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Brasileiros que deixaram Gaza tentam agora resgatar parentes que ficaram: Brasil deve elevar tom com Israel, dizem especialistas

Exploração política da lista de Gaza pelo bolsonarismo é a falência da decência

Publicado em 13/11/2023 11:48 - Jamil Chade e Josias de Souza (UOL), Agência Brasil – Edição Semana On

Divulgação

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O grupo de 32 pessoas formado por brasileiros e parentes que conseguiram sair de Gaza no fim de semana iniciou, na manhã de hoje (13), o trajeto entre o Cairo e Brasília. O voo organizado pelo governo brasileiro decolou do Egito às 11h51 do horário local (6h51 de Brasília) e a previsão é a de que chegue a Brasília às 23h30 de hoje.

Mas longe de terminar uma saga de mais de um mês, a viagem é marcada pelo desejo de vários deles de iniciar um processo para retirar do território palestino o restante de suas famílias.

Um dos passageiros que embarcou nesta manhã, Hasan Rabee, deixou claro quais são seus projetos ao chegar nesta noite em Brasília:

“Quero trazer minha família ao Brasil. Não há outro plano”, disse Hasan Rabee, brasileiros que deixou Gaza.

Ele ficou conhecido por seus vídeos que descreveram o cotidiano das famílias brasileiras em Gaza. Mas deixou para trás três pessoas que, agora, espera poder socorrer.

O Itamaraty informou que está avaliando os pedidos. Mas alertou que, neste momento, não se sabe nem quantas pessoas estariam interessadas e nem quando haveria uma nova possibilidade dada pelos israelenses para que listas sejam apresentadas com estrangeiros ou parentes que consideram sair.

Diplomatas brasileiros explicaram que, quando a guerra começou, Israel deu um prazo para que listas de nomes fossem apresentadas por cada um dos governos. Como ocorre em todas as embaixadas do Brasil pelo mundo, nem todos os brasileiros naquele local estão registrados nas representações do Itamaraty. Essa também era a situação com o posto brasileiro em Ramallah.

Depois de encerrada as inscrições, outras pessoas se mostraram interessadas em sair. Mas já não puderam ter seus nomes adicionados às listas.

Algumas estimativas apontam que haveria o interesse de pelo menos mais 40 pessoas. No caso dos brasileiros que já embarcam ao país, vários deles demonstram o mesmo objetivo de Hasan. O governo aponta que, neste estágio, está ainda considerando a nova lista.

Se parte do grupo pensa em retirar mais gente de Gaza, outros não disfarçam o alívio com a partida.

“Estou calma, estou feliz e estou animada”, disse Shahed Al Banna, de 18 anos. Ela é de São Paulo. Mas estava em Gaza há um ano e meio.

“Eu não vejo a hora de chegar ao Brasil”, afirmou por telefone, já no ônibus que a levava do Cairo ao aeroporto.

Depois de mais de um mês de incertezas, tensão e lobby diplomático intenso, os 32 brasileiros e seus dependentes que estavam em Gaza finalmente cruzaram a fronteira neste domingo para o Egito e deixaram a zona atingida pela guerra que já fez mais de 11 mil mortos.

Os brasileiros estavam na lista de nomes que poderiam deixar Gaza e, usando a passagem de fronteira de Rafah, entraram no Egito. Mas, enquanto faziam o percurso até a fronteira na sexta-feira, um impasse entre israelenses, egípcios e o Hamas novamente fechou a passagem e eles voltaram a ficar retidos.

Pelas regras do acordo que existe para a saída de pessoas de Gaza, a prioridade é dada para as ambulâncias que transportam feridos. Nos últimos dias, Israel acusou o Hamas de tentar esconder seus membros nas ambulâncias e o acordo foi suspenso.

Na sexta-feira, o impasse aumentou diante da forte presença militar israelense e combates ao redor de hospitais, que impediram a saída de ambulâncias.

Neste domingo, porém, houve um acerto e, depois da retomada do fluxo de feridos, foi a vez de os brasileiros e outros estrangeiros passarem pela fronteira.

O caso da evacuação vinha criando uma tensão entre o governo de Israel e o governo brasileiro. Os israelenses haviam sinalizado que a saída poderia ocorrer na quarta-feira. Mas, depois de dois atrasos sucessivos, os nomes finalmente foram incluídos na lista.

A espera de um mês gerou tensão e fortes preocupações dentro do governo brasileiro. No Itamaraty, essa retirada era considerada como prioridade. Qualquer incidente que pudesse causar a morte de um deles seria vista como um fracasso diplomático do governo, com elevado custo político.

Mesmo as ingerências do governo de Israel no Brasil e atos vistos como provocações por parte da diplomacia israelense foram abafados pelo Itamaraty para impedir que “ruídos” atrasassem ainda mais a liberação dos brasileiros.

Trajeto

Ao cruzar a fronteira para o Egito, os brasileiros foram levados até a capital do país. No Cairo, pernoitaram e, nesta manhã, embarcam no vôo da FAB que os aguardava.

Antes de chegar ao Brasil, o jato disponibilizado pela presidência fará paradas para abastecimento em Las Palmas (Espanha) e no Recife. Originalmente, havia uma parada em Roma também, mas a FAB mudou a rota. Só na noite de segunda-feira é que o avião deve aterrizar em Brasília. A expectativa é de que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva os receba na base aérea, num sinal claro da importância política que a operação tem.

Além dos 32 nomes de brasileiros e seus dependentes, havia um total de quase 600 pessoas que seriam beneficiadas pela última lista de pessoas que poderiam deixar Gaza, incluindo russos e chineses.

Metade não tem onde ficar e governo prepara abrigo

No total, o avião transporta 17 crianças, nove mulheres e seis homens: 22 brasileiros e dez palestinos familiares dos brasileiros trazidos no décimo resgate da zona de conflito no Oriente Médio. Antes de embarcar, no Cairo, foram recepcionados por equipes médicas e de psicólogos.

Na chegada ao Brasil, o governo colocou à disposição serviços de abrigo, documentação e alimentação, além de apoio psicológico, cuidados médicos e imunização. Nos próximos dois dias, eles ficarão em Brasília para descanso numa estrutura da FAB.

Se alguns brasileiros contam com parentes no país, mais da metade não tem onde ficar.

“O Governo Federal já preparou, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social, um local onde essas pessoas ficarão acolhidas no interior de São Paulo”, explicou Augusto de Arruda Botelho, secretário nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Segundo ele, não há um prazo para esse atendimento. “Estamos preparados para o tempo que for necessário, para que essas pessoas possam se integrar ao país. Não há prazo limite fixado. Eles ficarão em um local com longa experiência de acolhimento de refugiados da forma mais completa, mais digna, sem prazo”, completou Arruda Botelho.

País tem de elevar tom com Israel, dizem especialistas

Especialistas em Relações Exteriores consideram a operação para repatriar as 32 pessoas que estava na Faixa de Gaza, atacada por Israel, como uma vitória da diplomacia brasileira, sob o comando do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

O professor de Política Internacional e Comparada do programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas (UFMG), Dawisson Belém Lopes disse à Agência Brasil que, com o retorno dos brasileiros, o Brasil conseguiu fazer valer o peso da sua tradição diplomática:

“Isso é muito importante, porque mesmo não sendo um dos países que se alinham automaticamente a Israel, o Brasil sempre busca, em relação a esse conflito israelo-palestino que se arrasta há décadas, uma posição de equidistância e defende a solução de dois Estados (de Israel e da Palestina). Mesmo tendo esse engajamento crítico em relação ao tema, o Brasil, ainda assim, fez valer o peso da sua tradição, a capacidade de trazer para o seu território os seus cidadãos e isso me parece muito positivo. É um sinal que é emitido, que mostra a importância do Brasil no contexto das nações”, afirmou o professor.

Israel liberou primeiro cidadãos de países que o apoiam

Na avaliação de Lopes, mesmo que nas primeiras listas de pessoas autorizadas a deixar Gaza constassem nomes de estrangeiros de países mais alinhados com Israel, o Itamaraty soube conduzir bem as tratativas para repatriar os brasileiros. A primeira lista, que saiu no dia 1° de novembro, autorizou um grupo de 450 estrangeiros a deixar o enclave.

Dos 3.463 estrangeiros autorizados a sair da Faixa de Gaza até a última quarta (8), 1.253 têm passaporte dos Estados Unidos, o que representava 36,1% do total. O principal aliado de Israel na guerra que o país declarou contra o Hamas lidera a lista de nacionalidades autorizadas a deixar a região, até agora.

Além dos Estados Unidos, outros oito países tiveram mais de 100 nacionais autorizados a sair da Faixa de Gaza. Essas nove nações somam 86% do total de estrangeiros autorizados a cruzar a fronteira com o Egito. A segunda nacionalidade mais beneficiada foi a Alemanha, com 335 pessoas, o que representa 9,6% do total. Os brasileiros só foram incluídos na sétima lista.

Desgaste na relação diplomática com governo israelense

“Neste momento, Gaza é o território que sofre uma investida militar muito intensa de Israel e, naturalmente, todo mundo que está naquele território está correndo risco de morte. Por isso que é tão importante, tão urgente, repatriar os brasileiros. E, no agregado, eu diria que o Brasil conseguiu não só o objetivo de trazer essa primeira leva de brasileiros, os que primeiro haviam solicitado o retorno, repatriação, mas também em um tempo célere, porque se considerarmos que nas levas anteriores vieram praticamente apenas aqueles cidadãos dos países que são aliados de primeira hora de Israel, o Brasil conseguiu negociar bem os termos dessa repatriação”, apontou o professor.

Lopes avaliou ainda que a relação com Israel sofreu um desgaste após o episódio envolvendo o embaixador do país no Brasil, Daniel Zonshine, que participou, na quarta (8), na Câmara dos Deputados de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e parlamentares de direita. Na ocasião, ele exibiu um filme com imagens do ataque do Hamas no dia 7 de outubro.

“É natural que haja um estranhamento brasileiro em relação ao que foi feito, sobretudo pelo embaixador de Israel no Brasil. Me parece que ele cruzou uma linha. Ele tentou por caminhos que não são os mais aconselháveis na prática diplomática convencional. Ele tentou influenciar os rumos do debate doméstico brasileiro, envolvendo inclusive um político cujos direitos políticos foram cassados. Um político inelegível, um ex-presidente da República. Isso é grave, me parece problemático.”

Embaixador de Israel se encontrou com bolsonaristas

Entretanto, Lopes não acredita em uma mudança na relação diplomática com Israel, já que o Brasil tem relações históricas com o país do Oriente Médio.

“Há relações entre os dois Estados que são importantes, que extrapolam o nível governamental, que vão além do atual governo de Israel. Então, isso deve ser sempre calculado com muita calma, com muita cautela, com muita racionalidade. Esse é o domínio da diplomacia. A diplomacia não pode reagir de forma temperamental. Tem que sempre ser muito racionalizada essa resposta do Estado brasileiro. Então, eu acho que essa relação vai passar por uma reavaliação a partir de agora, mas eu não vejo no meu horizonte a perspectiva de ruptura”, avaliou Lopes. “A questão é intrincada, nós sabemos que ainda há muitos brasileiros em território palestino”, concluiu.

Neste domingo (12), em entrevista, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi questionado sobre o episódio envolvendo Zonshine, mas limitou-se a dizer que não o conhecia: “não conheço”. O chanceler não respondeu sobre a possibilidade de convocar Zonshine para dar explicações sobre a reunião. Na linguagem diplomática, convocar um embaixador estrangeiro é um gesto importante e que demonstra a gravidade de um assunto para o país anfitrião.

Diplomacia

O monitor do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (OPEB), curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Bruno Fabrício da Silva considera que a operação de repatriação também representou uma vitória da diplomacia brasileira, mas que houve uma demora “excessiva”.

O monitor do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (Opeb), curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Bruno Fabrício da Silva considera que a operação de repatriação também representou uma vitória da diplomacia brasileira, mas que houve uma demora “excessiva”, para autorizar a saída de cidadãos de países aliados de Israel, como os Estados Unidos e a maioria das potências ocidentais.

“A participação direta do presidente e do corpo diplomático em negociações com as autoridades israelenses, palestinas e egípcias destaca o comprometimento do Brasil em proteger seus cidadãos em situações de conflito. Além disso, o suporte oferecido durante o período em Gaza como garantir recursos essenciais e alertar sobre a localização do grupo às autoridades israelenses mostra a atuação proativa da diplomacia brasileira em situações de crise”, afirmou da Silva à Agência Brasil.

Lula já classificou como genocídio os ataques aos palestinos

Para o pesquisador, após a repatriação, o Brasil pode se posicionar de maneira mais assertiva para condenar os ataques de Israel, como já indicado pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou a situação como genocídio.

“O presidente Lula já demonstrou uma postura mais incisiva ao classificar os acontecimentos como genocídio e ao condenar energicamente as ações militares israelenses. A meu ver, a decisão de adotar uma postura mais incisiva pode envolver o risco de prejudicar as relações bilaterais com Israel e seus aliados, mas também pode ser percebida como uma resposta ética e humanitária à gravidade da situação”, avaliou.

Ele aponta ainda que a repatriação dos brasileiros pode, no entanto, ser vista como um movimento alinhado com a postura de outros países sul-americanos, que elevaram o tom diplomático em reação aos ataques israelenses em Gaza, a exemplo do Chile, da Colômbia, da Bolívia e da própria Jordânia, que convocaram seus embaixadores para consultas.

Paradigma diplomático

“A decisão de outros países sul-americanos de aumentar o tom diplomático também pode influenciar o Brasil a adotar uma postura mais firme. No entanto, em situações de crise humanitária e violações graves de direitos humanos, como no conflito entre Israel e Palestina, há pressões crescentes para que os Estados adotem posições mais firmes e expressem claramente sua posição ética e moral sobre os eventos”, pontuou da Silva.

“Em certas situações, é necessário mudar o paradigma diplomático e o peso do Brasil no sistema internacional pode, com uma decisão mais incisiva, de certa forma trazer uma visão mais dura à condenação das ações de Israel em Gaza”, acrescentou.

Colapso

A professora de História Árabe do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e atual diretora do Centro de Estudos Árabes da USP, Arlene Elizabeth Clemesh, também considera que o Brasil deve subir o tom na relação diplomática com Israel.

Arlene avalia que o governo deve sinalizar de maneira enfática que não concorda com o que Israel vem fazendo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Ela também defende a revogação dos acordos militares e de segurança já firmados com Israel.

“É isso que se espera do governo brasileiro, agora que os brasileiros foram liberados. Também seria o caso de considerar uma sinalização de desagrado, na forma da chamada do nosso embaixador em Tel Aviv. Mas o mais importante é a ruptura dos contratos militares e de segurança. Só assim, com o cancelamento de contratos em vários países do mundo, o governo israelense será pressionado a parar o tratamento dado ao povo palestino”, disse a professora à Agência Brasil.

Bebês prematuros morrem em hospital em Gaza

“Gaza, é muito importante que se entenda, colapsou. A sobrevivência hoje em Gaza é do mais apto, do mais resiliente, do que tem sorte de não ser ferido gravemente e conseguir se defender. Incubadoras foram desligadas por falta de energia elétrica e, até onde tenho conhecimento, dois bebês já faleceram. Não há condições mínimas de vida em Gaza. O que está acontecendo é uma combinação de genocídio com limpeza étnica”, criticou.

Arlene também disse que as primeiras listas de pessoas autorizadas a deixar Gaza só beneficiavam países com alianças estreitas com Israel, como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Ucrânia, mas apontou o retorno como um vitória da diplomacia.

“Os brasileiros eram poucos, comparados às mencionadas nacionalidades, que já estavam alocados próximo à fronteira com o Egito, próximo à passagem de Rafah”, observou.

“A libertação dos brasileiros de Gaza, para que pudessem vir ao Brasil em segurança, foi uma enorme vitória para a diplomacia e para o governo brasileiro. Desde os primeiros dias desse ataque a Gaza, o Escritório Permanente de Representação Brasileira na Palestina vinha trabalhando intensamente para organizar logística e diplomaticamente a saída dos brasileiros. O empenho foi muito grande em todas as esferas, mobilizando o Itamaraty, o chanceler e o próprio presidente Lula”, acrescentou.

Exploração política da lista de Gaza é a falência da decência

Bolsonaro perde a Presidência, mas não perde a aparência de cano furado. Assim como o cano com buraco esbanja água em esguichos perdulários, o capitão vaza inverdades com notável exuberância. No seu penúltimo jorro, Bolsonaro despejou nas redes sociais a versão segundo a qual foi graças à sua interferência que Israel finalmente incluiu os brasileiros na sétima lista de estrangeiros autorizados a deixar a Faixa de Gaza.

Nessa versão, Bolsonaro teria conversado com o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, num evento organizado para exibir a parlamentares brasileiros um vídeo com cenas das atrocidades cometidas pelos terroristas do Hamas no ataque que detonou a guerra, em 7 de outubro. Mal o Itamaraty anunciou a inclusão do grupo do Brasil na lista e a milícia digital bolsonarista inundou as redes com postagens que parabenizaram Bolsonaro pelo feito alheio.

Parlamentares petistas, aliados do governo, ministros e até a primeira-dama Janja correram às redes para enaltecer o esforço de Lula e do chanceler Mauro Vieira para repatriar os brasileiros. Instado a comentar a hipotética interferência de Bolsonaro junto ao embaixador, o chanceler Vieira foi seco: “Eu não falo com o embaixador, eu falo com o chefe dele, que é o ministro das Relações Exteriores” de Israel.

Enquanto bolsonaristas e governistas reivindicavam na internet os louros pela liberação tardia, os brasileiros eram barrados no posto de fronteira de Rafah, que dá acesso ao Egito. Em entrevista, Mauro Vieira disse que eles podem sair neste sábado. Ou no domingo. Ou em qualquer outro dia.

Difícil saber o que é pior para os brasileiros submetidos à tranca de Gaza: a frustração pela ausência em meia dúzia de listas, a decepção por ser incluído na sétima relação e não conseguir deixar a zona de guerra ou a sensação de fazer o papel de figurantes numa peça confusa, em que o cenário é a polarização, o protagonista é um mito destrambelhado e o sétimo ato é o aprisionamento numa lista de liberação que não libera.

A conversão do drama humanitário em matéria-prima para a polarização é o cúmulo da indignidade. A exploração política da lista de Gaza é a falência da decência.


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