Palavra do Editor
Publicado em 02/10/2014 12:00 -
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“Dotô fulano, dotô sicrano”. Doutor… O termo quase que infla as bochechas de alguns incautos nos escritórios de advocacia, nas clínicas médicas e até nos gabinetes do poder onde barnabés ávidos por agradar introduzem o título na frente do nome do chefete da vez. Quem nunca se deparou com esta antiga palavra em situações nas quais um interlocutor – muito inflado e garboso – esperava com ela ser adjetivado?
O Manual de Redação e Estilo da Presidência da República Brasileira diz o seguinte: "doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Evite usá-lo indiscriminadamente. Como regra geral, empregue-o apenas em comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem concluído curso universitário de doutorado. É costume designar por doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor confere a desejada formalidade às comunicações".
Os costumes! Somos um país repleto deles, muitos provenientes de nossa cultura colonial, na qual ter um olho era ser rei. De fato, ainda é assim nestas plagas. Existem muitas discussões sobre como diabos médicos e advogados passaram a ser classificados como doutores. Um dos mitos que se propagam é de que o título teria sido conferido aos advogados por meio de atos norma tivos.
Os costumes! Somos um país repleto deles, muitos provenientes de nossa cultura colonial, na qual ter um olho era ser rei.
O primeiro diz respeito a um alvará, baixado por Dona Maria, a Pia que dava o título de Doutor aos advogados portugueses, embora não haja registro histórico da existência desse alvará. Outro diz que o título teria sido dado aos advogados por meio de um decreto de Dom Pedro I, na lei de criação dos cursos jurídicos no Brasil. Lendas…
Entre os mitos da medicina diz-se que o termo “doutor” começou a ser adotado para os médicos por uma adaptação da palavra “doctor” do inglês, “dottore” do italiano, “docteur” do francês, “doktor” do alemão, que significa nas respectivas línguas “médico”.
Era comum – no século 19 – as famílias mais ricas enviarem seus filhos para estudar em faculdades renomadas no exterior, já que na época existia poucas faculdades de Medicina no Brasil. No retorno, os médicos traziam consigo a palavra que tomavam como referência. A população desinformada, relacionava as palavras estrangeiras com o nosso “doutor”, que tem a origem etimológica nas invasões indo-européias, de onde surgiu a raiz dok-, da qual provém a palavra latina docere, que por sua vez derivou em doctoris, que significa “Mestre, O que ensina, Aquele que entende”.
Posto de lado os mitos e puxasaquismos, vamos aos fatos: doutor é apenas quem fez Doutorado. E isso vale para advogados, médicos, dentistas, políticos, chefetes, etc, etc. Como bem disse o Dr. Marcos Antônio Ribeiro Tura (este sim, doutor): “Os profissionais, sejam quais forem, têm de ser respeitados pelo que fazem de bom e não arrogar para si tratamento ao qual não façam jus. Isso vale para todos.”.
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