02/12/2023 - Edição 525

Campo Grande

“Classe média chinfrim do Carandá Bosque” quer acabar com a Feira Bosque da Paz, denunciam frequentadores

Parte dos moradores do bairro apela para o racismo e preconceito ao alegar que movimento cultural transforma bairro em 'periferia'

Publicado em 29/10/2023 9:54 - G1MS, Semana On - Edição Semana On

Divulgação Reprodução

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“Transforma o bairro em periferia”, é essa explicação que os moradores do bairro Carandá Bosque estão dando para que a já tradicional Feira do Bosque da Paz seja transferida de local. O movimento cultural acontece todo terceiro domingo do mês, das 9h às 15h.

Em grupos no WhatApp, alguns moradores reclamam da pluralidade de pessoas que frequenta bairro no dia da feira. “Nosso bairro está parecendo uma vila de periferia”, disse um. Além do preconceito, há pessoas que reclamam do uso do bosque por gente de outras regiões da cidade.

“Gostaria de saber o que essas 500 pessoas faziam antes de serem convidadas por pessoas tão generosas a virem a expor seus produtos no bosque da paz, que deveria ser da paz e cuidado pelos moradores, mas como muitos acham deve ser dividido”, disse outro.

Há também moradores que estão cogitando que a feira está desvaloriza as casas do bairro.

“Uma vez por mês tem o final de semana perdido, além disso, ao contrário do que falaram, tem sim desvalorização dos imóveis no entorno”. A mesma pessoa completa dizendo: “O Bosque da Paz é para quem quer paz (…) Vamos deixar o bosque só para ser visitado e usado pelos moradores do Carandá”.

A Semana On conversou com frequentadores da feira, que denunciaram preconceito por parte dos moradores da região. “É uma fatia dos moradores do Carandá, uma classe média chinfrim que não está acostumada à diversidade e a cultura. É o tipo de gente que, quando consegue fazer uma viagem internacional se maravilha com feiras como esta, mas não consegue conviver com a pluralidade e com a arte em seu próprio quintal”, disse o dentista Otávio *.

A professora Estela *, na mesma linha, lembrou que a praça não é dos moradores do Carandá, mas de todos os campo-grandenses: “Eu venho uma vez por mês na feira e encontro pessoas de todas as regiões, de todos os tipos. É muito bom. As praças são bens públicos, não pertencem à vizinhança, mas a todos os moradores da capital”*

A reportagem do G1MS procurou a organização da feira sobre as reclamações. Segundo Carina Zamboni, uma das pessoas responsáveis pelo evento, os expositores fizeram um abaixo-assinado quando souberam da dificuldade de manter a feira no local.

“A gente está com um pequeno grupo de moradores que quer tirar a feira do Bosque da Paz, dizem que a praça é dos moradores e não da cidade de Campo Grande. A renda é importante para essas famílias, mas tem também a parte de lazer, arte e cultura para a população. Estamos tentando nos defender, e pela permanência da feira”, afirma a empresária e produtora cultural.

Carina salienta que a feira espera a ajuda do poder público, principalmente para evitar dificuldades em relação ao trânsito ao redor do evento.

“Que eles estejam, nos dias da feira, com um efetivo maior para organizar o trânsito para que a gente não cause transtorno para os vizinhos”, declara a empresária.

O abaixo-assinado será entregue para a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur), Agência Municipal de Trânsito (Agetran), Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb), Gabinete da prefeita Adriane Lopes, Guarda Civil Metropolitana (GCM) e Fundação de Cultural de Mato Grosso do Sul (FCMS).

* Nomes fictícios, à pedido das fontes


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