Ecologia
Dezenas de campanhas são lançadas todos os anos mundo afora para ajudar a remover CO2 da atmosfera. Mas, muitas vezes, não há nenhum benefício real para o clima
Publicado em 24/08/2024 11:32 - Abubakar Said Saad - DW
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No ano passado, a ambientalista Lucy Kagendo, da ONG Green Dimensions Network, plantou 50 mudas no Quênia como parte de uma campanha nacional para plantar 15 bilhões de árvores até 2032. Hoje, a maioria dessas árvores está morta.
A ideia por trás de iniciativas como essa é simples. Árvores removem da atmosfera os gases responsáveis pelo efeito estufa. Por meio da fotossíntese, suas folhas absorvem água e dióxido de carbono, convertem-nos em alimento e liberam oxigênio.
Entretanto, a iniciativa de plantio de árvores de Kagendo não é a única com resultados decepcionantes. Basta observar os esforços de restauração do norte da Índia nos últimos 50 anos. Um estudo da revista ambiental Nature Sustainability constatou que “décadas de custosos programas de plantio de árvores na região não se mostraram eficazes”, pois não “aumentaram a cobertura florestal” e não contribuíram para a mitigação das mudanças climáticas.
Lançado em 2007, o ambicioso projeto da Grande Muralha Verde da África tinha como objetivo restaurar 100 milhões de hectares de terras degradadas no Sahel com vegetação e árvores. De acordo com os dados mais recentes da ONU, apenas um quinto dessa área foi plantada. O projeto está estagnado devido à falta de financiamento, e algumas das árvores morreram por não receberem água ou cuidados suficientes.
O problema de muitas campanhas de plantio de árvores
Muitas campanhas de plantio de árvores fracassam porque plantam as árvores erradas, na hora errada e no lugar errado.
Na Turquia, em 2019, por exemplo, o governo se propôs a plantar 11 milhões de árvores em todo o país. No entanto, Sukru Durmus, chefe do sindicato agrícola e florestal da Turquia, disse à DW que “cerca de 98% das árvores plantadas morreram em menos de três meses”. Ele atribuiu o fracasso à “época errada de plantio, ao baixo índice pluviométrico e à seleção errada de espécies de árvores”.
De acordo com Seyifunmi Adebote, um pesquisador de gestão ambiental da Nigéria, a maioria das campanhas fracassa porque as pessoas se concentram demais no plantio de árvores em vez de “planejar adequadamente a implementação”.
“Na maioria das vezes, quando são feitas campanhas de plantio de árvores, elas são feitas no contexto da política local ou da política global, motivadas a cumprir os requisitos de uma checklist“, disse Adebote à DW.
Para Yusuf Idris Amoke, funcionário do governo para mudanças climáticas no estado nigeriano de Kaduna, “muitas campanhas governamentais de plantio de árvores têm ambições irrealistas”. Ele acredita que as campanhas anteriores não foram bem-sucedidas porque foram “criadas para transmitir uma imagem pública positiva das credenciais verdes do governo”.
Acompanhamento desde a muda até a maturidade
Árvores geralmente levam cerca de 20 a 30 anos para atingir a maturidade, o que significa que pode levar algum tempo até que elas tenham um grande efeito sobre o clima. Portanto, é importante acompanhar seu desenvolvimento e coletar dados depois que elas são plantadas, o que muitas vezes não acontece.
Também é importante selecionar “espécies nativas apropriadas” e cuidar das árvores no longo prazo.
“Campanhas bem-sucedidas são aquelas que não apenas plantam árvores, mas também garantem sua sobrevivência por meio de cuidados e monitoramento”, disse à DW Elsie Gabriel, fundadora do Young Environmentalists Programme Trust, da Índia.
O Projeto de Reabilitação da Bacia Hidrográfica do Planalto de Loess, na China, por exemplo, foi bem-sucedido porque as espécies utilizadas eram nativas, resistentes à seca e podiam se desenvolver nas condições locais de clima e solo.
O projeto plantou com sucesso 270 mil hectares de árvores e arbustos – mais do que o triplo da área da cidade de Nova York.
Quem cuida das árvores depois que elas são plantadas?
Depois que Kagendo, da Green Dimensions Network, plantou suas árvores no Quênia durante a campanha do governo, ela começou a se perguntar quem cuidaria das árvores uma vez que elas estivessem no solo.
“O presidente foi lá e plantou árvores, mas será que ele vai regá-las depois?”, perguntou Kagendo. Ela mesma foi a um parque nacional distante de onde mora para ajudar durante a campanha. Agora, Kagendo diz que vai plantar árvores perto de onde vive para que possa cuidar delas.
Comunidades locais podem ajudar a manter as árvores vivas e deveriam ser incluídas nos projetos. Algumas campanhas bem-sucedidas de plantio de árvores usaram essa abordagem. O projeto americano Green Seattle Partnership, por exemplo, envolveu jovens voluntários de escolas e comunidades locais. Eles já registraram mais de um milhão de horas de trabalho voluntário.
E, às vezes, menos é mais. “É melhor plantar árvores mais saudáveis e em menor número do que plantar muitas que podem não vingar”, pontua a ambientalista Kagendo.
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