07/07/2024 - Edição 550

Mundo

ONU: 80% da população de Gaza está desalojada

Novos ataques de Israel levam milhares de palestinos a fugir de Rafah

Publicado em 04/07/2024 2:50 - DW, Agência Brasil - Edição Semana On

Divulgação Al Jazeera

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A coordenadora da ajuda humanitária da ONU na Faixa de Gaza, Sigrid Kaag, afirmou que há 1,9 milhão de pessoas desalojadas no território palestino, o que corresponde a 80% da população.

Kaag disse ao Conselho de Segurança da ONU que “palestinos civis em Gaza foram jogados em um abismo de sofrimento; seus lares foram despedaçados e suas vidas viradas do avesso”. “Mais de um milhão de pessoas foram mais uma vez deslocadas, desesperadamente em busca de abrigo e segurança, sendo que 1,9 milhão de estão agora deslocadas ao longo de Gaza.”

“Estou profundamente preocupada com os relatos de novas ordens de evacuação na área de Khan Yunis”, afirmou, se referindo à cidade no sul de Gaza, próxima a Rafah, onde as forças israelenses realizam operações contra militantes do grupo extremista Hamas em meio à população civil e aos refugiados de outras partes da Faixa de Gaza, que buscavam abrigo na região, próxima à fronteira com o Egito.

A ONU estima que até 250 mil pessoas estejam sendo afetadas pela nova ordem das Forças de Defesa Israelenses (IDF) para que a população deixe partes de Khan Yunis e de Rafah.

“Turbilhão de miséria humana”

“A guerra não apenas criou a mais profunda das crises humanitárias, mas desencadeou um turbilhão de miséria humana”, disse Kaag. Ela criticou os limites impostos ao acesso de ajuda humanitária e ressaltou a necessidade da reabertura dos postos de fronteira entre Gaza e o Egito. A holandesa pediu que a comunidade internacional faça mais para financiar os esforços das entidades que prestam ajuda à população.

O porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou nesta terça-feira que as “ordens de evacuação de uma área de 117 quilômetros quadrados entre Khan Yunis e Rafah afetam um terço do território da Faixa de Gaza, sendo a maior ordem desse tipo desde outubro do ano passado.

“Uma evacuação em escala tão massiva irá apenas aumentar o sofrimento dos civis”, afirmou o porta-voz Stephane Dujarric.

Os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023 – que desencadearam a ofensiva israelense em Gaza – resultaram em cerca de 1.200 mortes, além do sequestro de 251 pessoas; das quais 116 ainda estão em Gaza, incluindo 42 que, segundo as IDF, estariam mortas.

A ofensiva israelense no enclave matou quase 38 mil palestinos, na maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.

Novos ataques

A cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, foi novamente bombardeada por Israel na madrugada de ontem (3). Milhares de palestinos buscam abrigo após uma ordem de evacuação das autoridades. Nos últimos dias, tanques israelenses avançaram por vários distritos no centro de Rafah, seguindo para o oeste e norte da cidade. Pelo menos 12 pessoas morreram nos ataques noturnos, segundo autoridades de saúde locais.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou há mais de uma semana que a fase “intensa” da guerra está próxima do fim, mas reafirmou nesta terça-feira que o conflito continuará até que seus objetivos sejam alcançados, incluindo a “destruição do Hamas e a libertação de todos os reféns” sequestrados em 7 de outubro. O chefe do Estado-Maior, Herzi Halevi, afirmou que se trata de uma “longa campanha”.

No sul da Faixa de Gaza, milhares de famílias estão fugindo de Rafah e Khan Younis desde segunda-feira, buscando abrigo, água e alimentos em um território devastado por quase nove meses de guerra. Segundo a ONU, cerca de 250 mil pessoas serão afetadas pela ordem de evacuação dada na segunda-feira. Com temperaturas próximas dos 30 graus, os deslocados fogem a pé ou em veículos sobrecarregados.

A evacuação envolve uma área de 117 quilômetros quadrados, um terço da Faixa de Gaza, sendo a maior desde o início da ofensiva em outubro, alertou o Gabinete das Nações Unidas para Assuntos Humanitários. O Hospital Europeu de Gaza, último em funcionamento na área, foi também evacuado, abrigando tanto famílias deslocadas quanto pacientes.

Ali Abu Ismehan, com as duas pernas quebradas após um ataque israelense, relatou à Reuters: “Disseram-nos para evacuar o Hospital Europeu. Viemos para o Hospital Nasser, mas estava cheio. Estou na rua, esperando que me arranjem um lugar dentro (do hospital)”. Em Khan Younis, a falta de abrigos e tendas levou muitas famílias a dormirem na estrada.

Deir Al-Balah está repleta de centenas de milhares de palestinos forçados a fugir de suas casas em outras áreas de Gaza. Moradores se queixam da escassez de água potável e dos preços inflacionados dos alimentos básicos. “Não há água potável para beber. Somos obrigados a comprar água suja ou impura a preço elevado”, contou à agência Reuters um morador de 47 anos, pai de cinco filhos. “A maioria dos deslocados sofre de dores abdominais e doenças devido à água, à falta de comida decente e à poluição, pois muitos vivem perto de esgotos”, acrescentou.

Desde o início da ofensiva em 7 de outubro, cerca de 38 mil pessoas morreram, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.


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