Mato Grosso do Sul
O fogo na região começou no último fim de semana e já queimou 400 Km² de área isolada do Pantanal, na divisa entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso
Publicado em 18/10/2024 9:43 - Loraine França – G1MS
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A aldeia indígena Guató da Barra do São Lourenço, localizada no Pantanal, enfrenta há seis dias incêndio de grandes proporções que, conforme estimativa, queimou uma área de 400 Km², na divisa entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. A região atingida pelo fogo está localizada em área isolada e preservada do Pantanal.
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Segundo o cacique Negre, da etnia Guató, as chamas se iniciaram na sexta-feira (11) e podem ter sido causadas por um raio que caiu na região. Plantações e o entorno de casas da comunidade foram consumidos pelo fogo e a situação preocupa a liderança Guató.
“Está morrendo tudo. Nosso Pantanal está acabando. É triste falar isso, mas está acabando”, lamenta o cacique Negre.
O indígena relata que desde 2020, quando 4,6 milhões de hectares foram queimados no bioma, o povo Guató enfrenta dificuldades na subsistência e sente os reflexos que recaem sobre a manutenção da cultura local.
“Muita seca. Tudo que planta morre. Não produz nada e agora o fogo [de novo] queima o solo e não nasce mais nada. É um sentimento de fraqueza, tudo o que a gente planta morre”.
De acordo com o cacique, 30 famílias residem na aldeia indígena mas, em decorrência dos incêndios e consequente baixa produtividade, seis delas precisaram deixar suas casas para trabalhar fora. “O povo Guató planta milho, mandioca, abóbora, batata e outros alimentos. Antes havia muitos frutos na região. Mas, desde 2020, famílias vieram trabalhar na cidade [Corumbá] porque não produzia nada”.
A fumaça dos incêndios também tem causado impactos na saúde do povo Guató. Problemas como dor no peito e falta de ar são alguns dos sintomas sentidos pelos moradores locais, segundo o cacique.
Tempestade de cinzas
Além das consequências diretas causadas pelas chamas, outra preocupação da liderança Guató é com a quantidade de cinzas que cai sobre a região atingida pelo fogo, a chamada “tempestade de cinza”. A aldeia indígena também enfrentou o mesmo problema nos incêndios de 2020.
“Precisamos de máscaras, de soro fisiológico [para hidratação das vias respiratórias] para crianças. Que a Defesa Civil, as instituições locais possam nos ajudar nesse momento difícil que a gente está passando. Que a gente possa ter médico para nos orientar, para cuidar da saúde do nosso povo”, desabafa.
Aumento de fumaça
A fumaça dos incêndios que atingem a Barra do São Lourenço cobriu, nesta quinta-feira (17), uma montanha de mil metros de altura, conforme o Instituto Homem Pantaneiro (IHP). Equipes que atuam no combate ao fogo e sobrevoavam a região decidiram adiar a ação em virtude da baixa visibilidade.
“Os sistemas de monitoramento com IA do sistema Pantera, que tem a central aqui na sede do IHP e funciona com parceria da Um Grau e Meio, dependem de algumas manutenções pontuais e por conta da intensidade dos incêndios ia ser feito esse trabalho com apoio de helicóptero da Marinha. Porém, quando a equipe já estava perto da Serra do Amolar, a 1 mil metros de altura, só tinha um mar de fumaça muito densa, algo que não dava visibilidade alguma”, relata o analista de sistemas do IHP, Igor Souza.
Além da Brigada Alto Pantanal, o combate às chamas é feito por equipes do Ibama, ICMbio e brigadistas da aldeia indígena Guató.
Em nota, o governo estadual afirmou que equipes do Corpo de Bombeiros também atuam na região. Dados divulgados apontam que 13.582 focos de incêndios foram detectados via satélite entre 1º de janeiro e 15 de outubro deste ano em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
A área queimada nos dois estados, no mesmo período, totaliza 2,5 milhões de hectares, segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ao todo, o Pantanal possui 9 milhões de hectares e abrange Brasil, Paraguai e Bolívia.
Retorno do fogo
O fogo no Pantanal retorna em outubro após temporada de incêndios ocorrida nos meses de junho e setembro deste ano.
Em setembro, Mato Grosso do Sul também enfrentou focos de incêndios que chegaram a atingir 32 dos 79 municípios do estado. Os biomas Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal foram afetados.
Em junho, 12 cidades decretaram situação de emergência por causa dos incêndios florestais. Entre elas, Corumbá, Porto Murtinho e Jateí.
Outro episódio ocorrido no mês de junho viralizou nas redes sociais e ficou conhecido como “Muralha de fogo”. A imagem (veja abaixo) foi registrada durante as festividades de São João, em Corumbá, e mostra muralha de fogo de grandes proporções.
No último dia 10, o Ibama multou em R$50 milhões um homem suspeito de ter provocado as chamas. Sete pessoas da mesma família são investigadas pela Polícia Federal. Segundo a investigação, a família explora ilegalmente a região para a criação de gado. Os suspeitos queimaram uma área de 6.550 hectares em território brasileiro para abrir a pastagem para a criação de gado.
Seca severa
A escassez de chuvas e os incêndios registrados no bioma têm causado a seca mais severa ja enfrentada pelo Pantanal. O nível do rio Paraguai chegou à pior marca na terça-feira (15), atingindo -67 cm.
O difícil acesso ao local do incêndio que segue nesta quinta-feira (17) é outro fator que dificulta o trabalho das equipes. O deslocamento à região da Barra do São Lourenço é feito de barco, em uma viagem que dura 24 horas, ou de avião.
O chefe da brigada Alto Pantanal, Manoel Garcia, relatou a dificuldade enfrentada para combater o fogo.
“Nas condições em que os incêndios se apresentam é impossível do ser humano combater diretamente. A linha de fogo é muito grande, o vento faz o fogo mudar de direção toda hora. Por isso, a opção é proteger as vidas, fazer aceiros para a comunidade”, relata.
A extensão do fogo chegou a atingir uma linha contínua de 40 Km, segundo informou o IHP.
As chamas também aumentam a preocupação das autoridades porque se aproximam do Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense.
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