03/07/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

Algumas áreas do Pantanal podem ter perda irreversível, diz presidente do Ibama

Sob coordenação dos bombeiros de MS, Força Nacional atua no combate ao fogo na região

Publicado em 01/07/2024 11:56 - Thiago Resende (TV Globo), Semana On – Edição Semana On

Divulgação Gov MS

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O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse que algumas áreas do Pantanal poderão ter perdas irreversíveis. A região bateu recorde de queimadas nesse ano. Em entrevista ao G1 e à TV Globo, ele afirmou ainda que o instituto prevê que a seca no bioma se estenderá até o fim do ano.

“A natureza volta em muitas áreas depois de desastres como esse. [Mas] em alguns lugares a perda é significativa. Em alguns lugares pode ser, inclusive, irreversível. A gente está muito assustado em ver, pelo sexto ano seguido, o Pantanal sem o período de cheias”, declarou.

Já são quase 700 mil hectares queimados, em 2024, no Pantanal. Quase 5% de todo o bioma.

O governo tem dito que o recorde de queimadas no Pantanal é provocado por uma conjunção de fatores, mas principalmente pela seca extrema na região, registrada antes do período considerado normal para a estiagem.

“A seca começou três meses antes, mas não existe nenhuma evidência de que provavelmente ela termine três meses antes. Então, de fato, a gente vai ter que trabalhar com o pior cenário, que é o cenário de uma seca até o final do ano”, disse o presidente do Ibama.

A força tarefa que atua no Pantanal identificou áreas onde os incêndios podem ter começado. “Algo em torno de 18 a 19 propriedades”, anunciou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na sexta-feira (28).

Para Agostinho, é possível que uma parte dos focos de incêndio que originaram o desastre no bioma tenha sido provocada por criminosos.

“Eu não descarto que algumas dessas áreas onde o fogo começou tenha sido fogo para limpeza dos restos vegetais que ficam depois do desmatamento. Tudo isso está sendo investigado e, se a gente encontrar responsáveis por esse fogo, essas pessoas responderão criminalmente. A Polícia Federal foi acionada e já abriu um inquérito de investigação”, afirmou.

Desmatamento no Pantanal

Vídeos feitos por moradores da cidade de Corumbá (MS) na sexta-feira (28) mostram uma densa fumaça dos incêndios no Pantanal sobre a cidade, que concentra o maior número de focos de incêndios no Brasil, segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) .

“A gente também não descarta a situação de fogo criminoso. […] Corumbá foi justamente a cidade que liderou o desmatamento do Pantanal nos últimos dois anos”, lembrou o presidente do Ibama.

Agostinho ainda não tem dados para dar a dimensão da devastação na região. Somente no ano passado, o Inpe passou a monitorar o bioma em tempo real.

Para ele, uma das formas de impedir que novos desastres no Pantanal ocorram futuramente é acabar com o desmatamento. “É uma meta importante que a gente vai perseguir com muita ação de fiscalização”, disse.

Alertas de seca

As chuvas já haviam ficado abaixo da média histórica do Pantanal desde maio do ano passado. O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) chegou a apresentar um relatório alertando sobre a escassez na região.

Isso gerou críticas à reação do governo diante da crise.

Agostinho disse que, ainda no começo do ano passado, foi elaborado um plano de prevenção e combate aos incêndios florestais no Pantanal.

“A gente fez, sim, as ações preventivas, agora a gente não tem como prever onde é que alguém vai colocar fogo, em que direção nós teremos essas chamas, o tempo todo os ventos mudam de direção”, respondeu, lembrando das investigações sobre incêndios provocados por ação humana.

Força Nacional já atua no combate ao fogo no Pantanal

Os 82 militares da Força Nacional já estão em campo auxiliando os combates aos incêndios florestais no Pantanal sul-mato-grossense. Coordenados pelo Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, 16 deles avançaram à noite de sábado (29) combatendo as chamas em uma fazenda de Corumbá.

Nessa ação, foram empregados 25 homens entre Força Nacional e militares do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul. Coube ao subtenente Edraudino Pereira Lúcio comandar a operação ao longo da tarde.

Enquanto militares da Força Nacional chegavam à propriedade, no horário do almoço, bombeiros de Mato Grosso do Sul já combatiam outro foco na mesma fazenda. Em seguida, juntos, bombeiros sul-mato-grossenses e de outros estados iniciaram o enfrentamento ao outro incêndio, maior, que se estenderia noite adentro.

Eles usaram kit pick-up, abafadores e sopradores. A redução da temperatura, mais uma vez nesta semana, favoreceu o combate. Para o subtenente Edraudino, o reforço foi bem-vindo nesse momento em que o bioma enfrenta uma situação de seca severa, que torna o ambiente mais suscetível às queimadas descontroladas.

“Na verdade, todas as forças que estão chegando para cá fazem uma grande diferença. Esse efetivo da Força Nacional, mais o investimento que está sendo feito na parte das aeronavea para ajudar no combate, só vem a agregar e fortalecer a capacidade que nós teremos de controlar esses incêndios”, disse.

Pela 1ª vez, aeronave com 12 mil litros será usada no Pantanal: governo garante que não faltarão recursos

Após sobrevoar o Pantanal sul-mato-grossense, o governador Eduardo Riedel e as ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) anunciaram, na sexta-feira (28), a chegada da aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) KC-390 Millennium, com capacidade de 12 mil litros, a mobilizacão de 280 pessoas do governo federal, do Ibama e do ICMbio, e o reforço de 82 militares da Força Nacional para os combates aos incêndios florestais no bioma.

Na ocasião, Simone Tebet garantiu que não vai faltar orçamento do governo federal para a guerra contra o fogo e o governador Eduardo Riedel defendeu o uso eficiente dos recursos e elogiou a celeridade no envio de tropas da Força Nacional e na preparação do KC-390, “um dos maiores aviões do mundo”, para vir a Mato Grosso do Sul.

“Em 6 horas eles prepararam o avião para estar aqui hoje. Se você ver, o que é a tecnologia envolvida. Fizeram o que leva 15 ou 12 horas, atravessaram a madrugada para estar pronto aqui hoje. A resposta está sendo absolutamente imediata”, disse Eduardo Riedel.

Ambas as ministras elogiaram o planejamento, a organização e a antecipação do Governo de Mato Grosso do Sul que, em parceria com órgãos do governo federal e das brigadas, impediram um avanço ainda maior das queimadas, diante do cenário de escassez hídrica e seca severa.

“Ainda bem que temos um governador que foi previdente e fez uma lei, que planejou e se articulou, conjuntamente com o governo federal, para que agora tivéssemos capacidade de pronta resposta”, afirmou Marina Silva. Ela fez ainda um apelo para que pessoas parem de colocar fogo no Pantanal, destacando que a maior parte dos incêndios são registradas em propriedades privadas.

A ministra do Meio Ambiente lembrou ainda que é a primeira vez que a aeronave KC-390 Millennium irá atuar no Pantanal. A princípio, o cargueiro ficará em Mato Grosso do Sul até o dia 7 de julho.

Já Simone Tebet destacou a antecipação do Governo de Mato Grosso do Sul e a união de esforços para enfrentar o problema.

“Desde o ano passado, o governador de Mato Grosso do Sul nos acionou e nos cobrou, porque é esse o papel dele, e ele disse: ‘nós precisamos resolver o problema do Pantanal porque o que vem pela frente é infinitamente maior do que aconteceu no passado’. Foi criado um grupo de trabalho em setembro de 2023. Eu estava em Brasília neste dia, com a presença do governador, com a presença da Marina, e eu quero reconhecer que isso que nós estamos vendo aqui, nós queremos para o Brasil inteiro. Estamos falando de um governador que é, a princípio, da base da oposição, mas reconheceu, ao lado da ministra Marina, a importância de trabalhar juntos”, disse.

Ela também afirmou que não faltarão recursos para os combates aos incêndios.

Desde o início das operações em 2 de abril de 2024, mais de 400 bombeiros militares foram mobilizados, além de sete aeronaves, incluindo helicópteros e aeronaves Air Tractor, que são aviões com capacidade de transportar água para ser usada no combate aos incêndios.


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