02/11/2024 - Edição 550

Campo Grande

Estudo revela 286 pontos de alagamento em Campo Grande

Falhas de planejamento urbano são evidentes

Publicado em 21/10/2024 8:47 - Semana On

Divulgação Correio do Estado

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Uma pesquisa realizada com base em reportagens do site Campo Grande News identificou 286 pontos de alagamentos e inundações na capital de Mato Grosso do Sul entre 2018 e 2023, destacando gargalos resultantes da urbanização sem planejamento. O levantamento faz parte da tese de doutorado de Rafael Brandão Ferreira de Moraes, engenheiro ambiental e doutor em Tecnologias Ambientais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), e foi apresentado recentemente durante o IV Encontro Nacional de Desastres (END), realizado em Curitiba.

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O estudo, que se baseou em notícias publicadas ao longo de cinco anos, focou nos efeitos das chuvas em Campo Grande, como alagamentos, inundações e os consequentes danos materiais e transtornos à população. Brandão esclarece que, no levantamento, os mesmos pontos podem aparecer mais de uma vez. “Um local alagado identificado em 2018, por exemplo, é contado novamente se aparecer em 2020. Isso me mostra quais os pontos com maior intensidade de ocorrência de alagamentos”, explica o pesquisador, que também identificou os locais onde os transtornos se tornaram recorrentes.

Cinco áreas críticas

A partir da análise dos dados, Brandão mapeou cinco pontos onde os alagamentos são constantes, incluindo locais emblemáticos como o Parque das Nações Indígenas, a Lagoa Itatiaia e trechos da Avenida Rachid Neder. Além desses, foram apontados como críticos os cruzamentos da Rachid Neder com as avenidas Ernesto Geisel e Euler de Azevedo, a Rua da Divisão, e a Avenida Ricardo Brandão com a Rua Joaquim Murtinho.

A situação da Lagoa Itatiaia, localizada na microbacia do Córrego Bandeira, chama a atenção pela gravidade do assoreamento, fenômeno que ocorre quando sedimentos se acumulam no corpo d’água, reduzindo sua capacidade de retenção. “Muitas ruas próximas não são pavimentadas e carecem de sistemas adequados de drenagem, o que contribui para o acúmulo de sedimentos”, explica Brandão.

As áreas mais vulneráveis

Além dos cinco pontos críticos, o pesquisador utilizou um mapa de calor para identificar as microbacias mais suscetíveis a desastres hidrológicos. As áreas com maior densidade de ocorrências de alagamentos estão nas regiões das microbacias dos córregos Bandeira, Segredo, Prosa e Anhanduí. Nessas áreas, a impermeabilização do solo, causada pela alta densidade de edificações e pavimentações, é apontada como um dos fatores que agravam os problemas.

“Nas microbacias dos córregos Segredo e Prosa, observamos que as áreas próximas às confluências de cursos d’água apresentam uma velocidade de escoamento da chuva maior do que o sistema de drenagem é capaz de suportar”, destaca Brandão. O pesquisador também ressaltou que a alta densidade populacional dessas regiões gera maior produção de resíduos sólidos, o que agrava os problemas de drenagem.

Falta de planejamento agrava desastres hidrológicos

O estudo conclui que a urbanização desordenada de Campo Grande, aliada à alteração do uso do solo, é um dos principais fatores que aumentam a vulnerabilidade da cidade a desastres hidrológicos. “O planejamento urbano inadequado contribui significativamente para o aumento da susceptibilidade a alagamentos e inundações em áreas urbanas”, afirma Brandão, destacando a importância de monitorar essas áreas e de revisar as políticas de desenvolvimento urbano.

O levantamento serve de alerta para as autoridades e para a população sobre a urgência de se investir em soluções de drenagem e infraestrutura adequadas, além de promover um planejamento urbano mais sustentável, com foco na preservação ambiental e na segurança da população. O artigo científico de Brandão, defendido durante o IV END, reforça a necessidade de se priorizar o combate aos desastres hidrológicos nas cidades brasileiras, especialmente em áreas de rápido crescimento populacional e alta densidade de construções.


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