13/10/2024 - Edição 550

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Polícia Federal mira empresários que defendem golpe de Estado caso Lula vença

PF precisa revelar se bolsonaristas milionários financiam 7 de setembro golpista

Publicado em 23/08/2022 10:23 - DW, Leonardo Sakamoto (UOL) - Edição Semana On

Divulgação Brasil 247

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A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta terça-feira (23) uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão contra oito empresários bolsonaristas que defenderam, em conversas em grupos de aplicativo de mensagens, um golpe de Estado no caso de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência, vença as eleições de outubro.

As ordens foram expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e miram endereços em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará. Moraes determinou também que os empresários sejam ouvidos pela PF, que as contas bancárias e em redes sociais deles sejam bloqueadas e quebra de sigilos bancários.

Entre os alvos estão Luciano Hang (Havan) José Isaac Peres (rede de shoppings Multiplan), Ivan Wrobel (Construtora W3), José Koury (Barra World Shopping), André Tissot (Grupo Serra), Meyer Nigri (Tecnisa), Marco Aurélio Raimundo (Mormai) e Afrânio Barreira (Grupo Coco Bambu).

As conversas dos empresários no aplicativo WhatsApp foram reveladas pelo portal Metrópoles. Após a publicação das mensagens, advogados e entidades apresentaram ao STF um pedido para uma investigação no âmbito do inquérito das milícias digitais, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Daniel Maia, advogado do empresário Afrânio Barreira, disse, segundo o site G1, que a operação é “fruto de perseguição política e denúncias falsas, as quais não têm nenhum fundamento”. Ele acrescentou que seu cliente está “absolutamente tranquilo e colaborando com a busca da verdade, a qual resultará no arquivamento da investigação”.

PF precisa revelar se bolsonaristas milionários financiam 7 de setembro golpista

Uma das perguntas que a Polícia Federal, que cumpre mandados de busca contra ricos empresários bolsonaristas que defenderam golpe de Estado em seu grupo de WhatsApp, pode ajudar a responder é se eles estão financiando as micaretas golpistas convocadas para o 7 de setembro por Jair Bolsonaro e seus aliados.

Ou seja, se estão ajudando o bolsonarismo a sequestrar as comemorações de 200 anos da Independência do Brasil e atacar a democracia a fim de saciar os interesses eleitorais do presidente da República.

O comportamento desses empresários não pode ser equiparado a uma conversa de bar entre amigos. Eles são engajados, articulados e têm à sua disposição bilhões de reais para poderem implementar seus pontos de vista, a despeito da democracia. Não temos acesso à decisão judicial para saber quais fatos foram considerados para a operação. Mas suas consequências podem ser uma bomba para o presidente.

Há muitas dúvidas que essa investigação pode esclarecer. As fortunas desses empresários vêm sendo empregadas para o impulsionamento de conteúdos contra urnas eletrônicas e o sistema eleitoral? O dinheiro deles é investido no ataque às instituições democráticas e seus integrantes? Recursos estão sendo gastos para a promoção das mesmas ideias que eles compartilhavam em seu grupo de mensagens?

A série de reportagens de Guilherme Amado, Bruna Lima e Edoardo Ghirotto, no portal Metrópoles, mostrou as entranhas do grupo “Empresários & Política”, confirmando que uma parte da elite econômica está agarrada ao capitão não apenas para garantir vantagens econômicas, mas por cumplicidade ideológica.

“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, afirmou, por exemplo, José Koury, do Barra World Shopping, no grupo de zap. Ganhou apoio de Afrânio Barreira, do Coco Bambu. E um comentário de André Tissot, do Grupo Sierra, dizendo que “o golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo”.

Também há o temor de que empresários bolsonaristas tenham se organizado para impulsionar ilegalmente, durante o período eleitoral, conteúdos contra o Tribunal Superior Eleitoral, o Supremo Tribunal Federal e adversários do presidente da República, tal como ocorreu em 2018.

Naquele momento, Bolsonaro saiu ileso. O TSE manteve o seu mandato e o de Hamilton Mourão, em julgamento no ano passado, apesar de reconhecer que disparos em massa foram feitos contra seus adversários via WhatsApp na eleição em que foi eleito. O atual presidente da corte, Moraes, avisou que, se isso ocorrer em 2022, irá mandar os responsáveis “para a cadeia por atentarem contra as eleições e a democracia no Brasil”.

A operação da PF foi autorizada pelo STF, mas nada impede que informações sejam compartilhadas com futuros processos a serem abertos na Justiça Eleitoral.

Moraes arquivou o inquérito dos atos antidemocráticos que corria no Supremo, em 2021, e atingia em cheio apoiadores e aliados do presidente Jair Bolsonaro, entre eles deputados como Daniel Silveira (PTB-RJ). Mas determinou a abertura de uma outra investigação sobre a existência de uma organização criminosa que opera na disseminação de notícias falsas.

Apesar de todo processo de investigação cuidadoso e justo ser naturalmente lento, pode-se esperar impactos de curto prazo da operação da Polícia Federal – que deve ter assustado os endinheirados bolsonaristas. Muitos vão pensar 22 vezes antes de colocar dinheiro (ou colocar dinheiro de novo) no projeto golpista do presidente da República. Esse pessoal pode ter a ideologia que for, mas não ficou rico queimando dinheiro.


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