19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Dotô fulano, dotô sicrano…

Publicado em 02/10/2014 12:00 -

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“Dotô fu­lano, dotô si­crano”. Doutor… O termo quase que infla as bo­che­chas de al­guns in­cautos nos es­cri­tó­rios de ad­vo­cacia, nas clí­nicas mé­dicas e até nos ga­bi­netes do poder onde bar­nabés ávidos por agradar in­tro­duzem o tí­tulo na frente do nome do che­fete da vez. Quem nunca se de­parou com esta an­tiga pa­lavra em si­tu­a­ções nas quais um in­ter­lo­cutor – muito in­flado e gar­boso – es­pe­rava com ela ser ad­je­ti­vado?

O Ma­nual de Re­dação e Es­tilo da Pre­si­dência da Re­pú­blica Bra­si­leira diz o se­guinte: "doutor não é forma de tra­ta­mento, e sim tí­tulo aca­dê­mico. Evite usá-lo in­dis­cri­mi­na­da­mente. Como regra geral, em­pregue-o apenas em co­mu­ni­ca­ções di­ri­gidas a pes­soas que te­nham tal grau por terem con­cluído curso uni­ver­si­tário de dou­to­rado. É cos­tume de­signar por doutor os ba­cha­réis, es­pe­ci­al­mente os ba­cha­réis em Di­reito e em Me­di­cina. Nos de­mais casos, o tra­ta­mento Se­nhor con­fere a de­se­jada for­ma­li­dade às co­mu­ni­ca­ções".

Os cos­tumes! Somos um país re­pleto deles, muitos pro­ve­ni­entes de nossa cul­tura co­lo­nial, na qual ter um olho era ser rei. De fato, ainda é assim nestas plagas. Existem muitas dis­cus­sões sobre como di­abos mé­dicos e ad­vo­gados pas­saram a ser clas­si­fi­cados como dou­tores. Um dos mitos que se pro­pagam é de que o tí­tulo teria sido con­fe­rido aos ad­vo­gados por meio de atos nor­ma tivos.

Os cos­tumes! Somos um país re­pleto deles, muitos pro­ve­ni­entes de nossa cul­tura co­lo­nial, na qual ter um olho era ser rei.

O pri­meiro diz res­peito a um al­vará, bai­xado por Dona Maria, a Pia que dava o tí­tulo de Doutor aos ad­vo­gados por­tu­gueses, em­bora não haja re­gistro his­tó­rico da exis­tência desse al­vará. Outro diz que o tí­tulo teria sido dado aos ad­vo­gados por meio de um de­creto de Dom Pedro I, na lei de cri­ação dos cursos ju­rí­dicos no Brasil. Lendas…

Entre os mitos da me­di­cina diz-se que o termo “doutor” co­meçou a ser ado­tado para os mé­dicos por uma adap­tação da pa­lavra “doctor” do in­glês, “dot­tore” do ita­liano, “doc­teur” do francês, “doktor” do alemão, que sig­ni­fica nas res­pec­tivas lín­guas “mé­dico”. 

Era comum – no sé­culo 19 – as fa­mí­lias mais ricas en­vi­arem seus fi­lhos para es­tudar em fa­cul­dades re­no­madas no ex­te­rior, já que na época existia poucas fa­cul­dades de Me­di­cina no Brasil. No re­torno, os mé­dicos tra­ziam con­sigo a pa­lavra que to­mavam como re­fe­rência. A po­pu­lação de­sin­for­mada, re­la­ci­o­nava as pa­la­vras es­tran­geiras com o nosso “doutor”, que tem a origem eti­mo­ló­gica nas in­va­sões indo-eu­ro­péias, de onde surgiu a raiz dok-, da qual provém a pa­lavra la­tina do­cere, que por sua vez de­rivou em doc­toris, que sig­ni­fica “Mestre, O que en­sina, Aquele que en­tende”.

Posto de lado os mitos e pu­xa­sa­quismos, vamos aos fatos: doutor é apenas quem fez Dou­to­rado. E isso vale para ad­vo­gados, mé­dicos, den­tistas, po­lí­ticos, che­fetes, etc, etc. Como bem disse o Dr. Marcos Antônio Ri­beiro Tura (este sim, doutor): “Os pro­fis­si­o­nais, sejam quais forem, têm de ser res­pei­tados pelo que fazem de bom e não ar­rogar para si tra­ta­mento ao qual não façam jus. Isso vale para todos.”.


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