19/05/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Até quando?

Publicado em 05/02/2015 12:00 -

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O Brasil quebrou um triste recorde no ano passado: teve o maior número de pessoas mortas em um ano, segundo dados do Mapa da Violência 2014. Ao todo foram 56.337 mortes, o maior número desde 1980.

Com mais de 1,09 milhão de homicídios entre 1980 e 2014, o Brasil tem uma média anual de mortes violentas superior à de diversos conflitos armados internacionais.

Calculando a média anual de homicídios do país em 30 anos, o pesquisador Julio Jacobo Waisefisz chegou ao espantoso número de 36,3 mil mortos no ano – o que, em números absolutos, é superior à média anual de conflitos como o da Chechênia (25 mil), entre 1994 e 1996, e da guerra civil de Angola (1975-2002), com 20,3 mil mortos ao ano. A média também é superior as 13 mil mortes por ano registradas na Guerra do Iraque desde 2003.

Via de regra, esta barbaridade atinge mais fortemente a juventude, como mostra a nossa reportagem de capa desta edição.

Se os números são apavorantes, mais tétrica é a inércia do brasileiro frente a este verdadeiro genocídio.

O Relatório Alternativo sobre os Direitos da Criança, apresentado esta semana ao Comitê sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, apontou o encarceramento e o extermínio de jovens como violações frequentes no Brasil. Elaborado pela Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced – Seção DCI Brasil), o monitoramento mostra que a taxa de homicídio entre a população de até 19 anos aumentou 194,2%, entre 1980 e 2012. Antes, morriam 19,6 jovens a cada grupo de 1.000, proporção que passou para 57,6 ao longo das três últimas décadas.

A 5ª edição do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), estudo apresentado no último dia 28 com objetivo de permitir o monitoramento sistêmico da incidência de homicídios entre a população jovem, reforça a preocupação reinante.

O IHA, com base no ano de 2012, estima que mais de 42 mil adolescentes, de 12 a 18 anos, poderão ser vítimas de homicídio nos municípios brasileiros de mais de 100 mil habitantes entre 2013 e 2019. Isso significa que, para cada grupo de mil pessoas com 12 anos completos em 2012, 3,32 correm o risco de serem assassinadas antes de atingirem os 19 anos de idade. O número equivale a 42 mil adolescentes com faixa etária entre 12 e 18 anos.

Se os números são apavorantes, mais tétrica é a inércia do brasileiro frente a este verdadeiro genocídio. Estamos – como diz a canção de João Bosco e Aldir Blanc – “dormindo de olhos abertos à sombra da alegoria dos faraós embalsamados”.

Até quando?


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