02/11/2024 - Edição 550

Ecologia

Vida selvagem diminui 73% em 50 anos, diz relatório da WWF

Relatório do Fundo Mundial para a Natureza mostra declínio preocupante de espécies e faz alerta sobre situação na Amazônia, que está prestes a alcançar ponto de inflexão

Publicado em 10/10/2024 6:09 - DW

Divulgação Foto: Fernando Trujillo/Omacha/REUTERS

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A população de vertebrados diminuiu 73% nos últimos 50 anos, indica um relatório divulgado nesta quinta-feira (10/10) pela organização ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Em algumas áreas de alta biodiversidade, como em regiões da América Latina e Caribe, essa queda foi de quase 95%.

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“O quadro que estamos pintando é incrivelmente preocupante”, afirmou a diretora-executiva do WWF, Kirsten Schuijt. No entanto, ela observou que um ponto sem volta ainda não foi ultrapassado e pediu um “enorme esforço coletivo” nos próximos cinco anos para o enfrentamento das crises climática e da natureza.

O relatório monitorou cerca de 35 mil populações selvagens de 5.495 espécies de anfíbios, aves, peixes, mamíferos e répteis entre 1970 e 2020. O estudo mostra que as populações de espécies de água doce sofreram os maiores declínios, com uma redução de 85%, seguidas das espécies terrestres (69%) e marinhas (56%).

Entre os exemplos de espécies afetadas estão a tartaruga-de-pente – que somente na Ilha Milman, na Grande Barreira de Corais australiana, perdeu 57% das fêmeas que nidificavam entre 1990 e 2018 –, e o boto tucuxi – cuja população diminui 75% entre 1994 e 2016 na reserva Mamirauá, localizada a cerca de 600 quilômetros a oeste de Manaus.

O relatório indica também que as principais ameaças à vida selvagem são a degradação e a perda de habitat, especialmente devido ao sistema alimentar, seguidas pela superexploração, espécies invasoras e doenças, e, por fim, mudanças climáticas e poluição.

Proteção da Amazônia é crucial

O relatório mostra uma perspectiva sombria com “um sistema em perigo” à medida em que o mundo se aproxima de “de pontos de inflexão perigosos e irreversíveis”, impulsionados pela perda da natureza e mudanças climáticas. O texto destaca o declínio da Floresta Amazônia e a morte massiva de corais, cujos desaparecimentos “teriam consequências muito além de sua volta e afetariam a segurança alimentar e os recursos que sustentam as pessoas”.

“Não é apenas sobre vida selvagem, mas sim sobre ecossistemas essenciais que sustentam a vida humana”, destaca o diretor de conservação do WWF, Daudi Sumba. “As mudanças podem ser irreversíveis com consequências devastadoras para a humanidade”.

Sumba lembrou ainda que o desmatamento da Amazônia pode transformar o ecossistema em uma fonte de carbono. O relatório cita ainda os incêndios que atingiram o bioma em agosto e alerta que a floresta está perto de seu ponto de inflexão, que pode transformá-la numa savana.

Caça ilegal na África

O relatório aponta fortes evidências de que a caça ilegal para alimentar o comércio de marfim, no Gabão e em Camarões, coloca em perigo crítico a população de elefantes da floresta do Parque nacional em Minkébé. O declínio drástico já atingiu as famílias de elefantes da floresta, aniquilando metade da espécie.

Na Antártida, “o declínio nas colônias de pinguins-barbicha pode estar ligado ao degelo das calotas polares e à escassez de krill (pequenos crustáceos), razões que, por sua vez, resultam das alterações climáticas e do aumento da pesca desse mesmo krill”, diz o documento.

As condições mais quentes, associadas a níveis mais baixos de cobertura de gelo marinho, resultam em menos krill, sendo esses crustáceos (semelhantes aos camarões) a principal fonte de alimento dos pinguins. Essas comunidades acabam por gastar mais tempo à procura de comida, “o que pode aumentar o risco de falha reprodutiva”.

Mike Barrett lembra que não se deve ficar triste apenas pela perda da natureza. E avisa: “Estejam cientes de que esta é agora uma ameaça fundamental à humanidade e realmente precisamos fazer alguma coisa e tem de ser já”.

“Não é exagero dizer que o que acontecer nos próximos cinco anos vai determinar o futuro da vida na Terra”, alerta a WWF.

Boas notícias

Apesar da situação global, o relatório apresenta algumas boas notícias, como a estabilização ou aumento de algumas espécies graças aos esforços de conservação. Entre os exemplos citados estão o retorno de populações de bisões europeus na Europa Central e o aumento de 3% no número de gorilas-das-montanhas nas Montanhas Virunga na África Central.

O WWF lembra que foram estabelecidos objetivos globais para “um futuro próspero e sustentável”, como travar e reverter a perda de biodiversidade, limitar o aquecimento global a 1,5ºC, erradicar a pobreza e garantir o bem-estar humano. E lembra também que os compromissos atuais estão muito aquém do necessário para atingir essas metas em 2030.

Atualmente, salienta o WWF, mais de metade das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030 não serão atingidas, com 30% delas estagnadas ou piores em relação à linha de base de 2015.


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