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Caso Barroso é bom para separar o movimentos golpistas - ligados ao ex-presidente - do eleitor de Jair
Publicado em 14/07/2023 9:12 - Leonardo Sakamoto (IOL) - Edição Semana On
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A polêmica levantada pelas declarações do ministro Luís Roberto Barroso em um evento da UNE, na quarta (12), gerou barulho nas redes e em Brasília.
Taí uma ótima oportunidade para demonstrar a diferença entre o bolsonarismo e os eleitores de Bolsonaro. Até porque todo adepto do bolsonarismo é eleitor de Jair Messias, mas nem todo eleitor de Jair Messias abraça o pacote da extrema direita.
Recapitulando: a extrema direita está em polvorosa nas redes sociais, pedindo o impeachment do ministro do STF Luís Roberto Barroso, por ele ter afirmado, em um evento da UNE (União Nacional dos Estudantes), que “nós derrotamos o bolsonarismo”.
“Essa é a democracia que conquistamos. Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas”, foi a declaração de Barroso.
Na quinta, ele soltou uma nota afirmando que se referia “ao extremismo golpista e violento que se manifestou no 8 de janeiro e que corresponde a uma minoria”. E, diante da repercussão negativa, completou: “Jamais pretendi ofender os 58 milhões de eleitores do ex-presidente nem criticar uma visão de mundo conservadora e democrática, que é perfeitamente legítima”.
Barroso certamente aprendeu que importa menos o que ele quis dizer e mais o que o bolsonarismo faz das declarações contra qualquer um que estiver no seu caminho. Mas o caso é didático.
De fato, a sociedade derrotou, nas urnas, o bolsonarismo, movimento violento e antidemocrático que, insatisfeito, tentou um golpe de Estado. O bolsonarismo não se confunde com os eleitores de Bolsonaro — é uma pequena, mas ruidosa, fração deles.
O bolsonarismo não criou a extrema direita no Brasil, mas foi bastante competente em organizá-la, dar-lhe um líder, uma expressão eleitoral e levá-la ao poder.
Contando com elementos neofascistas, essa ideologia abraça o negacionismo científico, o justiçamento no lugar da Justiça, o autoritarismo, o armamentismo e a misoginia. Recorre ao discurso de costumes e comportamentos como instrumentos de controle. Tem no culto à figura de Bolsonaro uma dimensão messiânica, que se sobrepõe às instituições democráticas.
Pesquisas apontam que ela varia de acordo com o nível de ultrapolarização da sociedade, mas raramente ultrapassa os 18%. O que, convenhamos, é muito.
Já os eleitores de Bolsonaro são um universo maior e representam 58,2 milhões de brasileiros (49,1% dos votos válidos) e decidiram depositar seu voto no ex-presidente pelas mais diferentes razões: costumes e comportamento, antipetismo e antilulismo, alinhamento a Paulo Guedes, redução do papel do Estado ou porque concordam com o pacote do bolsonarismo descrito acima.
O show de ilusionismo da extrema direita é querer convencer a sociedade que todo eleitor de Bolsonaro é adepto do bolsonarismo. Para isso, conta, não raro, com uma ajudinha da própria esquerda, que chama equivocadamente todo eleitor do ex-presidente de gado, radical ou fascista, em uma generalização que afasta mais do que une.
Durante as eleições, houve um público que não estava polarizado, nem era militante de Lula ou Bolsonaro, com pautas que os conectavam aos dois, principalmente na classe trabalhadora. Uma parte se reconectava a Lula, com base no legado de cuidado dos pobres do passado, outra se desconectava dele pela pauta moral, simbólica e de costumes ligada a Bolsonaro.
Momentos como este, de polêmica nas redes, são usados pelo bolsonarismo para tentar convencer que é bem maior do que realmente é. Cabe aos adultos na sala tomarem cuidado com o que falam, para não alimentar os pombos, mas também ao restante a não cair nas armadilhas deixadas por aqueles que querem fazer crer que metade da população compartilha dos mesmos ideais antidemocráticos e golpistas.
Oportunista, bolsonarismo não pediu cabeça de Barroso quando Lula foi preso
De fato, a sociedade derrotou, nas urnas, o bolsonarismo, movimento violento e antidemocrático que, insatisfeito, tentou um golpe de Estado. O bolsonarismo não se confunde com os eleitores de Bolsonaro, mas é uma pequena, mas ruidosa, fração deles. Contudo, Jaiminho, o Carteiro, diria a Barroso que ele poderia ter evitado a fadiga se, diante da plateia de estudantes, tivesse sido claro sobre o “nós”.
Agora, o duplo sentido interpretativo abre espaço para a extrema direita atacar o STF a fim de excitar seus seguidores para denunciarem um complô inexistente. Dessa forma, Barroso acabou alimentando a horda paranoica que acusa STF de golpista para encobrir o próprio golpe.
Essa é a segunda cutucada de Barroso em resposta aos ataques que sofre nas mãos do bolsonarismo. Em 15 de novembro do ano passado, assediado por um seguidor do ex-presidente enquanto caminhava em Nova York, soltou um “Perdeu, mané. Não amola”, gerando um tsunami de ataques e pedidos de impeachment.
Duas semanas depois, disse que não se arrependia, mas lamentava o ocorrido.
Barroso é alvo antigo, bem antes de seu colega Alexandre de Moraes. Em agosto de 2021, quando era presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro o chamou de “filho da puta”. Apesar dos vídeos mostrando o xingamento, Jair, claro, disse que nunca tinha xingado ninguém.
A perseguição ao ministro continuou pelos anos seguintes. Após o segundo turno, foi xingado por cerca de 20 minutos ao ser reconhecido em um restaurante em Porto Belo (SC) por golpistas que participavam de um bloqueio. Deixou o local para evitar tumultos, mas foi seguido até a residência em que estava hospedado. Quando a situação ameaçou fugir do controle, teve que ir embora.
Depois, no início do janeiro, antes da tentativa de golpe, ele foi xingado por um grupo de bolsonaristas enquanto estava em um guichê do Aeroporto de Miami.
Exatamente por saber como funciona a máquina de moer reputações do bolsonarismo, e conhecer o carinho da extrema direita para com ele, o ministro deveria tomar mais cuidado com o que diz.
É, contudo, fascinante como funciona o oportunismo. Pois quando Barroso apoiava a operação Lava Jato e votava contra o habeas corpus que manteria Lula fora da prisão, o que facilitou a ascensão da extrema direita na eleição de 2018, o bolsonarismo não o criticou.
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