação entre pais e filhos está no cerne deste fenômeno.
Pesquisa realizada em 2007 pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apoesp) com 684 professores filiados mostrou que 93,3% dos casos de violência no ambiente escolar são praticados por alunos. Entre os entrevistados, 56% admitiram conhecer casos de pessoas armadas dentro da escola, e 77% tinham conhecimento de consumo de drogas no ambiente escolar.
Outra pesquisa, elaborada pelo Sindicato dos professores de Minas Gerais (Sinpro-Minas) ratificou o difícil cotidiano dos educadores: 20% dos entrevistados já presenciaram situações de tráfico de drogas na escola, 62% sofreram algum tipo de agressão verbal. O estudo mostrou que 39% dos professores viveram situações de intimidação e 35%, de ameaça.
Na tentativa de punir a agressividade dos alunos, o Projeto de Lei 267/11, em análise na Câmara federal, prevê punição para estudantes que desrespeitarem professores ou violem regras éticas e de comportamento de instituições de ensino.
Relator do projeto, o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), destacou que a violência contra professores do ensino médio e fundamental é uma das causas da falta de qualidade da educação brasileira. “Professores têm medo de sofrer violência ou represálias verbais e físicas, principalmente por parte de alunos”, afirmou.
Esta crise sem precedentes tem um motivo claro. Não são necessárias pesquisas para atestar que a falta de limites e de autoridade na relação entre pais e filhos está no cerne deste fenômeno. Estamos criando monstros.
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