19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Eles nos querem calados

Publicado em 23/07/2014 12:00 -

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Busca e apreensão de livros na residência de cidadãos. Um policial aborda um jovem querendo saber que livros ele tem na mochila. Discursos realizados em espaços públicos dispersados na base do cacete. Manifestantes presos sem que se siga o devido processo legal. Anos de chumbo? Não. Brasil, 2014.

Estamos diante de uma política de criminalização das manifestações populares e dos movimentos sociais que têm incomodado o poder político e econômico no Brasil desde as manifestações de junho de 2013.

As recentes prisões de manifestantes no Rio de Janeiro e em São Paulo e a estratégia de cerceamento do direito de expressar-se politicamente nas ruas não têm ocorrido sob os auspícios do Governo Federal, embora seja lamentável o silêncio do ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo – representante direto de um governo dirigido por uma ex-perseguida política – diante de tantas arbitrariedades.

Busca e apreensão de livros na residência de cidadãos. Discursos realizados em espaços públicos dispersados na base do cacete. Anos de chumbo? Não. Brasil, 2014.

A sanha persecutória tem sido orquestrada por setores das polícias, Judiciário e Ministério Público do Rio de Janeiro e de São Paulo — com provável envolvimento dos governos destes Estados – em uma estratégia baseada, como apontou o jurista Marcelo Cerqueira, um dos mais conhecidos defensores de presos políticos durante a ditadura pós-1964, nos métodos empregados no Código Penal fascista de Benito Mussolini, na Itália da década de 30. 

É preciso pontuar a ilegalidade de investigar indivíduos que atuam de forma organizada ou descentralizada com o objetivo de questionar o sistema vigente, sem a indicação de qualquer fato específico que constitua crime.

Quando damos ao Estado o direito de reprimir a multiplicidade de vozes que compõe o coro político de uma nação, estamos abrindo mão espontaneamente do nosso direito de opinar, de nos posicionarmos diante do outro. Este vácuo de cidadania é muito mais nocivo do que qualquer prejuízo material que uma manifestação popular possa causar.

Ao criminalizar as manifestações implodimos a cidadania, criamos mais escombros do que meia dúzia de vidraças quebradas.


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