11/12/2023 - Edição 525

Poder

PF mira pai de Mauro Cid e Wassef, suspeitos de negociar joias dadas a Bolsonaro

Federal apreende celulares de membros da PRF por suspeita de versão combinada

Publicado em 11/08/2023 9:08 - Aguirre Talento, Stella Borges, Josias de Souza, Mônica Bergamo e Leonardo Sakamoto (UOL) – Edição Semana On

Divulgação Geraldo Magela/Agência Senado

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A Polícia Federal cumpre hoje (11) mandados de busca e apreensão nos endereços do general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro Mauro Cesar Barbosa Cid, e do advogado Frederick Wassef, que já defendeu o ex-presidente.

O objetivo é investigar desvios de joias e outros bens de valor obtidos pelo ex-ajudante de ordens em viagens oficiais no governo Bolsonaro e sua posterior venda ilegal no exterior.

A PF colheu indícios de que o pai de Cid, o general Cid, teria participado da venda dessas joias e chegou a emprestar sua conta bancária no exterior para o recebimento de valores desses negócios. A investigação também detectou que Wassef entrou no esquema com o objetivo de recomprar parte desses bens para devolvê-los ao Tribunal de Contas da União (TCU) quando as apurações começaram a mirar as joias dadas a Bolsonaro.

Mauro Cid, preso desde maio, e o tenente do Exército Osmar Crivellati também foram alvos da operação. A coluna tenta localizar os citados. Crivelatti era responsável por guardar o patrimônio privado de Bolsonaro em uma área emprestada para ele na fazenda do ex-piloto Nelson Piquet, em Brasília.

Os investigados são suspeitos de usar a estrutura do governo brasileiro “para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior”, informou a PF.

Os valores obtidos dessas vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, afirmou a polícia.

Os mandados foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal dentro do chamado inquérito das milícias digitais e são cumpridos em Brasília, São Paulo e Niterói (RJ). Os fatos investigados configuram os crimes de peculato e lavagem de dinheiro, conforme a PF.

A operação foi batizada de Lucas 12:2, em referência ao versículo bíblico que diz: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”.

Nos anos 1970, o hoje general da reserva Lourena Cid foi colega de Bolsonaro na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras). Ele dirigiu o Departamento de Educação e Cultura do Exército e foi chefe da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Miami durante o governo do ex-presidente.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, comentou a operação nas redes sociais. “Há muitos estudos que mostram que compra e venda de joias é um caminho clássico de corrupção e lavagem de dinheiro. Muitos veem como um crime ‘seguro’, que ficará escondido para sempre. Por isso, é essencial sempre investigar o assunto, quando há indícios de ilegalidade.”

Ex-ajudante de Bolsonaro tentou vender Rolex

Documentos enviados à CPI do 8 de Janeiro mostraram que Mauro Cesar Barbosa Cid tentou vender por US$ 60 mil (cerca de R$ 292 mil) um relógio da marca Rolex recebido por Bolsonaro em viagem oficial à Arábia Saudita.

O relógio foi dado ao então presidente em 30 de outubro de 2019 durante almoço oferecido pelo rei da Arábia Saudita à comitiva brasileira. Na ocasião, a defesa de Cid disse que não teve acesso ao material e, portanto, não iria se manifestar.

Escândalo

A operação da Polícia Federal nos endereços do pai de Mauro Cid eleva o nível dos escândalos em torno de Jair Bolsonaro e aumenta o constrangimento das Forças Armadas.

“O general Cid é um oficial muito respeitado. Essa operação da PF vai aumentar o constrangimento das Forças Armadas e a estupefação dos brasileiros com a passividade com que os militares reagem a esse derretimento do Mauro Cid e de sua família. Dizia-se que o pai do Mauro Cid era um dos mais incomodados com o silêncio do filho para proteger Bolsonaro. Se a PF envolve o próprio pai na investigação, a complicação muda de patamar”, afirma o articulista do UOL, Josias de Souza.

Josias chamou a atenção para a passividade do alto escalão das Forças Armadas sobre o crescente escândalo envolvendo Mauro Cid e sua família. O colunista classificou o tenente-coronel como “muambeiro de farda” por conta dos indícios de que ele teria negociado no exterior bens valiosos obtidos em viagens oficiais no governo Bolsonaro.

“A PF arrasta para esse caldeirão de escândalo, que escorre um melado pegajoso, o pai de Mauro Cid. A estupefação cresce, o escândalo muda de patamar e sobe semana a semana. Aumenta também a perplexidade, que impede o alto comando das Forças Armadas de reagir. Seria recomendável que eles tomassem alguma providência e, pelo menos, fizessem uma cara de nojo”, afirma Josias.

A jornalista Mônica Bergamo (UOL) avaliou que a operação da Polícia Federal mergulha o Exército em escândalo de corrupção. A colunista da Folha de S. Paulo se surpreendeu com a inclusão de Frederick Wassef, advogado que já defendeu Jair Bolsonaro, como um dos alvos das investigações.

“Sempre ouvi de pessoas do bolsonarismo o seguinte: ‘Cid vem de uma família muito séria e vai provar sua inocência porque é filho de um general muito respeitado e prestigiado’. Agora, vai entrar no Exército de vez. Claro, as condutas são individualizadas, mas a corrupção na veia de um general tido como ícone no Exército tem impacto para além de uma eventual desonestidade”, afirmou.

Governo Lula ‘viciou’ Mauro Cid com segredos, daí cortou o fornecimento

Quando o governo Lula bloqueou o acesso de Mauro Cid ao seu antigo e-mail da Presidência da República, 73 dias após o assessor para assuntos golpistas de Bolsonaro deixar o cargo, ele tentou entrar 99 vezes até entender que não ia rolar mais a moleza.

O comportamento, de um ansioso stalker bloqueado da rede social de sua presa, pode ser explicado pelo fato de o tenente-coronel estar recebendo informações sigilosas sobre a segurança pessoal de Lula mesmo após sair do governo.

Por quê? Uma boa pergunta para ser respondida pelo Gabinete de Segurança Institucional, QUE MANTEVE UM DOS PRINCIPAIS ASSESSORES DO GOLPISTA RECEBENDO MENSAGENS SOBRE A SEGURANÇA PESSOAL DO GOLPEADO, e a Casa Civil, que não desligou o e-mail do rapaz.

O governo se justifica acusando excesso de trabalho. Incompetência, má fé, dá no mesmo. Diante do absurdo da história, uma dúvida: por que o GSI não mandou uma newsletter para o Jair de uma vez?

A gestão Lula informou à CPMI dos Atos Golpistas que Cidão tinha acessado seu e-mail funcional mais de 500 vezes em 2023, quando Jair já tinha deixado a Presidência da República. Isso dá quase sete vezes por dia, o que mostra jornadas intensas de trabalho. Em nome de quem e a troco de quê é a pergunta.

Fosse um funcionário público exemplar, teria ele próprio avisado da falha. Mas estamos falando do caixa eletrônico de Michelle Bolsonaro, do hacker de cartão de vacina, do SAC de oficiais golpistas do Exército, do camelô de Rolex, do ajudante de ordens contra urnas eletrônicas. Alguém que confirma que é de onde não se espera nada que não vem nada mesmo.

Mas até a fonte secar, esse vazamento colocou a vida de Lula em risco. Quantos outros assessores de Jair, que haviam deixado o governo, receberam informações sobre as equipes que fazem a segurança do petista?

O presidente pode soltar suas bravatas dizendo que “cão que ladra não morde”, diante de ameaças de um extremista que disse que iria atirar em sua barriga no Pará, porque sabe que conta com profissionais altamente treinados que zelam por ele.

Para esses policiais trabalharem a contento, contudo, precisam saber que contam com sigilo – coisa que não existia nos primeiros três meses após a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro.

A Polícia Federal precisa responder se Cidão repassou informações de segurança para alguém. A América do Sul, que mata candidato à Presidência no Equador à luz do dia, tal como matou a vereadora Marielle Franco na calada da noite, não está para brincadeira.

PF apreende celulares de membros da PRF por suspeita de versão combinada

A Polícia Federal realizou a apreensão de telefones celulares de dirigentes da Polícia Rodoviária Federal após detectar indícios de que eles teriam combinado versões nos depoimentos prestados nesta semana, com o objetivo de blindar o ex-diretor da corporação Silvinei Vasques. O objetivo é verificar nos aparelhos se houve efetivamente diálogos e trocas de mensagens para combinar as versões e buscar detalhes sobre uma reunião que orientou as blitze no segundo turno das eleições.

Entenda os passos da investigação:

– Silvinei foi preso preventivamente na última quarta-feira (9). Naquele mesmo dia, a PF colheu depoimentos de cerca de 50 dirigentes da PRF da gestão anterior, que teriam participado de uma reunião para planejamento da realização de blitze no segundo turno.

– Essas blitze dificultaram a participação de eleitores em regiões onde o petista Luiz Inácio Lula da Silva tinha mais votos.

– A PF obteve indícios de que, nessa reunião, Silvinei teria traçado um direcionamento político na ação da corporação com o objetivo de favorecer o candidato Jair Bolsonaro, seu aliado.

Os novos depoimentos:

– Diversos dirigentes ouvidos em depoimento na quarta-feira (9), de acordo com fontes que acompanham a investigação, relataram que não se lembravam dos temas tratados na reunião convocada por Silvinei.

– Diante da suspeita de omissões, os investigadores decidiram apreender aparelhos celulares desses integrantes da PRF. O objetivo seria buscar diálogos sobre uma eventual combinação de versões para os depoimentos, com o objetivo de atrapalhar a investigação.

– Caso a apuração obtenha elementos indicativos de que eles mentiram, os integrantes da PRF poderão responder por crimes como falso testemunho ou obstrução de Justiça.

– Na fase inicial da investigação, a PF já havia começado a suspeitar de contradições e omissões nos depoimentos dos dirigentes da PRF. Foi graças a isso que a investigação colheu elementos mais concretos sobre os desvios na operação das eleições.

– Ao ouvir no fim do ano passado o ex-coordenador de análise de inteligência da PRF Adiel Alcântara, e a ex-chefe do serviço de análise de inteligência Naralúcia Dias, investigadores decidiram apreender seus celulares para verificar a veracidade dos seus relatos.

– Foi nos diálogos de celular que a PF detectou os indícios mais robustos de irregularidades na reunião. Em mensagens, Adiel afirmou a um colega que Silvinei “disse muita merda” e citou ordem para “policiamento direcionado”.


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