Poder
Bolsonaristas foram pegos de surpresa pela análise da Defesa e o "chororô" prossegue nas redes
Publicado em 10/11/2022 10:38 - Leonardo Sakamoto, Josias de Souza (UOL), Julinho Bittencourt (Fórum) – Edição Semana On
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Um aguardado relatório das Forças Armadas sobre a fiscalização das urnas eletrônicas e do sistema de votação, divulgado na quarta (9), não apontou a ocorrência de fraudes nas eleições. Isso bastaria para enfraquecer o discurso de bolsonaristas que pedem golpe militar por não concordarem com a vitória de Lula. Mas, infelizmente, eles vão ler o que querem ler.
E o relatório entrega um chinelo velho para um pé cansado, ou seja, ao tratar de vulnerabilidades e riscos hipotéticos anima seguidores do presidente em sua jornada psicodélica pela realidade paralela.
“Conclui-se que a verificação da correção da contabilização dos votos, por meio da comparação dos Boletins de Urna (BU) impressos com os dados disponibilizados pelo TSE, ocorreu sem apresentar inconformidade”, afirma o relatório em sua página 24, pouco antes de listar um resumo das “oportunidades de melhoria”.
A questão da contabilização era uma das principais críticas de Jair. Portanto, seria de imaginar que os empresários que financiam os bloqueios e protestos botassem sua viola no saco e voltassem ao trabalho depois de hoje. Não só isso não aconteceu, como as redes bolsonaristas já estão usando o texto para justificar a prisão de Lula.
O general fez um agrado para os bolsonaristas radicais, atendendo às necessidades do seu patrão, o capitão. No ofício com o qual encaminhou o relatório das Forças Armadas ao Tribunal Superior Eleitoral, o ministro da Defesa Paulo Sérgio de Oliveira deu uma “apimentada” no conteúdo. Destacou que “foi observado que a ocorrência de acesso à rede, durante a compilação do código-fonte e consequente geração dos programas, pode configurar relevante risco à segurança do processo”.
E que a partir dos testes de funcionalidade, realizados por meio do Teste de Integridade e do Projeto-Piloto com Biometria, “não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento”.
Percebam o uso do verbo “poder”. Apesar de não contar com fatos que corroborem sua hipótese, o ministro enumera hipóteses para criar fatos.
Algo que não provou ser falso não é necessariamente verdadeiro, da mesma forma algo que “pode” acontecer não acontecerá necessariamente. Mas isso é suficiente para ajudar a estimular o naco golpista da militância bolsonarista, que vai abraçar a existência das hipóteses levantadas pelo relatório como um fato consumado.
Não é um relatório abertamente golpista, mas ao não afirmar que as eleições foram limpas, enumerar supostas vulnerabilidades e transbordar em arrogância sobre o seu próprio papel, ele entrega ração para o rebanho presidencial e impede um ponto final nessa sandice de “intervenção militar”.
A fragilidade do documento foi imediatamente percebida pelo presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, que emitiu nota recebendo com “satisfação” o relatório que “não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”. Completou, afirmando que as sugestões serão analisadas depois. Está correto, é isso mesmo, sem bater palma para os golpistas dançarem em frente a lojas da Havan.
A fiscalização das urnas eletrônica e do sistema de votação não é atribuição das Forças Armadas, mesmo assim foi isso o que elas fizeram a pedido de Jair Bolsonaro. Com uma fronteira que é mais porosa que um queijo suíço, onde nossa soberania é aviltada diariamente, surpreende que o setor de inteligência dos militares tenha tempo e recursos sobrando para lidar com algo que não é de sua competência. E sobre o qual, como podemos ver, eles não contribuíram com nada relevante.
Que o próximo governo garanta que as Forças Armadas não se submetam a esse tipo de humilhação, afastando-as da política e garantindo que façam o que a Constituição Federal espera delas. Que, certamente, não é ajudar em golpe.
Relatório da Defesa deu a Bolsonaro aparência de Nero de escola de samba
Bolsonaro ajeitou com ânimo de Nero a cena para a divulgação do relatório das Forças Armadas sobre o sistema eleitoral. Na véspera, publicou nas suas redes sociais baldias fotos que associam sua figura imperial à bandeira do Brasil. Na tarde de quarta-feira, o dia D, uma frota com uma centena de caminhões se juntou aos bolsonaristas que pedem intervenção militar na frente do QG do Exército, em Brasília. Horas depois, no início da noite, apareceu, finalmente, o fatídico documento.
As conclusões dos militares deram a Bolsonaro uma aparência de Nero de escola de samba. Os inspetores anotam no relatório que não encontraram fraudes nas urnas. Mas, valendo-se de sofismas e estratagemas, alegam que elas poderiam ter acontecido. Forneceram material para as teorias conspiratórias bolsonaristas. Numa nota divulgada com a rapidez de um raio, o chefão do TSE, Alexandre de Moraes, realçou o único ponto aproveitável do lixo que lhe foi entregue pelo general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa. Moraes disse ter recebido com “satisfação” o documento que atesta a inexistência de fraude.
A única coisa que o imperador do Alvorada conseguiu incendiar foi a reputação das Forças Armadas. Ou o que restava dela. Prestando-se ao papel de vassalos do folião golpista, os signatários do documento entregue ao TSE submeteram ao ridículo as forças militares.
Até os bolsonaristas do acampamento do QG do Exército notaram. Queixando-se de ter tomado chuva à toa, despejaram raios e trovoadas no perfil da pasta da Defesa no Twitter. O que deveria ter sido o Dia D do golpismo virou uma espécie de Quarta-Feira de Cinzas do Carnaval fora de época do BolsoNero do Alvorada.
Fim do chilique? Golpistas interpretam como bem entendem relatório da Defesa
Muitos imaginaram que o relatório do ministério da Defesa sobre a “fiscalização” do processo eleitoral tocado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) colocaria fim ao choro dos golpistas. Seria a pá de cal no movimento e os levaria definitivamente pra casa.
Qual nada. Vários deles ainda permanecem nas ruas, inconformados com a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E, como se não bastasse, criam interpretações das mais diversas, quase todas envolvendo um misterioso “código-fonte”, que teria sido pedido pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, com um prazo de dez dias para a entrega.
Chama o Professor Raimundo e dá zero para eles. Momento que bolsonaristas tentam interpretar a nota do Ministério da Defesa. 🤦🏻 pic.twitter.com/bd0MxZpuVr
— GugaNoblat (@GugaNoblat) November 10, 2022
Indignados
Outros, no entanto, mais indignados, reagiram com estupor e indignação pelo fato de estarem “tomando chuva no lombo, dormindo em barraca e cagando em banheiro químico desde o dia 2/11 à toa?????”
O Ministério da Defesa encaminhou hoje (09), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Relatório de Fiscalização do Sistema Eletrônico de Votação.
➡️ Leia na íntegra: https://t.co/YqYXWWzDcn@marmilbr @exercitooficial @fab_oficial pic.twitter.com/4VtIDOEe61— Ministério da Defesa (@DefesaGovBr) November 9, 2022
Está, meu chapa! Estão tirando onda com nossa cara!! Esperei tanto por esse relatório, orei, torci e quebrei a cara!
— Elder Castro 🇧🇷🇧🇷2️⃣2️⃣ (@ElderCastroSil2) November 9, 2022
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