Poder
Publicado em 08/02/2019 12:00 -
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Um dia depois de ter sido diagnosticado com pneumonia, o presidente Jair Bolsonaro retomou a atividade de despachos: conversou com o vice-presidente Hamilton Mourão por telefone, e recebeu um de seus ministros no quarto do hospital Albert Einstein, onde está internado há 12 dias.
Boletim médico divulgado nesta sexta-feira (8) diz que o presidente teve "boa evolução clínica nas últimas 24 horas, continua estável, afebril e sem dor".
Médicos dizem, no entantoi, que a detecção da pneumonia, confirmada na quinta (7), integra um quadro de complicação da situação clínica do presidente que inspira cuidados.
O novo diagnóstico ocorre após outros imprevistos também terem sido verificados na saúde dele depois da realização da cirurgia, em 28 de janeiro.
A infecção no presidente —no caso, a pneumonia— é agravo que costuma se manifestar depois de 48 horas de uma internação, geralmente com mais de sete dias.
Mas os médicos dizem que, pelas informações divulgadas no boletim, não dá para apontar com precisão o que estaria acontecendo de fato.
Após 11 dias de internação no hospital Albert Einstein, em São Paulo, Bolsonaro teve febre na noite de quarta-feira (6), e uma tomografia detectou a pneumonia.
A detecção da pneumonia prolongará ainda mais a internação do presidente, por no mínimo mais sete dias, devido ao aumento de antibióticos, conforme disse Antonio Luiz Macedo, cirurgião que é um dos responsáveis por cuidar da saúde do presidente da República.
Inicialmente, a equipe responsável pela operação estimava alta após dez dias, completados na quarta. Agora, na hipótese mais otimista, ele completará 18 dias de hospital.
Várias hipóteses poderiam explicar o surgimento da pneumonia. O fato de estar com o intestino parado e o estômago com acúmulo de líquido pode ter levado a microaspirações do conteúdo gástrico, que foi direto para o pulmão, causando a infecção.
Outra possibilidade é a chamada pneumonia por contiguidade, ou seja, relacionada ao abscesso que ele teve diagnosticado no sábado (2). Se o foco infeccioso estiver na parte superior do abdome, perto ao diafragma, por proximidade pode afetar o pulmão.
Outro meio de causar uma pneumonia é por via sanguínea —a bactéria entra no sangue e vai parar no pulmão. A internação prolongada é outro fator de risco. Um organismo debilitado, recém-operado, com cateteres, sonda, nutrição parenteral, tem portas de entrada para bactérias.
Pelas previsões iniciais, Bolsonaro já deveria estar em casa, retomando trabalhos burocráticos, sem esforço físico.
Os imprevistos começaram na própria cirurgia. O plano original da equipe médica era religar as duas pontas do intestino grosso que estavam separadas. A previsão era que isso durasse três horas.
Mas, no final, por causa da grande quantidade de aderências (partes do intestino que ficam coladas), foi retirado o cólon direito e construída uma ligação direta entre o intestino delgado (íleo) e o intestino grosso (cólon transverso). A cirurgia levou sete horas.
No sábado passado, ele teve episódios de náuseas e vômitos, causado por infecção intra-abdominal, que necessitou de drenagem. O quadro levou à paralisia do intestino delgado.
A assessoria da Presidência tentou amenizar a gravidade do episódio, tratado como uma reação “normal” do organismo. O cirurgião Antônio Macedo, que operou o presidente, alegou que era resultado da manipulação cirúrgica.
Na avaliação do cirurgião Carlos Sobrado, professor de coloproctologia da Faculdade de Medicina da USP, a causa da infecção pode ter sido duas: um pequeno vazamento na costura cirúrgica (fístula), feita com a técnica de grampeamento. “Algum pontinho pode ter aberto e vazado um pouco de secreção. Isso acontece com frequência.”
A segunda causa pode ter sido eventuais microperfurações ocorridas no momento de desfazer as aderências (alças intestinais grudadas) encontradas durante a cirurgia.
“Separar uma alça da outra é muito difícil, mesmo em mãos extremamente habilidosas. Isso é muito comum também.”
Para Sobrado, o fato de o presidente ainda estar usando sonda nasogástrica 12 dias depois da cirurgia indica que a situação inspira cuidados.
“Se fossem só questões referentes à manipulação cirúrgica, só um abcessozinho, se as alças estivessem totalmente íntegras, qual o problema de se dar para ele suco, canja, sagu, gelatina, sopa? É sinal que deve ter alguma coisa que não está tão bem”, afirma. Ele diz que a distensão abdominal também pode ter comprimido o diafragma, formando secreção na base do pulmão.
Para o cirurgião Diego Adão Fanti Silva, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a maior preocupação agora são infecções hospitalares.
“O fato de o paciente estar recebendo antibióticos de amplo espectro e internado em um ambiente onde existem bactérias resistentes e fungos [hospitais e UTIs, de um modo geral] aumenta o risco de apresentar uma infecção adquirida no hospital por germe multirresistente. Esse risco é ainda maior quando o paciente possui dispositivos invadindo seu corpo, como sondas e cateteres”, afirma.
O risco de infecção adquirida no hospital é próximo de 10% em internações que passam de sete dias, sendo maior quanto maior o tempo de internação, os dispositivos invasivos e a fragilidade do sistema imune do paciente.
Mesmo que tudo evolua bem e Bolsonaro receba alta, ainda há mais riscos pela frente. O de aderência, por exemplo, ficará com o presidente para sempre.
“Toda vez que o abdome é aberto, o paciente passa a ter risco de desenvolver uma aderência no intestino delgado ao longo da vida. Estima-se que esse risco seja de 10% em três anos. Não existe nenhuma medida profilática agora para evitar que isso aconteça”, diz Fanti Silva. A maioria dos quadros de aderências pós-operatórias tem resolução espontânea, não necessitando de nova cirurgia.
Nos próximos seis meses, há risco de 15% de hérnia incisional na parede abdominal, consequência do tecido fragilizado em razão de três operações seguidas. Será fundamental que Bolsonaro evite grandes esforços nessa fase inicial, como levantar peso.
O diagnóstico de pneumonia levou Bolsonaro a usar as redes sociais para tranquilizar seus seguidores. Ele compartilhou vídeo no qual seu porta-voz fala sobre a situação e escreveu. "Cuidado com o sensacionalismo. Estamos muito tranquilos, bem e seguimos firmes."
O que aconteceu desde a cirurgia de Bolsonaro
Atividade precoce
A recomendação médica era para que o presidente evitasse falar nos primeiros dias para evitar o acúmulo de gases na região do abdômen, o que poderia atrapalhar a cicatrização. Dois dias depois da cirurgia, porém, Bolsonaro reassumiu a Presidência a distância, fez reuniões e assinou decretos
Paralisia intestinal
Cinco dias após a cirurgia, a expectativa era que o presidente já estivesse comendo alimentos pastosos pela boca e evacuando. No último dia 2, porém, Bolsonaro voltou a usar sonda nasogástrica. O intestino delgado parou, houve acúmulo de líquido no estômago e o presidente teve náuseas e vômitos
Quadro infeccioso
Na noite do último dia 3, o presidente teve febre e exames mostraram uma infecção (abscesso) na região intra-abdominal, próxima à antiga colostomia. Na quarta (6), voltou a ter febre, e uma tomografia detectou pneumonia. Exames médicos destacaram a possibilidade de infecção viral
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