Poder
De onde vem o dinheiro para os luxos da primeira-dama?
Publicado em 29/09/2022 12:55 - Josias de Souza - UOL
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Bolsonaro ainda não respondeu por que Fabrício Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de sua mulher Michelle. Se um jornalista pergunta, ameaça “meter a porrada.” Quando a coisa parecia já meio esquecida, o capitão colocou sua “ajudadora” em outra fria. A Polícia Federal descobriu que despesas pessoais de madame —do cabeleireiro à baba da filha Laurinha— passam por um assessor da Presidência, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid.
Acionado pela polícia, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes autorizou o esquadrinhamento da comunicação telemática do auxiliar de Bolsonaro. Abespinhado, o presidente subiu no caixote em live noturna: “Alexandre, você mexer comigo, é uma coisa. Mexer com a minha esposa você ultrapassou todos os limites, Alexandre de Moraes. Todos os limites! Você está pensando o que da vida? Que você pode tudo e tudo bem? Você um dia vai dar uma canetada e me prender? É isso que passa pela sua cabeça?”
Sempre que se depara com uma notícia sobre a contabilidade familiar, Bolsonaro revela-se capaz de tudo, exceto de apresentar meia dúzia de explicações. Michelle estaria livre de constrangimentos se o marido evitasse colocar um intermediário oficial na relação financeira do casal. O presidente evitaria maltratar a inteligência alheia se, em vez de fustigar Moraes, levasse ao ar meia dúzia de explicações.
Na véspera, o Planalto havia informado à reportagem da Folha que o tenente-coronel Mauro Cid realiza saques na conta bancária de Bolsonaro. Com esse dinheiro, faz os pagamentos da primeira-família, incluindo as de Michelle. Alega-se que a triangulação monetária é necessária por questões de segurança. Nessa versão, não seria desejável que dados bancários do presidente fossem expostos em extratos de terceiros. Hummmm
Segundo a assessoria do Planalto, “todos esses gastos são pessoais e diários da Michelle. Cabeleireiro, manicure, uma compra no site de roupa e outras coisas. A opção foi não colocar a conta do presidente no extrato da manicure, da fisioterapeuta ou outros gastos diários de uma família com cinco pessoas.” A explicação é tosca.
Em plena era do PIX, ferramenta trombeteada pelo comitê da reeleição, Bolsonaro renderia homenagens à lógica se transferisse o dinheiro diretamente para a conta de sua mulher. Para isso, precisa de um celular, não de um assessor palaciano.
Os saques em dinheiro na boca do caixa estimulam a suspeita de que até o cabeleireiro de madame pode estar sendo bancado pelo déficit público. Bolsonaro pode cortar a investigação e a maledicência pela raiz. Basta demonstrar que a grana não tem origem no bolso do contribuinte.
Noutros tempos, governantes pilhados no contrapé costumavam recorrer ao célebre “eu não sabia”. Nos tempos atuais, a expressão da moda é outra: “De onde vem o dinheiro?” Essa interrogação passará à história como pergunta-lema da era Bolsonaro. Será lembrada quando, no futuro, quiserem recordar o período em que o Brasil foi presidido pelo chefe de uma organização familiar 100% financiada pelo déficit público.
Bolsonaro cultiva uma crença colonial de que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. A família da rachadinha adquiriu imóveis com grana viva? Problema da mídia, que investiga o que não deve. A campanha à reeleição vai a pique? Mentira das pesquisas!
O governo é mal avaliado. Mas os Bolsonaro não param de prosperar. As sondagens eleitorais não prenunciam a derrota do presidente. Elas antecipam a fraude nas urnas. Coisa urdida no TSE por Alexandre de Moraes e sua turma. Nesse de fábula, Michelle e o dinheiro de suas despesas viram asteriscos de uma grande perseguição a um presidente de mostruário.
A campanha chega ao fim, as urnas logo serão abertas. E a pergunta continuará boiando na atmosfera: De onde veio o dinheiro? A interrogação é multiuso. Vale para as rachadinhas, para os depósitos do Queiroz, para os imóveis, para o cabeleireiro, para a babá, para o diabo…
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