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Cultura e Entretenimento

Véspera: um livro forte. Despretensiosamente, testa os papéis familiares

Publicado em 01/04/2022 12:00 -

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(Aviso: este texto contém spoilers)

Uma das melhores obras lançadas em 2021, “Véspera” é o terceiro livro da escritora mineira Carla Madeira. Madeira é a autora do sucesso “Tudo é Rio” e o lançamento era muito aguardado pelos leitores. Valeu a pena. “Véspera” é igualmente forte, instigante, vibrante, dentro da sua casa e surpreendente.

“Véspera” narra a relação de uma mãe de gêmeos, Custódia, que teve seus filhos registrados com os nomes Caim e Abel como uma infeliz brincadeira do marido e pai das crianças, Antunes Filho. Tônico, como era conhecido, fez a brincadeira para se vingar da esposa muito católica, mas pouco carinhosa. Eles poderiam se amar enquanto casal. Poderiam. Quase se amaram. Mas por umas e outras, o amor apenas era demonstrado em situações específicas.

Custódia é uma mãe super protetora que tenta igualar os gêmeos em tudo: roupas, cortes de cabelo, escolas, oportunidades e viagem. Mas as pessoas não são iguais. Nem os gêmeos. Na verdade, irmãos podem ser quase antagônicos e não se pode afirmar o quanto Custódia contribuiu para os destinos de Caim e Abel.

Um se tornou atlético, carismático, atraente e destaque escolar. O outro não. E isso o fez se voltar para si mesmo de uma forma ruim, egoísta, medrosa, forjando um caráter doentio. Abel acaba se casando com Vedina, melhor amiga de sua cunhada, grande obsessão e vítima de abuso, Veneza.

Provavelmente, o ato limite de Vedina, que inicia e encerra o livro, seja consequência da relação com alguém tão doentio como Abel. Porém, quem há de julgar uma mãe no limite de sua relação com o marido? Uma mãe que ama demais, alguém no amargor de sua solidão, com um marido que não entrou nas brechas da vida para ser feliz? O que podia ser feito? E o que não poderia ser feito?

O livro também traz verdadeiros tratados de sabedoria, faz uma reflexão sobre histórias bíblicas de forma instigante e faz um convite para crítica a cada capítulo. O livro é fabuloso, é formidável e vale muito a pena. Cuidado para não se identificar demais com as mazelas desse ou daquele personagem.

Rodrigo Pael é jornalista e professor


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