Poder
Marçal confessa que faz o 'I', de imbecil, para chamar a atenção
Publicado em 25/09/2024 9:54 - André Richter (Agência Brasil), Josias de Souza (UOL) – Edição Semana On
Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, condenou ontem (24) episódios de violência envolvendo candidatos e seus assessores na campanha eleitoral.
Sem citar casos específicos, a ministra determinou que a Polícia Federal (PF), o Ministério Público e os tribunais regionais eleitorais (TREs) priorizem a investigação e julgamento de processos envolvendo a questão durante a campanha eleitoral.
Durante a abertura da sessão desta noite, Cármen Lúcia disse que a violência praticada na política desrespeita a sociedade e a democracia.
“Por despreparo, descaso ou tática ilegítima e desqualificada de campanha atenta-se contra cidadãs e cidadãos, atacam-se pessoas e instituições e, na mais subalterna e incivil descompostura, impõe-se às pessoas honradas do país, que querem entender as propostas que os candidatos têm para a sua cidade sejam elas obrigadas a assistir cenas abjetas e criminosas, que rebaixam a política a cenas de pugilato, desrazão e notícias de crimes”, afirmou.
A presidente também afirmou que candidatos e auxiliares de campanha devem respeitar a democracia brasileira.
“Há que se exigir, em nome do eleitorado brasileiro, que candidatos e seus auxiliares de campanha deem-se ao respeito. E se não se respeitam, respeitem a cidadania brasileira, que ela não está à mercê de cenas e práticas que envergonham e ofendem a civilidade democrática”, disse.
Cármen Lúcia alertou que os partidos, que usam recursos públicos nas campanhas, não podem compactuar com episódios de violência.
“Não podem [partidos] pactuar com desatinos e cóleras expostas em cenas de vilania e desrespeito aos princípios básicos da convivência democrática”, completou.
As declarações da ministra ocorrem um dia após mais um caso de violência registrado na campanha para a prefeitura de São Paulo. Ontem (23), Duda Lima, publicitário do atual prefeito e também candidato Ricardo Nunes (MDB), foi agredido por Nahuel Medina, assessor do candidato Pablo Marçal (PRTB).
A agressão ocorreu no final do debate eleitoral realizado pelo grupo Flow, proprietário de um podcast na internet.
Há duas semanas, o candidato Datena (PSDB) agrediu Marçal com uma cadeira durante debate realizado pela TV Cultura.
Reação de Marçal a aviso do TSE é um flerte com a inelegibilidade
A manifestação da ministra Cármen Lúcia foi ácida. “Há que se exigir, em nome do eleitorado brasileiro, que candidatos e seus auxiliares de campanha deem-se ao respeito”, disse a presidente do TSE. “E se não se respeitam, respeitem a cidadania brasileira, que ela não está à mercê de cenas e práticas que envergonham e ofendem a civilidade democrática.”
A ministra não deu nome aos bois, mas mandou um aviso à manada. Disse ter enviado ofício à Polícia Federal, ao Ministério Público e aos presidentes dos Tribunais Regionais Eleitorais exigindo que tenham “celeridade”, “prioridade” e “efetividade” nas investigações e julgamentos referentes à violência nas eleições municipais.
Destinatário óbvio da mensagem da chefe da Justiça Eleitoral, Pablo Marçal não se deu por achado. Expulso na véspera de um debate em que sua baixaria foi enfeitada pelo soco do seu cinegrafista no rosto do marqueteiro de Ricardo Nunes, o baderneiro enxergou nas palavras de Cármen Lúcia reprimendas para os outros, não para ele.
“Eles precisavam ouvir esse puxão de orelha”, disse Marçal. Fingindo-se de morto, referia-se ao rival José Luiz Datena, de quem recebeu uma cadeirada; ao marqueteiro Duda Lima, que levou seis pontos no supercílio; e ao cinegrafista Nahuel Medina, o assessor que deu o soco.
Habitualmente direta, Cármen Lúcia foi ao ponto: “A agressão física, os atentados contra pessoas – em especial contra mulheres – e todas as agressões praticadas no processo eleitoral e que vêm aumentando em demonstração de ensurdecedor retrocesso civilizatório não serão tolerados por essa Justiça Eleitoral”. Expôs a zanga de uma mulher da lei. Ao ignorá-la, Marçal cutuca o TSE com o pé para ver se ele morde. O último que fez isso, Bolsonaro, foi banido das urnas até 2030.
Marçal confessa que faz o ‘I’, de imbecil, para chamar a atenção
Pablo Marçal tornou-se um baderneiro sui generis. Exerce a estupidez com didatismo inédito. Para facilitar a leitura da campanha, Marçal como que soletra o processo eleitoral.
O candidato pede aos paulistanos que façam o ‘M’. Mas admite que faz o ‘I’, de “imbecil”, para chamar a atenção. “Sei que ainda sou visto como um imbecil”, disse Marçal em entrevista coletiva. “Mas se eu não chamasse atenção, não teria como competir.”
Marçal trocou sua estratégia em miúdos um dia depois de ser expulso, a dez segundos do final, do debate transmitido na internet pelo Flow. “Eu não quero lacrar, mas é minha única saída”, afirmou. “Eu não sou esse idiota.”
O nanico PRTB, partido de aluguel que Marçal escolheu como abrigo de sua candidatura, não dispõe de propaganda no rádio e na TV. “As redes [sociais] eram minha única vantagem”, declarou Marçal. “Essa eleição é desproporcional.”
A onze dias do primeiro round da eleição, Marçal continua fazendo o que pode para reduzir o eleitorado só a idiotas, o que melhoraria consideravelmente sua posição nas pesquisas.
O diabo é que, ao enlamear eleição, chamando todo mundo para a briga no lodo, Marçal acaba iluminando o lado obscuro de sua personalidade. Escarnece da democracia, zomba de sua condenação criminal, abusa da difamação e da calúnia.
Outro problema da tática da baderna é que tem muita gente em São Paulo tentando descobrir que soluções os candidatos oferecem para os seus problemas. E o ‘P’, de “programa”, é algo que não consta do abecedário de Marçal senão como enfeite para ludibriar tolos.
Deixe um comentário