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Agromundo

Brasil negocia com China transformação agrícola do país

Num projeto ambicioso, o governo brasileiro quer transformar milhões de hectares de pastagem em áreas de produção agrícola

Publicado em 28/03/2023 10:39 - Jamil Chade (UOL), Semana On – Edição Semana On

Divulgação Google

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Num projeto ambicioso, o governo brasileiro quer transformar milhões de hectares de pastagem em áreas de produção agrícola. Mas, para isso, negocia a participação da China no financiamento de um plano que pode mudar a paisagem rural do país e aumentar a produtividade, sem a necessidade de qualquer desmatamento.

Apesar do cancelamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a China por causa de uma pneumonia, técnicos do Ministério da Agricultura continuaram as reuniões e visitas às entidades e órgãos chineses. A viagem tinha como objetivo reposicionar Pequim na economia nacional, com a assinatura de mais de 20 acordos. Todos eles serão adiados até a confirmação de uma nova data para a visita de Lula.

O Brasil é o principal fornecedor de alimentos para a China, e o país asiático é o principal destino das exportações brasileiras do agronegócio.

Agora, o governo brasileiro quer que os chineses participem também da conversão de terras no país, inclusive para aumentar a produtividade e assegurar o abastecimento.

Pelos cálculos do Ministério da Agricultura, custará US$ 3 mil (R$ 15,7 mil) por hectare para realizar a conversão de pastagem para cultivo. No caso brasileiro, existem pelo menos 40 milhões de hectares que poderiam ser transformados, o que implica que tal projeto exigiria mais de US$ 100 bilhões (R$ 525 bilhões).

Financiamento chinês, em troca de abastecimento

Um dos caminhos buscados pelo Brasil é a participação da COFCO, a maior empresa de alimentos e agricultura da China. Apenas em 2021, a estatal lidou com 130 milhões de toneladas de commodities, movimentando US$ 42 bilhões (R$ 220 bilhões). Nos últimos anos, a empresa se expandiu pelo mundo, justamente na busca de garantias de abastecimento para o rápido crescimento chinês.

A ideia do governo Lula, agora, é de que os chineses financiem a conversão de terras no Brasil e que, ao longo dos anos, os próprios produtores façam o pagamento desses créditos em forma de soja, milho ou qualquer outro produto.

Uma segunda opção seria a ajuda dos chineses para financiar o BNDES. O banco brasileiro, nesse caso, facilitaria o crédito aos produtores nacionais que optarem pela mudança.

Fontes do governo indicaram que a COFCO sinalizou interesse e que iria designar uma pessoa no Brasil para iniciar conversas.

O governo ainda encomendou um estudo na Embrapa para avaliar qual é realmente a dimensão das terras de pastagens desgastadas que poderiam ainda ser convertidas. Algumas estimativas apontam que a área seria duas vezes maior do que se conhece hoje.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, explicou aos interlocutores chineses que o governo brasileiro estimulará a conversão de 40 milhões de pastagens degradadas em áreas cultiváveis, o que permitiria praticamente dobrar a área destinada à produção agrícola sem desmatamento e com sustentabilidade.

Uma das mensagens foi passada em um evento realizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) em parceira com o Institute of Finance and Sustainability (IFS), o Climate Bonds Initiative (CBI) e o Global Environment Institute (GEI).

“Este é um programa que será incentivado pelo governo com linhas de crédito atrativas, para que o produtor, em vez de pensar em novos desmatamentos, capte recursos para converter pastagens, com uso de calcário, fertilizantes e matéria orgânica”, disse o ministro a representantes de instituições financeiras e fundos de investimentos chineses.

Durante o evento, o Assessor Especial do Ministro da Agricultura, Carlos Augustin, pediu aos chineses a concederem financiamento de longo prazo para a conversão de pastagens no Brasil. Em sua avaliação, isso seria de interesse dos próprios chineses, já que contribuiria também para o aumento da segurança alimentar do país que precisa alimentar 1,4 bilhão de pessoas.

“Podemos dobrar a produção agrícola”, afirmou Fávaro em um evento nesta segunda-feira em Pequim. Segundo ele, segmentos dos produtores apostam mais no desmatamento para conseguir ampliar a produção. Mas a lógica pode mudar com o financiamento garantido pelo BNDES.

Agro quer Lula na China em maio; governo diz que Xi fixará nova data

Empresários do setor do agronegócio sugerem que o presidente Lula remarque sua viagem para a China para o final de maio. O motivo: a visita coincidiria com a maior feira de alimentos do país. Mas em entrevista em Pequim, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que a China decidirá quando ocorrerá a visita.

Todos os mais de 20 atos, acordos e memorandos que seriam assinados foram congelados e apenas serão anunciados quando Lula estiver na China. Os projetos já estavam negociados. Mas tanto os brasileiros quanto os chineses alertaram que não faria sentido a assinatura imediata dos atos, já que esvaziaria uma futura visita de Lula e deixaria os presidentes sem anúncios a serem realizados.

Em nota, o governo chinês desejou uma rápida recuperação ao brasileiro e sinalizou que está em contato com o Itamaraty para repensar a agenda e buscar uma nova data para o encontro. Dentro da chancelaria chinesa, porém, o clima era de frustração. Pequim havia organizado uma recepção de grande pompa ao brasileiro, a primeira desde a posse de Xi para seu terceiro mandato.

O cancelamento ainda levou parte da comitiva do governo que havia chegado antes para preparar a viagem a buscar um novo hotel, na esperança de reduzir custos. A delegação do país ocuparia quase 200 quartos em um dos hotéis de maior luxo na China.

Enquanto isso, governos e empresários iniciavam debates sobre como recuperar a agenda com os chineses. Para o setor exportador brasileiro, coincidir a visita de Lula com o maior evento de alimentos poderia mostrar justamente uma maior aproximação entre os dois países no fornecimento de commodities e num momento de tensão internacional.

A sugestão já foi repassada ao governo brasileiro, mas uma nova agenda depende também do calendário de atividades do presidente Xi Jinping e da própria estrutura do estado chinês para receber a delegação brasileira.

O evento, conhecido como SIAL, tem como meta chegar a 500 mil potenciais compradores. O local do evento, com 180 mil metros quadrados, deve atrair 4,5 mil expositores e mais de 150 mil profissionais de todo o mundo.

Um dos esforços do governo brasileiro, porém, é o de equilibrar a balança comercial do país com a China, atraindo investimentos no setor de tecnologia. O país teme se consolidar como fornecedor de matéria-prima e commodities, enquanto a China se insere no mundo exportando produtos de alto valor agregado.

Segundo ministro, data será definida pela China

Carlos Fávaro, confirmou que também recebeu a sugestão do setor sobre a nova data da visita. Mas insistiu que não cabe ao Brasil determinar quando a nova viagem ocorreria. “Isso cabe aos chineses”, disse o ministro, o único do alto escalão brasileiro na China.

“Tem que respeitar a diplomacia. Ouvi a sugestão (do agro). Quem define é o governo chinês. Não podemos dizer que em maio vamos voltar”, afirmou.

O ministro confirmou que a decisão sobre o cancelamento ocorreu por uma questão “técnica e médica”. Segundo ele, o Planalto informou que a pneumonia de Lula estava “controlada”. Mas que ele estava ainda transmitindo o vírus e numa condição que poderia ser de vulnerabilidade para um voo de mais de 20 horas. “Seria um risco para o pulmão com a exposição à pressurização”, explicou.

Atos suspensos

Segundo Fávaro, todos os acordos que o Brasil assinaria com a China foram suspensos, à espera da nova visita. Mesmo os atos do Ministério da Agricultura aguardarão pela visita de Lula.

Os atos incluíam:

Construção de um novo satélite de monitoramento

Entendimentos no setor de alta tecnologia, incluindo 6G.

Pacto para lutar contra a fome no mundo

Abertura do mercado brasileiro para turistas chineses

Acordo com a Huawei para ampliação da Internet no Brasil

Os projetos já estavam negociados e apenas aguardavam o encontro entre os presidentes para que a viagem fosse marcada por resultados concretos, ao contrário do que ocorreu nos EUA quando a comitiva brasileira deixou a Casa Branca sem grandes anúncios.

O ministro admite que a meta do governo era o de conseguir assinar os acordos antes de a administração Lula completar 100 dias. “Mas será em breve”, minimizou.

De acordo com Fávaro, empresas privadas ainda anunciarão acordos no dia 29, em Pequim. Mas nenhum deles envolverá o governo.

O chefe da pasta da Agricultura ainda aproveitou para lançar críticas ao governo de Jair Bolsonaro, indicando que o início da gestão de Lula abriu “relações mais amistosas e fraternais” com os chineses. Segundo ele, isso ficou claro nas reuniões que manteve com o governo de Xi Jinping e os acenos reais de Pequim para facilitar a entrada de produtos brasileiros ao mercado local.

“Há um clima mais fraternal com a volta de Lula à presidência. Isso abre oportunidades comerciais”, completou.

Fim do embargo chinês abre perspectiva para ampliar rede de frigoríficos credenciados

Com a suspensão do embargo à importação de carne bovina pela China, o esforço agora é para ampliar o credenciamento de frigoríficos da cota-China, disse o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck. “Temos uma lista, hoje, de mais de 100 frigoríficos buscando o credenciamento para o boi-China. É importante, também, agora, com essa visita do presidente Lula, que a China amplie esse número de frigoríficos credenciados, o que irá favorecer a pecuária sul-mato-grossense tanto na participação no mercado, como e, principalmente, na remuneração ao produtor.”

A decisão do governo chinês de suspender o embargo à compra de carne bovina brasileira já era esperada e reafirma a confiança internacional na indústria nacional, disse o secretário. O anúncio foi feito pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, após reunião com o ministro da Administração Geral da Aduana Chinesa (GACC), Yu Jianhua, no último dia 23.

“Isso já era esperado, mas foi importante que ocorreu antes da ida do presidente Lula à China. O protocolo estabelece esse embargo automático, na ocorrência de casos de doença no rebanho, e espera-se um retorno mais rápido ao ser identificado a inexistência de perigo de contaminação ou de proliferação dessa doença no rebanho brasileiro”, ponderou Verruck.

Mato Grosso do Sul tem no mercado chinês um filão importante. No ano passado foram exportadas 61.540 toneladas de carne bovina para a China, atesta levantamento da Coordenadoria de Economia e Estatística da Semadesc. Estão habilitadas três plantas frigoríficas no Estado (Iguatemi, Rochedo e Aparecida do Taboado), todas independentes, não vinculadas às grandes cadeias produtivas. Com a suspensão do embargo, esses frigoríficos poderão retomar os abates e a expectativa do secretário Jaime Verruck é que isso resulte em uma melhora imediata nos preços pagos aos produtores.

“Esse embargo gerou uma queda de preço da carne bovina no mercado interno. Houve, inclusive, paralisações de alguns abates dos frigoríficos que têm na cota-China o principal mercado. Com a volta à normalidade esperamos um impulso importante. A pecuária sul-mato-grossense tem uma carne de qualidade, livre de vacinação, com um projeto de sanidade muito bem consolidado e uma identificação de nossos produtos com qualidade”, concluiu.

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