19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Brincadeira sem graça

Publicado em 12/12/2014 12:00 -

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A esta hora do campeonato todo o Brasil já cansou de debater o desarranjo verbal do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que no último dia 9, em pronunciamento no Congresso, e no último dia 10, em entrevista ao jornal Zero Hora, afirmou e reafirmou que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) por ela “não merecer”.

O tema não permite o silêncio e, sob o risco de repetir o que já foi dito, darei minha contribuição ao debate.

Segundo Bolsonaro, Maria do Rosário não mereceria ser estuprada por ser “muito ruim”, “muito feia”, por não “fazer o seu gênero”.

Deixando de lado os aspectos políticos que deram início a verborragia do deputado progressista (?), o fato é que sua linha de raciocínio ainda domina a mentalidade de parte dos homens e mulheres deste país. Há mulheres que merecem ser estupradas e outras não. Quais merecem? Quais não?

Segundo Bolsonaro, Maria do Rosária não mereceria ser estuprada por ser ‘muito ruim’, ‘muito feia’, por não ‘fazer o seu gênero’.

Ser ou não atraente tem alguma influência na ocorrência deste crime? Certa vez, um humorista brasileiro afirmou que “mulher feia deveria agradecer ao estuprador”. Como Bolsonaro, o “artista” parecia não compreender a gravidade do crime com o qual tentava fazer graça.

Em ambos os casos a questão não é se o quer foi dito é ou não “politicamente correto”. Trata-se, isso sim, de incitações ao crime. Não deve haver relativizações em relação à violência do estupro. Já se foi à época em que este crime era agravado ou não diante da “honestidade” e da “virgindade” da vítima.

Não se pode admitir que, ainda hoje, separemos as mulheres entre as que podem ou não ser consideradas seres humanos dignos de respeito levando em conta a roupa que vestem, o credo que professam, ou a ideologia que abraçam.

Recentemente, o 8º Anuário de Segurança Pública divulgou que ocorrem mais de 50 mil estupros no Brasil todos os anos.

É um número assustador, especialmente diante da quantidade de ocorrências não registradas.

É um número engordado pala noção errônea de que algumas mulheres não merecem ser tratadas como gente.

É um número que cresce toda vez que achamos graça dos Bolsonaros da vida.


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