06/07/2024 - Edição 550

Mato Grosso do Sul

Forças Armadas detalham estrutura designada pela União para apoiar combate aos incêndios no Pantanal

Região poderá ter crise hídrica histórica em 2024, aponta estudo

Publicado em 03/07/2024 2:34 - Semana On, Agência Brasil – Edição Semana On

Divulgação Marcelo Camargo - Abr

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Designadas pelo Governo Federal para reforçar os trabalhos de combate aos incêndios florestais no Pantanal, as Forças Armadas apresentaram ao Governo de Mato Grosso do Sul todo seu aparato de infraestrutura disponível para integrar os esforços já realizados no bioma – o reforço inclui aeronave de grande porte e estrutura logística.

Realizada na segunda-feira (1º), o detalhamento do Comando Operacional Conjunto Pantanal II, comandado pelo general Luiz Fernando Estorrilho Baganha, do Exército, serviu como um alinhamento de ações a serem realizadas pelas Forças Armadas em conjunto com as forças estaduais e federais de proteção ambiental.

Na reunião foi destacada a portaria do gabinete do Ministério da Defesa que designa Baganha para exercer a função de comandante, atuando no “emprego temporário e episódico de meios em atividades de apoio logístico às ações de combate aos incêndios florestais dos municípios dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em estado de emergência ambiental”.

Também foi apresentado o apoio solicitado às Forças Armadas (Exército e Marinha), com quatro antenas satelitais de internet (duas em Corumbá e duas em Cáceres-MT), quatro embarcações para transporte de equipes e combatentes em Corumbá, cinco embarcações para transporte de equipes e combatentes e uma para transporte de equipamentos em Porto Conceição.

Será realizada, ainda, a montagem de duas estruturas completas (alimentação, descanso, banho, banheiro, energia, água potável) para suporte de 100 combatentes, por 60 dias, sendo uma na antiga base do Ibama na rodovia Transpantaneira e uma na região de Corumbá, com possibilidade de prorrogação e remanejamento de local.

Além disso, dever fornecido apoio de Navio de Patrulha (acomodações, apoio logístico a enfermaria) no Porto Conceição e cerca de 240 horas-vôo de oito aeronaves do tipo UH15, UH12, HM1 Pantera, HM3 Cougar, H36 Caracal, KC390 e Caravan para as ações de combate aos incêndios florestais.

“Foi um alinhamento geral para que essas operações aconteçam de forma harmônica e otimizem toda a infraestrutura logística disponibilizada pelo Governo Gederal, por meio das Forças Armadas, para as operações em nosso Estado”, comenta o secretário Jaime Verruck, da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).

Além do titular da Semadesc, participaram o assessor Bombeiro Militar da Semadesc, tenente-coronel Leonardo Rodrigues Congro, que preside o Comitê do Fogo de MS, o diretor-presidente do Imasul, André Borges, além de representantes do Ibama, da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros e da PMA (Polícia Militar Ambiental).

De acordo com o Comando Operacional Conjunto, a partir das Organizações Militares e Pelotões Especiais de Fronteira, o Exército poderá apoiar o combate ao incêndio com o desdobramento de novas bases, apoio de transporte aéreo, terrestre e fluvial, inteligência, comunicações e apoio de saúde.

O apoio deverá ser solicitado a partir do demandante, via ofício, WhatsApp ou via Google Forms, preferenciamente no dia anterior para o Comando Operacional Conjunto Pantanal II, coordenação local e mediante formulário próprio, no caso de pedido de apoio aéreo.

O comando irá definir a melhor forma de apoiar e por meio de qual das três Forças Armadas, informar à Força a missão a ser cumprida e qual agência solicitou, com os contatos para a coordenação local, informar à agência demandante quem irá cumprir a missão de apoio e os contatos para a coordenação local.

A força de combate demandada deverá informar o ‘pronto’ da missão de apoio ao Comando Operacional Conjunto, que informa o ‘pronto’ do apoio solicitado à agência solicitante.

Pantanal poderá ter crise hídrica histórica em 2024, aponta estudo

O Pantanal enfrenta desde 2019 o período mais seco das últimas quatro décadas e a tendência é que 2024 tenha a pior crise hídrica já observada no bioma, de acordo com um estudo inédito lançado nesta quarta-feira (3). Os resultados apontam que, nos primeiros quatro meses do ano, quando deveria ocorrer o ápice das inundações, a média de área coberta por água foi menor do que a do período de seca do ano passado.

O estudo foi encomendado pelo WWF-Brasil e realizado pela empresa especializada ArcPlan, com financiamento do WWF-Japão. O diferencial em relação a outras análises baseadas em dados de satélite é o uso de dados do satélite Planet.

“Graças à alta sensibilidade do sensor do satélite Planet, pudemos mapear a área que é coberta pela água quando os rios transbordam. Ao analisar os dados, observamos que o pulso de cheias não aconteceu em 2024. Mesmo nos meses em que é esperado esse transbordamento, tão importante para a manutenção do sistema pantaneiro, ele não ocorreu”, ressalta Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil que é também uma das autoras do estudo.

“De forma geral, considera-se que há uma seca quando o nível do Rio Paraguai está abaixo de 4 metros. Em 2024, essa medida não passou de 1 metro. O nível do Rio Paraguai nos cinco primeiros meses deste ano esteve, em média, 68% abaixo da média esperada para o período”, afirma Helga. “O que nos preocupa é que, de agora em diante, o Pantanal tende a secar ainda mais até outubro. Nesse cenário, é preciso reforçar todos os alertas para a necessidade urgente de medidas de prevenção e adaptação à seca e para a possibilidade de grandes incêndios.”

Na Bacia do Alto Rio Paraguai, onde se situa o Pantanal, a estação chuvosa ocorre entre os meses de outubro e abril, e a estação seca, entre maio e setembro. De acordo com o estudo, entre janeiro e abril de 2024, a média da área coberta por água foi de 400 mil hectares, em pleno período de cheias, abaixo da média de 440 mil hectares registrada na estação seca de 2023.

De acordo com os autores do estudo, os resultados apontam uma realidade preocupante: o Pantanal está cada vez mais seco, o que o torna mais vulnerável, aumentando as ameaças à sua biodiversidade, aos seus recursos naturais e ao modo de vida da população pantaneira. A sucessão de anos com poucas cheias e secas extremas poderá mudar permanentemente o ecossistema do Pantanal, com consequências drásticas para a riqueza e a abundância de espécies de fauna e flora, com grandes impactos também na economia local, que depende da navegabilidade dos rios e da diversidade de fauna.

“O Pantanal é uma das áreas úmidas mais biodiversas do mundo ainda preservadas. É um patrimônio que precisamos conservar, por sua importância para o modo de vida das pessoas e para a manutenção da biodiversidade”, ressalta Helga.

Além dos eventos climáticos que agravam a seca, a redução da disponibilidade de água no Pantanal tem relação com ações humanas que degradam o bioma, como a construção de barragens e estradas, o desmatamento e as queimadas, explica Helga.

De acordo com a especialista em conservação do WWF-Brasil, diversos estudos já indicam que o acúmulo desses processos degradação, acentuados pelas mudanças climáticas, pode levar o Pantanal a se aproximar de um ponto de não retorno – isto é, perder sua capacidade de recuperação natural, com redução abrupta de espécies a partir de um certo percentual de destruição.

Outra preocupação é que as sucessivas secas extremas e as queimadas por elas potencializadas afetam a qualidade da água devido à entrada de cinzas no sistema hídrico, causando mortalidade de peixes e retirando o acesso à água das comunidades. “É preciso agir de forma urgente e mapear onde estão as populações tradicionais e pequenas comunidades que ficam vulneráveis à seca e à degradação da qualidade da água”, diz ela.

A nota técnica traz uma série de recomendações como mapear as ameaças que causam maiores impactos aos corpos hídricos do Pantanal, considerando principalmente a dinâmica na região de cabeceiras; fortalecer e ampliar políticas públicas para frear o desmatamento; restaurar áreas de Proteção Permanente (APPs) nas cabeceiras, a fim de melhorar a infiltração da água e diminuir a erosão do solo e o assoreamento dos rios, aumentando a qualidade e a quantidade de água tanto no planalto quanto na planície, e apoiar a valorização de comunidades, de proprietários e do setor produtivo que desenvolvem boas práticas e dão escala a ações produtivas sustentáveis.


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