04/10/2024 - Edição 550

Poder

Pablo Marçal só tem M na cabeça

Estancado nas pesquisas, coach e equipe apelam à violência em SP

Publicado em 24/09/2024 10:40 - Leonardo Sakamoto, Raquel Landim e Josias de Souza (UOL) – Edição Semana On

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Estancado nas pesquisas, Pablo Marçal (PRTB) precisava causar no debate realizado pelo podcast Flow, na segunda (23), para melhorar o engajamento nas redes, uma vez que suas propostas para a cidade não empolgam muita gente. Além de ser expulso no final do evento por violar as regras, um membro de sua equipe tirou sangue do marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB). Antes que perguntem, não, não foi nenhum dos nomes de seu partido acusados de promiscuidade com o PCC.

Presentes no debate afirmam que o marqueteiro Duda Lima tentou impedir Nahuel Medina, sócio e cinegrafista do influenciador, de gravar as cenas do teatrinho montado por Marçal ao final do debate, em que cavou a expulsão. O próprio ex-coach já confessou que vai aos debates só para produzir esse tipo de conteúdo. O membro da equipe de Nunes foi agredido na cabeça, e sangue escorreu.

Se é assim na campanha, imagina que tipo de gente Marçal levará à prefeitura.

A preocupação é ainda maior por causa das relações de pessoas do seu entorno com o Primeiro Comando da Capital. O presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, foi gravado afirmando ser íntimo da facção e já ter ajudado a soltar um dos seus chefes. Já Tarcísio Escobar, ex-presidente estadual do PRTB, e Júlio Cesar Pereira, seu sócio, são acusados de trocar carros de luxo por cocaína para o PCC.

Depois do ocorrido, Marçal entrou ao vivo em suas redes para algo que já mostrou que faz bem: vitimizar-se e tentar culpar os adversários, o mediador Carlos Tramontina, o mundo que estaria contra ele por não ter o mindset correto. Não encenou sofrimento em um vídeo mal feito em uma ambulância, mas rolou um choro de baixa credibilidade.

Novamente quem perdeu, de verdade, fomos todos nós. Não há lei que obrigue Marçal a ser convidado para um debate, pois seu partido não conta com cinco parlamentares no Congresso. Mesmo assim, veículos insistem em chamá-lo, como se isso ajudasse no crescimento da democracia.

Isso é equivalente a convidar repetidas vezes um pombo para jogar xadrez: ele vai pousar, derrubar as peças, defecar no tabuleiro e ainda voar contando vantagem. Os piores momentos desta eleição envolveram Marçal: sua acusação de que Tabata foi responsável pela morte do pai, de que Boulos usa cocaína, de que Datena é estuprador (e a cadeirada na sequência), o seu sofrimento fake na ambulância e agora sangue arrancado do marqueteiro de Nunes. Tudo para causar e ser visto.

Repito o que disse após o início dos debates: a imprensa, talvez na melhor das intenções, está ajudando a dar palanque a alguém que quer esquartejar a democracia. E usar os pedacinhos para monetizar cortes de vídeo nas redes.

Com o sangue escorrendo da cabeça do marqueteiro de Ricardo Nunes após agressão da equipe de Pablo Marçal, o coach enterra o discurso vitimista que abraçou desde a cadeirada de José Luís Datena (PSDB). Agora, a violência de sua campanha passa a ser física, com as pessoas que ele promete levar para o centro do poder. Dessa forma, São Paulo teve, na noite desta segunda, um vislumbre do que podem ser os seus próximos quatro anos.

Marçal chama para ‘guerra’ em live

A equipe jurídica de Ricardo Nunes (MDB) está reunindo material em que avalia que o adversário Pablo Marçal incita à violência, após a agressão de ontem. Em live feita logo após o episódio, Marçal teria convocado para uma “guerra” e uma “revolta do povo”, entre outros recados com potencial para desestabilizar o processo eleitoral.

A conduta pode ser considerada contrária ao artigo 243 da lei eleitoral que diz que “não será tolerada propaganda de guerra, de processos violentos para subverter o regime, à ordem política e social ou de preconceitos de raça ou de classes”.

Marçal já retirou partes dos vídeos do ar do seu Instagram, mas a coluna teve acesso à íntegra da live que foi salva pelos advogados.

Em um trecho, Marçal diz: “Não dá para lidar com outro jeito com esses bandidos. Nós vamos entrar numa guerra”.

Em outro parte: “Nossos filhos estão na escola sendo erotizados. Isso é comum para você? Aqui é uma alma gritando para a outra. Para o que você está fazendo, mano! Isso aqui é uma fúria! Não faz sentido a gente deixar esses canalhas!”.

“O Datena só quer um contrato. É abusador sexual, sim. Pode pedir quantos direitos de resposta quiser”, continua, atacando o candidato do PSDB. “O Ricardo Nunes tem boletim de ocorrência contra a mulher dele, sim”.

E Marçal continua: “Eu não vou afinar para esses caras. Eu desconheço outra pessoa que aguenta a pressão desses jornalistas. Eles estão investigando tudo. Se vocês voltarem às costas para mim, vocês podem desistir disso aqui! Vai ser o governo dos justos!”.

O candidato do PRTB chega a dizer que o soco foi algo “reprovável” e que não concorda com qualquer tipo de violência, mas afirma que seu assessor agiu em legítima defesa após ser provocado pelo marqueteiro Duda Lima.

Em seguida, ele pede uma “revolta do povo”.

“Fica aqui o meu registro de indignação. Se você não entrar nessa comigo, eu vou ser mais uma voz pelo caminho. Nós não queremos tutores do povo. Escreve aí, grava um vídeo: a revolta do povo. Se não tiver uma revolta…. Eu odeio gente injusta, eu ataco a injustiça de forma frontal”, afirma.

E em outro trecho: “chegou a nossa hora de tomar o Brasil de volta, é o povo”.

Marçal pede doações e vídeos dos seus seguidores na Internet, mas os advogados acreditam que todo o tom da “live”, após um episódio de violência, pode gerar ainda mais violência entre os apoiadores.

Advogados independentes consultados pela coluna afirmam que um episódio isolado de incitação à violência levaria à Justiça a pedir a retirada do conteúdo do ar, mas se a conduta for reiterada pode levar à cassação.

Não há possibilidade, contudo, de responsabilizar Marçal pela atitude individual de seu assessor de ter dado o soco.

A equipe jurídica de Nunes ainda não definiu se dará seguimento ao processo.

O discurso de Marçal tem muito apelo junto aos bolsonaristas, um público que o prefeito quer conquistar.

Hoje os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro estão divididos entre Marçal e Nunes, conforme apontam as pesquisas de intenção de voto.

Pablo Marçal só tem M na cabeça

O oitavo debate eleitoral de São Paulo, promovido pelo Flow, trouxe uma boa notícia. O grau de abjeção de Pablo Marçal não aumentou. Continua nos mesmos 100%. Descobriu-se, afinal, por que o candidato pede com tanta insistência às pessoas que reproduzam com os dedos indicador, médio e anelar a inicial do seu sobrenome. Marçal só tem ‘M’ na cabeça.

Conseguiu estragar nas considerações finais o que seria o debate mais propositivo da temporada. Pervertendo as regras, Marçal referiu-se pejorativamente ao rival Ricardo Nunes. Advertido uma, duas, três vezes, foi expulso quando faltavam dez segundos para soar o gongo. Seguiu-se um lufa-lufa que levou a política para a delegacia de polícia.

Um dos brucutus que assessoram Marçal arrancou sangue do rosto do marqueteiro de Nunes com um soco. Súbito, a cadeirada virou fichinha. Tudo isso ocorreu apenas três dias depois de Marçal ter declarado, no debate anterior, que já havia mostrado a sua “pior versão”. Rejeitado no Datafolha por quase metade do eleitorado (47%), prometera uma “postura de governante”.

Na sua “melhor versão”, Marçal trocou xingamentos com Nunes na chegada, respondeu com embromação a indagações objetivas de especialistas e eleitores e cutucou Guilherme Boulos e José Luiz Datena com provocações subliminares. Numa tabelinha com Marina Helena, teve tempo para defender a atuação anticientífica de Bolsonaro na pandemia da covid.

Na quinta-feira, sai uma nova rodada do Datafolha. As entrevistas serão realizadas durante três dias. Começam nesta terça e vão até a própria quinta. A sondagem captará os efeitos do destempero e do soco. Até aqui, o eleitorado sinaliza a intenção de atender parcialmente ao desejo de Marçal, resolvendo sua situação já no primeiro turno. Em vez da vitória, o expurgo.


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