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Evangélicos? Comunistas? Não, polarização é Lula vs Bolsonaro, diz pesquisa
Publicado em 13/05/2024 10:30 - Semana On, Leonardo Sakamoto (UOL) – Edição Semana On
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A dois anos e quatro meses da próxima eleição presidencial, pesquisa Genial/Quaest aponta que 47% votariam pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O levantamento é o primeiro a ser feito pelo instituto sobre o pleito de 2026.
Na sequência, aparecem o ex-presidente Jair Bolsonaro (39%), que está inelegível até 2030, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (33%), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (32%), e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (28%).
Apesar de aparecer na segunda colocação, caso não estivesse inelegível, Bolsonaro enfrentaria dificuldades para retornar ao Palácio do Planalto, pois lidera a pesquisa quando se trata de rejeição.
Entre os entrevistados, 54% afirmam que não votariam no ex-presidente, seguido por Haddad (50%), Michelle (50%), Lula (49%), a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (34%) e Tarcísio (30%).
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, foi apontado como o menos conhecido pelos entrevistados (60%). Na sequência, estão o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (57%); Gleisi (53%); o governador do Paraná, Ratinho Júnior (50%), e Tarcísio (39%).
A pesquisa Genial/Quaest realizou 2.045 entrevistas presenciais e tem margem de erro estimada de 2,2 pontos porcentuais. A coleta ocorreu entre os dias 2 e 6 de maio, com brasileiros com 16 anos ou mais, em todos os Estados.
50% aprovam o trabalho de Lula e 47% desaprovam
A pesquisa Quaest aponta que 50% dos entrevistados aprovam o trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por outro lado, 47% desaprovam. Esta é a primeira vez que o percentual dos que aprovam e desaprovam empata tecnicamente. Outros 3% não souberam ou não responderam.
O levantamento encomendado pela Genial Investimentos ouviu 2.045 pessoas, em 120 municípios, entre os dias 2 e 6 de maio. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
A aprovação do trabalho de Lula oscilou um ponto percentual para baixo e a reprovação um ponto para cima em relação à última pesquisa, realizada em março. À época, 51% dos entrevistados aprovavam o trabalho do presidente, enquanto 46% desaprovavam.
Índices do presidente Lula
Aprova: 50%
Desaprova: 47%
Não sabe ou não respondeu: 3%
Em abril, o governo lançou uma campanha com viagens pelo país e inauguração de obras para tentar melhorar a popularidade do presidente, que conta também com uma tentativa de aproximação ao eleitorado religioso. Segundo apuração do blog da Andreia Sadi, também faz parte da estratégia do governo mirar o público que considera a gestão como “regular”.
Avaliação por setores
“A aprovação parou de cair, muito porque [a avaliação de Lula] parou de piorar no Sul e entre os evangélicos. As pessoas ainda têm uma percepção negativa da economia, acham que Lula não está entregando o que prometeu”, afirma Felipe Nunes diretor da Quaest.
A pesquisa indica que, entre os evangélicos, o índice de desaprovação de Lula agora é de 58% (era de 62% em março), se igualando ao percentual observado entre os católicos (que se manteve estável em 58% entre as pesquisas).
Já a aprovação entre os evangélicos passou de 35% para 39% no mesmo período. A margem de erro máxima para esse grupo é de 4 pontos percentuais.
A maior variação na avaliação positiva do trabalho de Lula entre março e maio aconteceu na região Sul, subindo sete pontos percentuais, de 40% para 47%. Já a rejeição, que era de 57% (a maior entre as regiões), passou para 52%. A margem de erro máxima nesse recorte da pesquisa é de 6 pontos percentuais.
Avaliação geral do governo
A Quaest também perguntou como os entrevistados avaliam o governo Lula de forma geral.
Segundo o levantamento, 33% avaliam o governo de forma positiva, mesmo percentual dos que avaliam de forma negativa. Não souberam ou não responderam somam 3%.
Na comparação com a pesquisa anterior, a avaliação positiva do governo oscilou 2 pontos percentuais para baixo (antes era 35%). Já a avaliação negativa oscilou 1 ponto para baixo (era de 34%). Os que consideram o governo regular subiram de 28% para 31%.
Avaliação geral do governo Lula:
Positiva: 33%
Negativa: 33%
Regular: 31%
Não sabem/Não responderam: 3%
Rumos do governo
Os entrevistados também foram questionados sobre se o país está indo na direção certa ou errada. Para 49%, o país está na direção errada, contra 41% que consideram que a direção é correta. Já 10% não souberam ou não responderam.
Sobre as intenções de Lula, 51% responderam que consideram o presidente bem-intencionado. Já 42% disseram que Lula não é bem-intencionado. Outros 7% não souberam ou não responderam.
Em relação às promessas de campanha, 63% consideram que Lula não tem conseguido fazer aquilo que prometeu. Já 32% consideram que o presidente tem conseguido fazer o que prometeu, e 6% não souberam ou não responderam.
A Quaest também perguntou para os entrevistados para quem acham que o governo Lula trabalha. A maioria (52%) considera que o governo trabalha para atender às necessidades de todos; 35% acham que o governo trabalha para atender às necessidades de quem votou em Lula, e 13% não souberam ou não responderam.
Economia
Para 38% dos entrevistados, a economia no Brasil piorou nos últimos 12 meses. Para 32%, ficou do mesmo jeito. Já para 27%, a economia melhorou.
Nos últimos 12 meses, a economia do Brasil:
Piorou: 38%
Ficou como estava: 32%
Melhorou: 27%
Expectativa para o futuro
A pesquisa perguntou, ainda, o que os entrevistados esperam da economia brasileira nos próximos 12 meses.
Segundo a Quaest, 48% dos entrevistados afirmaram que têm a expectativa de que a economia vai melhorar. Para 30%, a economia vai piorar. Além disso, 19% acreditam que vai permanecer como está. Por fim, 3% não souberam ou não responderam.
Polarização é Lula vs Bolsonaro, diz pesquisa
De 0 a 10, o quanto você gosta de evangélicos? E de comunistas? De ateus? E de petistas e bolsonaristas? Essa foi a pergunta que outra pesquisa Genial/Quaest, divulgada no sábado (11), fez a mais de 2 mil pessoas.
O objetivo foi medir a polarização afetiva, ou seja, os sentimentos de desafeição e o desejo de distanciamento social a pessoas que fazem parte de outro grupo. E os resultados mostram que a polarizacão no Brasil não está na opinião sobre religião, direitos humanos ou mesmo comunismo, mas concentrada na relação entre petistas e bolsonaristas.
O instituto pediu aos entrevistados responderem em uma escala de zero (totalmente contra) a dez (totalmente a favor), quanto gostavam de oito grupos.
A nota média foi: evangélicos (7,2), defensores de direitos humanos (7,2), petistas (4,5), bolsonaristas (3,9), ateus (2,5), comunistas (2,2), defensores da ditadura (2) e racistas (0,9). A margem de erro de 2,2 pontos.
Os que votaram em Jair Bolsonaro no segundo turno de 2022 deram média de 7,3 para os bolsonaristas e avaliaram os petistas com nota 1,7. Já os eleitores de Lula deram 1,8 para os bolsonaristas e 6,7 para os petistas.
Entre os que não votaram em ninguém, seja porque não compareceram à urna, seja porque optaram por branco ou nulo, a avaliação dos petistas (média 3,8) é semelhante à dos bolsonaristas (3,6).
“A pesquisa mostra que há grande diferença de acordo com a preferência político-eleitoral, mas que outras identidades e orientações políticas não parecem muito afetadas pela polarização afetiva. Eleitores de Lula desgostam de bolsonaristas e eleitores de Bolsonaro desgostam de petistas”, avalia Pablo Ortellado, coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo.
“Em geral, nestes estudos o importante é a diferença na ‘escala de calor’ entre gostar do próprio grupo e gostar do grupo adversário. Esse intervalo no caso brasileiro é bastante elevado para os padrões internacionais”, diz.
Vale ressaltar que a única comparação acima da margem de erro é sobre a avaliação que eleitores de Lula e Bolsonaro têm de petistas e bolsonaristas.
Evangélicos e comunistas
Outros três grupos que tiveram mais de um ponto de diferença na comparação entre respostas de eleitores de Lula e de Bolsonaro foram evangélicos, defensores dos direitos humanos e comunistas.
Evangélicos, grupo cuja maioria votou no ex-presidente, recebeu nota 7,9 dos que votaram em Bolsonaro, 6,7 dos que optaram por Lula e 7,3 entre quem não votou em ninguém.
A situação se inverte quando a questão é sobre os defensores de direitos humanos, criticados pela extrema direita. Eles receberam nota 7,9 dos eleitores de Lula, 6,4 dos que foram com Bolsonaro e 7,1 entre quem optou por ninguém em 2022.
E apesar de registrarem nota baixa nos três grupos, os comunistas foram um pouco melhor entre eleitores de Lula (2,7) do que entre os de Bolsonaro (1,6) e os que não votaram em ninguém (2,3).
Gênero, idade, região, religião
Quando as respostas são divididas por gênero, há diferença na avaliação de defensores dos direitos humanos, com mulheres dando média de 7,7 e homens 6,7.
Na divisão por idades, bolsonaristas tiveram 3,2 entre quem tem 60 anos ou mais e 4,2 entre os que estão entre 16 e 34 anos. Já comunistas e defensores de direitos humanos têm 2,9 e 7,7, respectivamente, entre o grupo mais jovem e marcam 1,5 e 6,7 junto ao mais velho.
Petistas têm sua melhor avaliação no Nordeste (5,6) e sua pior no Centro-Oeste e Norte (4). Ao contrário de bolsonaristas, que contam com sua melhor avaliação no Centro-Oeste e Norte (4,6) e a pior no Nordeste (3,2).
Católicos gostam um pouco mais de petistas, dando a eles nota 4,9, do que de bolsonaristas, que tiveram 3,4. Por outro lado, evangélicos preferem bolsonaristas (5) a petistas (3,7). Por fim, católicos dão nota 6,6 a evangélicos e este segundo grupo dá 8,8 a si mesmo.
Ultrapolarização e destruição do outro
A polarização é vista como natural do jogo político, pois é parte de um processo em que cidadãos reconhecem que seus posicionamentos são semelhantes ou antagônicos aos de outras pessoas e se organizam em grupos para defendê-los. O problema é quando essa polarização se aprofunda ao ponto de desejar o mal de quem pensa diferente.
A redução de contato entre grupos polarizados leva à diminuição de informações sobre o que eles querem, desejam e fazem. Sem informações sobre o outro é mais fácil que as lacunas sejam preenchidas por desinformação. O desconhecido causa medo e passa a ser visto como ameaça. Nesse ponto, aquele que é adversário político a ser vencido se torna inimigo para a ser destruído.
O que justifica o comportamento de lideranças autoritárias que prometem acabar com aqueles que “ameaçam” seus seguidores com suas crenças e seu modo de vida. Um processo de desumanização que tem terminado em violência, como foi o caso do 6 de janeiro de 2021, nos Estados Unidos, e no 8 de janeiro de 2023 no Brasil.
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