Poder
Comportamento tóxico de Bolsonaro une diferentes no mesmo lado do campo político
Publicado em 28/09/2022 10:44 - Josias de Souza (UOL), UOL, DW, Paulo Donizetti de Souza (RBA) – Edição Semana On
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Na reta final da eleição para presidente, diversas personalidades estão manifestando apoio a Lula (PT). São pessoas de áreas diferentes, desde o campo jurídico, como Celso de Mello e Joaquim Barbosa, ex-ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), e até do mundo do entretenimento, como Angélica. A onda de apoio acontece para evitar a reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
“O que está ocorrendo no Brasil é um movimento genuíno de rejeição a um presidente que percorre o país com uma agenda tóxica, em que ele questiona urna eletrônica, ameaça não reconhecer o resultado da eleição e se contrapõe ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ele se abstém de responder a uma dúvida sobre a origem de dinheiro do gabinete dele, que está pagando despesas da mulher dele”, comentou o jornalista Josias de Souza no UOL News.
Outras que declararam seu apoio à Lula foram Xuxa e Angélica, que disse não ter cogitado votar em Bolsonaro. “E para fechar o conjunto, você vê a primeira-dama, que deveria atrair eleitorado feminino, brigando nas redes sociais com Bruna Marquezine – uma atriz que apareceu elegantérrima. Ela é linda, vestido é lindo, com transparência. E aí vem a Michelle dizer que é de mau gosto, feio. Então, é contra esse ambiente que está se formando corrente contrária ao Bolsonaro”, diz Josias.
Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), também declarou apoio à candidatura de Lula nesta semana. Isso aconteceu por intermediação de Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente na chapa do petista.
“Isso é importante porque caracteriza esse movimento que Lula tenta fazer em direção ao centro. Na prática, Lula ocupou a terceira via, eliminando e suprimindo alternativas que havia nesse campo. Ele foi bem-sucedido nesse movimento iniciado quando indicou Alckmin para ser vice. Foi o Alckmin, pelo que eu soube, quem costurou a adesão de Joaquim”, contou Josias de Souza.
O apoio de Barbosa, isolado, não teria tanta força. Mas ganha peso no contexto geral. “Se você analisa individualmente, é só mais um apoio. Mas se você considera tudo que vem acontecendo… Lula teve apoio da [candidata a deputada federal pela Rede] Marina Silva, depois do [ex-presidente do Banco Central] Henrique Meirelles, do Miguel Reale Jr., que é um jurista identificado com o tucanato, e houve até o apoio em mímica do [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso, que não disse o nome do Lula, mas fez mensagem cifrada insinuando que o voto em [Jair] Bolsonaro é inadmissível”, lembrou Josias.
Por fim, o colunista também lembrou que Barbosa atuou contra petistas no processo do mensalão. “Ele foi o relator e foi absolutamente draconiano com petistas envolvidos naquele escândalo. Ele enviou para cadeia a cúpula do PT, a nata do PT e seus aliados. O trabalho dele como relator foi essencial para o desfecho do mensalão. Então, ter apoio de um algoz do PT tem um peso muito grande”.
Nas pegadas de Joaquim Barbosa outro algoz do petismo no Supremo Tribunal Federal aderiu à candidatura de Lula: o ex-decano da Corte Celso de Mello. Convidado a gravar um vídeo, o ministro aposentado preferiu escrever uma carta. O texto foi divulgado pela repórter Vera Magalhães, no jornal O Globo. Contém avaliações cáusticas sobre Bolsonaro e sua presença no Planalto.
Celso de Mello soou incandescente desde a primeira linha: “A atuação de Bolsonaro na Presidência da República revelou a uma nação estarrecida por seus atos e declarações a constrangedora figura de um político menor, sem estatura presidencial, de elevado coeficiente de mediocridade.”
Para o ex-ministro, que presidiu o Supremo no biênio 1997-1999, Bolsonaro é “adepto de corrente ideológica de extrema-direita que perigosamente nega reverência à ordem democrática, ao primado da Constituição e aos princípios fundantes da República, e cujo comportamento vulgar, de todo incompatível com a seriedade do cargo que exerce.”
No julgamento do processo do mensalão, que enviou para a cadeia a cúpula do PT, Celso de Mello foi implacável. No atacado, acompanhou as posições do então relator Joaquim Barbosa, que também foi inclemente com a corrupção petista. Por isso, a adesão da dupla a Lula tem forte simbologia política. Reforça a constatação de que o antibolsonarismo tornou-se a maior força política de 2022. O antipetismo não desapareceu. Mas Bolsonaro conseguiu suplantá-lo.
Nas últimas linhas de sua carta, Celso de Mello dá ao seu voto uma aparência de legítima defesa. Ele menciona o “desapreço” de Bolsonaro pelo “regime em que se estrutura o Estado Democrático de Direito.”
Arremata o texto assim: “Em defesa da sacralidade da Constituição e das liberdades fundamentais, em prol da dignidade da função política e do decoro no exercício do mandato presidencial e em respeito à inviolabilidade do regime democrático, tenho uma certeza absoluta: NÃO votarei em Jair Bolsonaro! É por tais razões que o meu voto será dado em favor de Lula no primeiro turno.”
Economistas lançam carta por voto útil em Lula
Um grupo de 38 economistas ligados a instituições de ensino do Brasil e do exterior divulgou uma carta em defesa do voto útil nas eleições presidenciais de 2 de outubro.
Embora não concordem com todas as políticas do PT em gestões passadas, os economistas afirmam que o voto em Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno é a melhor opção para o Brasil no momento.
“Em que pesem sérias discordâncias a respeito de políticas implementadas no passado por governos do PT, reconhecemos no ex-presidente Lula a única liderança capaz de derrotar o atraso maior representado pelo atual governo. Viabilizar a sua vitória em primeiro turno nos parece a resposta mais contundente, segura e efetiva de proteção à democracia no Brasil, aumentando assim o compromisso do futuro governo com políticas que unifiquem o país”, diz a carta intitulada Economistas defendem voto em Lula no primeiro turno.
Os economistas estão ligados a universidades brasileiras – FGV, UFF, UFPE, Puc-Rio, USP e Insper – e estrangeiras: George Washington University, Johns Hopkins University, Princeton, University of California – Davis, University of California – Los Angeles, University of California – San Diego, University of Delaware e Yale, dos Estados Unidos; University of Cambridge, University College London e London School of Economics, do Reino Unido; e University of British Columbia, do Canadá.
Os especialistas da área econômica argumentam que “as ações e a inépcia do atual governo causaram um desastre no processo de desenvolvimento institucional e socioeconômico do país, afetando dramaticamente o bem-estar da população brasileira”.
Má gestão de Bolsonaro
Sem citar Jair Bolsonaro nominalmente, eles apontam que o atual presidente “promoveu o desmonte do aparato de fiscalização de crimes ambientais; adotou uma política de saúde “calamitosa” , gerindo mal a pandemia de covid-19 e demonstrando “total falta empatia com as pessoas que sofriam com a morte de entes queridos” pela doença; não fez “qualquer avanço na política educacional”; e adotou uma política de segurança pública pautada por “estimular a resolução de conflitos de forma individual e violenta”, facilitando o acesso da população a armas de fogo e munições.
Na área econômica, segundo o grupo, Bolsonaro desmontou o orçamento federal e criou “gastos direcionados a grupos de eleitores e interesses específicos meses antes da eleição – uma afronta às instituições eleitorais”.
“Apesar da retórica, houve um desmonte da capacidade institucional de combate à corrupção, e várias denúncias envolvendo o atual governo, o próprio presidente e seus familiares não foram esclarecidas”, diz o texto.
Os economistas finalizam a carta dizendo que o atual presidente fez e continua fazendo “reiteradas ameaças à democracia, agredindo o judiciário, afirmando que não respeitará os resultados da eleição e fomentando um clima de profunda instabilidade e o risco real de ruptura institucional”.
Pesquisa Genial/Quaest reitera chance de Lula vencer no 1º turno
O ex-presidente Lula repete tendência de alta também na pesquisa Genial/Quaest divulgada nas primeiras horas desta quarta-feira (28). Lula subiu 2 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior do mesmo instituto, e agora está com 46%. Jair Bolsonaro, por sua vez, também segue o mesmo comportamento das demais sondagens, nas quais ou fica parado ou cai. No caso de hoje, perdeu 1 ponto e agora está com 33%. Desse modo, a vantagem de Lula, que era de 10 pontos na semana passada, subiu para 13.
O percentual de Lula supera também a soma dos demais adversários, que chega a 45%. Ou seja, o candidato da coligação Brasil da Esperança venceria no primeiro turno, pois estaria com 50,5% dos votos válidos, 1 ponto acima dos demais – mas ainda dentro de uma margem de erro apertada.
Ocorre que é a primeira vez que a pesquisa Genial/Quaest traz Lula matematicamente em posição de evitar o segundo turno. Além disso, a curva do candidato do PT é de alta. “Como Lula já tem, na margem de erro da pesquisa, vantagem matemática para vencer a eleição no primeiro turno, o voto útil pode ampliar essa possibilidade. Entre eleitores de Ciro, Tebet e outros candidatos, 24% mudariam o voto para Lula vencer no 1º turno”, diz o diretor da Quaest, Felipe Nunes.
Dos eleitores de Ciro, 27% mudariam o voto para Lula vencer no 1º turno (ou seja, 1,62 pontos); dos eleitores de Tebet, 30% (ou 1,5 ponto). Isso daria para Lula 49,12% dos votos totais, ou 53,9% de votos válidos, observa Nunes.
Além disso, a rejeição do presidente Bolsonaro passou de 52% para 55%, enquanto a rejeição de Lula passou de 47 para 44%. Ou seja, a maré está totalmente desfavorável para Bolsonaro reverter o quadro.
Intenção de voto estimulada para presidente
Ciro Gomes (PDT) tem 6%, Simone Tebet (MDB), 5% e Soraya Thronicke (União Brasil), com 1%. Felipe D’Avila (Novo), Vera Lucia (PSTU), Sofia Manzano (PCB), Padre Kelmon (PTB), Leonardo Péricles (UP) e José Maria Eymael (DC) não pontuaram.
– Lula (PT) — 46%
– Bolsonaro (PL) — 33%
– Ciro Gomes (PDT) — 6%
– Simone Tebet (MDB) — 5%
– Soraya Thronicke (União Brasil) — 1%
– Felipe D’Avila (Novo) — 0
– Vera Lucia (PSTU) — 0
– Sofia Manzano (PCB) — 0
– Padre Kelmon (PTB) — 0
– Leonardo Péricles (UP) — 0
– José Maria Eymael (DC) — 0
– Indecisos – 5%
– Branco/Nulo/Não vai votar – 4%
A pesquisa Genial/Quaest ouviu 2 mil pessoas entre 24 e 27 de setembro, presencialmente, e a margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento tem registro número BR-04371/2022 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em um eventual segundo turno, Lula supera Bolsonaro por 52% a 38%.
Bolsonaro acorrentou-se à retórica de mau perdedor
Em mensagem de WhatsApp enviada os “homens” do comitê da reeleição, Bolsonaro enalteceu a vitória na Itália da ultraconservadora Giogia Meloni, uma admiradora de Mussolini. “Aprendam a ser homem com essa mulher”, anotou. Depois, numa conversa com devotos no cercadinho, transmitida pela internet por um canal bolsonarista, o presidente se queixou dos aliados que lhe pedem “calma” e “paciência”. Ameaçou: “Quem falar isso pra mim é carão vermelho”.
Bolsonaro estacionou em 31% das intenções de voto nas últimas quatro rodadas da pesquisa do Ipec (ex-Ibope). Lula cresceu quatro pontos no mesmo período, atingindo 48%. Alheio às evidências de que seu estilo não rende votos, Bolsonaro continua acorrentado a uma retórica radioativa. No cercadinho, atacou a missão de observadores enviados pela OEA para acompanhar as eleições no Brasil. “Vêm observar o quê?”, indagou, antes de se encontrar no Planalto com o chefe da missão, o ex-chanceler paraguaio Rubén Ramirez Lezcano.
Horas depois, em sabatina noturna na TV Record, Bolsonaro despejou diante das câmeras um coquetel de lamúrias que lhe dão uma aparência de mau perdedor antes da contagem do primeiro voto. Desdenhou das pesquisas, acusou o TSE de persegui-lo para “atrapalhar” a sua campanha, pôs em dúvida as urnas eletrônicas e esquivou-se de assumir o compromisso de aceitar uma eventual derrota: “Vou esperar o resultado”, afirmou.
Nesta terça-feira, o plenário do TSE julga decisões individuais que proibiram Bolsonaro de usar em sua propaganda imagens do discurso eleitoral que fez na ONU e de continuar usando o Alvorada como palanque eletrônico para a transmissão de suas lives semanais. Para dessossego de Bolsonaro, a tendência é de que o colegiado mantenha as restrições. O capitão terá novo curto-circuito.
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